quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Apenas os biólogos e ecologistas não toparão essa idéia

Moro num condomínio de casas em Lauro de Freitas que não tinha problemas com muriçocas ou pernilongos. Nossos problemas – se é que posso chamar de problemas – eram com grilos, sapos e corujas que ainda resistiam à invasão do homem (nós).

Só que do verão passado (2008) para cá, uma invasão de muriçocas começou a perturbar nossas vidas. Mais precisamente em janeiro do ano passado (há um ano) me vi matando, sozinho, mais de 50 delas no meu quarto. Eram tantas muriçocas mortas que as paredes estavam pichadas de sangue e o chão empestado de formigas recolhendo os corpos das danadas.

Claro que eu não ganhei aquela batalha. Quanto mais matava muriçoca, mas elas apareciam. Parecia que havia uma fila indiana interminável fora de minha casa. Desisti e tentei dormir me cobrindo dos pés à cabeça. Só ficou de fora a ponta do nariz, que, inevitavelmente, foi picada.

Acordei decidido a mudar a situação. Revesti de tela toda entrada possível de insetos voadores. As portas e janelas foram totalmente recoberta por tela branca ou verde. A casa ficou um horror, o que rendeu sérias brigas com minha esposa. Mas, o que contou no final foi a redução do número de ocorrências noturnas.

Não satisfeito, abri mão dos detalhes do telhado colocando um forro que, apesar de não muito bonito (feio), impediu completamente a entrada das draconianas. O resultado foi mais bloqueio contra as muriçocas e uma casa quente e feia. Mas, a batalha ainda estava sendo perdida. Noites e noites de terror matando e sendo vítima das muriçocas.

Neste verão a coisa se intensificou e o desespero bateu à porta. Tentei de tudo: besuntei noturnamente minha família com as mais diversas fórmulas (comerciais ou não) de repelentes; coloquei o ventilador no mais veloz; plantei citronela no jardim; incensei a casa com diversos aromas. Só que a batalha ainda estava sendo perdida até que apareceu a raquete elétrica.

Invenção da década, essa raquete elétrica. Meu vizinho comprou e eu, invejosamente, comprei rapidamente as minhas. Duas é claro! Para não dar briga, pois o produto é bom demais. Além de ser divertido e vingativo ficar dando choques nas muriçocas, é bastante eficaz.

Na primeira noite foi uma festa. Matamos todas que tinham, umas cem. Ficamos tão empolgados que chegamos a fazer um campeonato caseiro. Na terceira noite já sentimos uma queda no número de muriçocas mortas. Tivemos que ampliar nossa área de atuação. Na semana seguinte chegamos a deixar as janelas e portas abertas, na esperança que uma muriçoca aparecesse para nos fazer a festa. Essa semana está sendo um tédio e já estamos brigando para ver quem mata a muriçoca desavisada que resolve aparecer.

A muriçoca morre com um choque elétrico parecido com o que se dá aos prisioneiros condenados à morte nos EUA (veja nesse link), só que nas devidas proporções. Primeiro se eletrifica a parte metálica da raquete.
Depois acerta a muriçoca voando ou pousada, ocorrendo um estralo e uma faísca. Depois sobe um cheiro de cabelo queimado. Por fim, vem uma sensação de vingança e sadismo. É muito bom! Só que vicia.

Já fiz vários cálculos e chequei à conclusão que se o governo/prefeitura desse uma raquete elétrica para cada família, o problema da dengue acabaria. Numa simulação simples eu demonstro isso: uma raquete mata em média 50 muriçocas por dia. Em Lauro de Freitas temos em torno de 30 mil famílias. O que corresponde a 1,5 milhão de muriçocas mortas todos os dias. Se cada muriçoca pesar 1 grama, é uma tonelada e meia de muriçocas mortas diariamente.

Como cada raquete custa em torno de 10 reais, o investimento é de apenas 300 mil reais. Esse investimento é nada se comparado com os gastos com agentes de combate às endemias, carros, inseticidas, hospital etc.

Apenas os biólogos e ecologistas não toparão essa idéia.

domingo, 25 de janeiro de 2009

O discurso de Obama

Nesta semana que passou, o fato mais importante foi, com certeza, a posse de Barack Obama. Como não pude assistir pela televisão, pesquisei na internet o seu discurso e encontrei no G1 a tradução feita por Luiz Marcondes, a qual transcrevo a seguir.

"Meus concidadãos: estou aqui na frente de vocês me sentindo humilde pela tarefa que está diante de nós, grato pela confiança que depositaram em mim e ciente dos sacrifícios suportados por nossos ancestrais. Agradeço ao presidente Bush por seu serviço à nação, assim como também pela generosidade e cooperação que ele demonstrou durante esta transição.
Quarenta e quatro americanos já fizeram o juramento presidencial. As palavras já foram pronunciadas durante marés crescentes de prosperidade e nas águas tranqüilas da paz. Ainda assim, com muita freqüência o juramento é pronunciado em meio a nuvens que se aproximam e tempestades ferozes. Nesses momentos, a América seguiu em frente não apenas devido à habilidade e visão daqueles em posição de poder, mas porque Nós, o Povo, continuamos fiéis aos ideais de nossos fundadores e aos documentos de nossa fundação.
Tem sido assim. E assim deve ser com esta geração de americanos.
Que estamos no meio de uma crise agora já se sabe muito bem. Nossa nação está em guerra contra uma extensa rede de ódio e violência. Nossa economia está muito enfraquecida, uma conseqüência da ganância e irresponsabilidade por parte de alguns, mas também de nossa falha coletiva em fazer escolhas difíceis e em preparar a nação para uma nova era. Lares foram perdidos; empregos cortados; empresas fechadas. Nosso sistema de saúde é caro demais; nossas escolas falham demais; e cada dia traz mais provas de que a maneira como utilizamos energia fortalece nossos adversários e ameaça nosso planeta.
Esses são os indicadores da crise, sujeitos a dados e estatísticas. Menos mensurável, mas não menos profunda é a erosão da confiança em todo nosso país – um medo persistente de que o declínio da América seja inevitável e de que a próxima geração tenha que baixar suas expectativas. Hoje, eu digo a você que os desafios que enfrentamos são reais. Eles são sérios e são muitos. Eles não serão encarados com facilidade ou num curto período de tempo. Mas saiba disso, América – eles serão encarados. Neste dia, nos reunimos porque escolhemos a esperança no lugar do medo, a unidade de propósito em vez do conflito e da discórdia.

Neste dia, nós viemos proclamar um fim aos conflitos mesquinhos e falsas promessas, às recriminações e dogmas desgastados que por muito tempo estrangularam nossa política. Ainda somos uma nação jovem, mas, nas palavras da Escritura, chegou a época de deixar de lado essas coisas infantis. Chegou a hora de reafirmar nosso espírito de resistência para escolher nossa melhor história; para levar adiante o dom preciso, a nobre idéia passada de geração em geração: a promessa divina de que todos são iguais, todos livres e todos merecem buscar o máximo de felicidade.

Ao reafirmar a grandeza de nossa nação, compreendemos que a grandeza nunca é dada. Ela deve ser conquistada. Nossa jornada nunca foi feita por meio de atalhos ou nos contentando com menos. Não foi um caminho para os de coração fraco – para aqueles que preferem o lazer ao trabalho, ou que buscam apenas os prazeres da riqueza e da fama. Em vez disso, foram aqueles que se arriscam, que fazem, que criam coisas – alguns celebrados mas com muito mais freqüência homens e mulheres obscuros em seu trabalho, que nos levaram ao longo do tortuoso caminho em direção à prosperidade e à liberdade.

Foi por nós que eles empacotaram suas poucas posses materiais e viajaram pelos oceanos em busca de uma nova vida. Foi por nós que eles trabalharam nas fábricas precárias e colonizaram o Oeste; suportaram chicotadas e araram terra dura. Foi por nós que eles lutaram e morreram em lugares como Concord e Gettysburg; Normandia e Khe Sahn. Muitas e muitas vezes esses homens e mulheres se esforçaram e se sacrificaram e trabalharam até que suas mãos ficassem arrebentadas para que nós pudéssemos viver uma vida melhor. Eles viram a América como sendo algo maior do que a soma de nossas ambições individuais; maior do que todas as diferenças de nascimento ou riqueza ou facção.

Esta é uma jornada que continuamos hoje. Nós ainda somos a mais próspera e poderosa nação da Terra. Nossos trabalhadores não são menos produtivos do que quando esta crise começou. Nossas mentes não são menos inventivas, nossos produtos e serviços não são menos necessários do que eram na semana passada ou no mês passado ou no ano passado. Nossa capacidade permanece inalterada. Mas nossa época de proteger patentes, de proteger interesses limitados e de adiar decisões desagradáveis – essa época com certeza já passou. A partir de hoje, temos de nos levantar, sacudir a poeira e começar de novo o trabalho para refazer a América.

Porque, em todo lugar que olhamos, há trabalho a ser feito. O estado da economia pede ação ousada e rápida, e nós iremos agir – não apenas para criar novos empregos, mas para estabelecer uma nova fundação para o crescimento. Iremos construir as estradas e as pontes, as linhas elétricas e digitais que alimentam nosso comércio e nos unem. Iremos restaurar a ciência a seu lugar de direito e utilizaremos as maravilhas tecnológicas para melhorar a qualidade da saúde e diminuir seus custos. Nós iremos utilizar a energia do sol e dos ventos e do solo para impulsionar nossos carros e fábricas. E iremos transformar nossas escolas e faculdades para que eles estejam à altura dos requisitos da nova era. Nós podemos fazer tudo isso. E nós faremos tudo isso.

Agora, existem algumas pessoas que questionam a escala de nossas ambições – que sugerem que nosso sistema não pode tolerar muitos planos grandiosos. A memória dessas pessoas é curta. Porque eles esquecem do que este país já fez; do que homens e mulheres livres pode conquistar quando a imaginação se une por um propósito comum e a necessidade se junta à coragem.

O que os cínicos não compreendem é que o contexto mudou totalmente – que os argumentos políticos arcaicos que nos consumiram por tanto tempo já não se aplicam. A questão que lançamos hoje não é se nosso governo é grande ou pequeno demais, mas se ele funciona – se ele ajuda famílias a encontrar trabalho por um salário justo, seguro-saúde que possam pagar, uma aposentadoria digna. Se a resposta for sim, iremos adiante. Se for não, programas acabarão. E aqueles dentre nós que gerenciam o dólar público serão cobrados – para que gastem de forma inteligente, consertem maus hábitos e façam seus negócios à luz do dia – porque só então conseguirmos restabelecer a confiança vital entre as pessoas e seu governo.

Nem a questão diante de nós é se o mercado é uma força positiva ou negativa. Seu poder para gerar riqueza e expandir a liberdade não tem paralelo, mas esta crise nos lembrou de que, sem um olho vigilante, o mercado pode perder o controle – e a nação não pode mais prosperar quando favorece apenas os prósperos. O sucesso de nossa economia sempre dependeu não apenas do tamanho de nosso Produto Interno Bruto, mas do alcance de nossa prosperidade; em nossa habilidade de estender a oportunidade a todos os corações que estiverem dispostos – não por caridade, mas porque esta é a rota mais certa para o bem comum.

Quanto à nossa defesa comum, nós rejeitamos como falsa a escolha entre nossa segurança e nossos ideais. Os Fundadores de Nossa Nação, que encararam perigos que mal podemos imaginar, esboçaram um documento para assegurar o governo pela lei e os direitos dos homens, expandidos pelo sangue das gerações. Esses ideais ainda iluminam o mundo, e nós não desistiremos deles por conveniência. Assim, para todos os outros povos e governos que estão assistindo hoje, da maior das capitais à pequena vila onde meu pai nasceu: saibam que a América é amiga de cada nação e de todo homem, mulher e criança que procura um futuro de paz e dignidade, e que estamos prontos para liderar mais uma vez.

Lembrem-se de que gerações que nos antecederam enfrentaram o fascismo e o comunismo, não apenas com mísseis e tanques, mas com alianças robustas e convicções duradouras. Eles compreendiam que o poder sozinho não pode nos proteger e nem nos dá o direito de fazer o que quisermos. Em vez disso, eles sabiam que nosso poder cresce pro meio de sua utilização prudente; nossa segurança emana da justiça de nossa causa, da força do nosso exemplo, das qualidades temperantes da humildade e do auto-controle.

Somos os guardiões desse legado. Mais uma vez, guiados por esses princípios, podemos encarar essas novas ameaças, que exigem esforços ainda maiores – ainda mais cooperação e compreensão entre nações. Nós começaremos a deixar o Iraque para seu povo de forma responsável, e forjaremos uma paz conquistada arduamente no Afeganistão. Com velhos amigos e ex-inimigos, trabalharemos incansavelmente para diminuir a ameaça nuclear e afastar a ameaça de um planeta cada vez mais quente. Nós não iremos nos desculpar por nosso estilo de vida, nem iremos vacilar em sua defesa, e para aqueles que buscam aperfeiçoar sua pontaria induzindo terror e matando inocentes, dizemos a vocês agora que nosso espírito não pode ser quebrado; vocês não podem durar mais do que nós, e nós iremos derrotá-los.

Porque nós sabemos que nossa herança multirracial é uma força, não uma fraqueza. Somos uma nação de cristãos e muçulmanos, judeus e hindus – e de pessoas que não possuem crenças. Nós somos moldados por todas as línguas e culturas, trazidas de todos os confins da terra; e porque já experimentamos o gosto amargo da Guerra Civil e da segregação e emergimos desse capítulo sombrio mais fortes e mais unidos, não podemos evitar de acreditar que os velhos ódios um dia irão passar; que as linhas que dividem tribos em breve irão se dissolver; que, conforme o mundo fica menor, nossa humanidade em comum irá se revelar; e que a América deve desempenhar seu papel nos conduzir a essa nova era de paz.

Para o mundo muçulmano, nós buscamos uma nova forma de evoluir, baseada em interesses e respeito mútuos. Àqueles líderes ao redor do mundo que buscam semear o conflito ou culpar o Ocidente pelos males da sociedade – saibam que seus povos irão julgá-los pelo que podem construir, não pelo que podem destruir.
Àqueles que se agarram ao poder pela corrupção, pela falsidade, silenciando os que discordam deles, saibam que vocês estão no lado errado da história; mas nós estenderemos uma mão se estiverem dispostos a abrir seus punhos. Às pessoas das nações pobres, nós juramos trabalhar a seu lado para fazer com que suas fazendas floresçam e para deixar que fluam águas limpas; para nutrir corpos esfomeados e alimentar mentes famintas. E, para aqueles cujas nações, como a nossa, desfrutam de relativa abundância, dizemos que não podemos mais tolerar a indiferença ao sofrimento fora de nossas fronteiras; nem podemos consumir os recursos do mundo sem nos importar com o efeito disso. Porque o mundo mudou, e nós temos de mudar com ele.
Enquanto pensamos a respeito da estrada que agora se estende diante de nós, nos lembramos com humilde gratidão dos bravos americanos que, neste exato momento, patrulham desertos longínquos e montanhas distantes. Eles têm algo a nos contar hoje, do mesmo modo que os heróis que tombaram em Arlington sussurram através dos tempos. Nós os honramos não apenas porque são os guardiões de nossa liberdade, mas porque eles personificam o espírito de servir a outros; uma disposição para encontrar um significado em algo maior do que eles mesmos.
E ainda assim, neste momento – um momento que irá definir nossa geração – é exatamente esse espírito que deve estar presente em todos nós. Por mais que um governo possa e deva fazer, é em última análise na fé e na determinação do povo americano que esta nação confia. É a bondade de acolher um estranho quando as represas arrebentam, o desprendimento de trabalhadores que preferem diminuir suas horas de trabalho a ver um amigo perder o emprego que nos assistem em nossas horas mais sombrias. É a coragem de um bombeiro para invadir uma escadaria cheia de fumaça, mas também a disposição de um pai para criar uma criança que finalmente decidem nosso destino. Nossos desafios podem ser novos. Os instrumentos com os quais as enfrentamos podem ser novos. Mas os valores dos quais nosso sucesso depende – trabalho árduo e honestidade, coragem e fair play, tolerância e curiosidade, lealdade e patriotismo –, essas cosias são antigas. Essas coisas são verdadeiras. Elas foram a força silenciosa do progresso ao longo de nossa história. O que é exigido então é um retorno a essas verdades.
O que é pedido a nós agora é uma nova era de responsabilidade – um reconhecimento por parte de todo americano, de que temos deveres para com nós mesmos, nossa nação e o mundo, deveres que não aceitamos rancorosamente, mas que, pelo contrário, abraçamos com alegria, firmes na certeza de que não há nada tão satisfatório para o espírito e que defina tanto nosso caráter do que dar tudo de nós mesmos numa tarefa difícil. Esse é o preço e a promessa da cidadania. Essa é a fonte de nossa confiança – o conhecimento de que Deus nos convoca para dar forma a um destino incerto. Esse é o significado de nossa liberdade e nosso credo – o motivo pelo qual homens e mulheres e crianças de todas as raças e todas as fés podem se unir em celebração por todo este magnífico local, e também o porquê de um homem cujo pai a menos de 60 anos talvez não fosse servido num restaurante local agora poder estar diante de vocês para fazer o mais sagrado juramento. Por isso, marquemos este dia relembrando quem somos e o quanto já viajamos.
No ano do nascimento da América, no mês mais frio, um pequeno grupo de patriotas se reuniu em torno de fogueiras quase apagadas nas margens de um rio gélido. A capital foi abandonada. O inimigo avançava. A neve estava manchada de sangue. No momento em que o resultado de nossa revolução estava mais incerto, o pai de nossa nação ordenou que estas palavras fossem lidas ao povo: “Que seja contado ao mundo futuro... Que no auge de um inverno, quando nada além de esperança e virtude poderiam sobreviver... Que a cidade e o país, alarmados com um perigo em comum, se mobilizaram para enfrentá-lo.

América. Diante de nossos perigos em comum, neste inverno de nossa dificuldades, deixe-me lembrá-los dessas palavras imortais. Com esperança e virtude, vamos enfrentar mais uma vez as correntes gélidas e suportar as tempestades que vierem. Que os filhos de nosso filhos digam que, quando fomos colocados à prova, nós nos recusamos a deixar esta jornada terminar, que nós não demos as costas e nem hesitamos; e com os olhos fixos no horizonte e com a graça de Deus sobre nós, levamos a diante o grande dom da liberdade e o entregamos com segurança às gerações futuras.”

sábado, 17 de janeiro de 2009

Saudações a quem tem coragem

Como vai minha vida? Essa é uma pergunta que devemos fazer de vez em quando. A resposta nunca é tão simples quanto a pergunta. Concorda? Talvez, porque ficamos complicando na resposta ao misturá-la com a de outra pergunta: como deveria ir minha vida? A resposta desta última é mais simples, pois sonhamos mais que realizamos.

Alimento, todos os desejos da minha imaginação. Deixo-a livre. E ela vai longe. Fácil ir quando não se tem de andar. Mas, como exorcizo as minhas fantasias? Como faço isso, se todo mundo tem um pouco de medo da vida. Não acha?

O certo era não perder tempo. A vida passa muito rápido. Deixo de curtir alguma coisa e já era. Passou. Então, pra que perder tempo desperdiçando emoções? Cair fundo. Arrebentar-se. Mas, depois levantar. Grilar com pequenas provocações? Nada disso. O que importa é só coisa grande. Ataco de frente os meus desafios, se for preciso. No final do dia sou eu quem escolho e faço os meus inimigos.

Na vida existem heróis, aquelas pessoas que têm coragem. Saudações, a quem tem coragem! Às pessoas que não se escondem. Aos que tão aqui pra qualquer viagem. Esses são os que desafiam, descobrem, curam, ajudam, amam e revolucionam. A vida passa tão rápido. Pra que ficar esperando a felicidade se esta é um estado imaginário.

Vangloriar conquistas pode ser necessário. Porém, não penso em tudo que já fiz. Olhar pra frente é mais importante. Mas, não esqueço de quem um dia amei. Mesmo que esse amor tenha acabado em conflito. Eu desprezo muitas coisas, mas nunca os amores da vida. São eles que me ajudarão atravessar os dias cinzentos, a me levar mais longe. Com eles, eu aproveito pra sonhar, enquanto é tempo.

Na vida também tem trabalho. Muito trabalho. Eu rasgo o couro com os dentes pra dá conta. Peito as situações difíceis. Enfrento obstáculos, meus medos. Passo por cima de quem não quer ajudar, mas beijo uma flor sem machucar. As pessoas querem sempre ter e impor razão. As minhas verdades eu invento sem medo. O importante é conciliar, sem abrir mão dos sonhos. Eu faço de tudo pelos meus desejos.

Pense bastante, o quando puder. Enquanto viver, também dance.
Pense e dance
Barão Vermelho

domingo, 11 de janeiro de 2009

O resgate de Batman

Numa noite nebulosa, na Cidade Maravilhosa, a Liga da Justiça se reúne para mais uma de suas aventuras. Estavam todos lá. Todos menos um: Batman. Sentados ou em pé, estavam Superman, Mulher Maravilha, Aquaman, Lanterna Verde, Flash, Caçador de Marte, Canário Negro e Arqueiro Verde. Surperman abre a reunião:
- Companheiros. Hoje temos que finalizar nosso plano de resgatar o Batman. Todos nós tivemos algumas atividades e gostaria que vocês relatassem cada uma delas.
- No meu caso, foi muito fácil. Disse a Mulher Maravilha. Com meus dotes femininos implantei um aparelho radiocomunicador (celular) nas dependências onde se encontra o Batman. O resultado é que temos contato com ele a qualquer hora.
- Maravilha, mulher. Aliás: Mulher Maravilha! Exclamou Lanterna Verde.
Caçador de Marte tomou a frente e disse:
- Fiz a arrecadação necessária para poder financiar nosso plano. Tive que jogar um pouco duro com o pessoal, mas todos contribuíram direitinho. O dinheiro já foi empregado.
- Ótimo! Exclamação geral.
- Neste caso, usei parte da grana para pagar os informantes internos da organização opressora que ajudarão no resgate de nosso companheiro. Confirma Flash.
- Também adaptei a máquina (caro) para a fuga e comprei novos uniformes. Complementa Arqueiro Verde. Vocês sabem que o disfarce é a alma de nosso negócio?
Todos concordaram veementes.
- Os circuitos de segurança também já estão comprometidos. Disse Aquaman. Com os meus super poderes, molhei a mão dos técnicos de manutenção que desligarão os alarmes e as câmeras.
- Perfeito! Geral.
- Já preparei o aparelho (esconderijo super secreto) e os mantimentos para que nosso Companheiro fique fora de cena até que essa maré passe. Informa Canário Negro. E você Superman, fez o combinado?
- Também não tive dificuldade com o prefeito e governador, que são nossos aliados. Quanto aos deputados, estes só andam na base do estímulo. Tive que distribuir alguns dos meus super favores. Desta maneira, concluo que tudo está pronto para libertamos Batman.

No dia 28 de outubro de 2008, às 6 horas e 38 minutos, Batman escapa do presídio Bangu 8, pela porta da frente, escoltado por dois homens com uniformes do Grupo de Intervenções Táticas (GIT) da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap). Um dos homens que resgatou o preso identificou-se na portaria com o nome e matrícula de um agente penitenciário.

Ainda essa semana, escutei uma notícia que a polícia está preparando uma mega operação para prender Batman e desbaratar a Liga da Justiça. Será?

Fico pensando como é que minha filha vai entender esse negócio todo. Pela manhã ela assiste Batman prendendo Curinga. À tarde ela vê a Liga da Justiça, comandada pelo Superman, resolvendo todos os problemas da humanidade. À noite ela pira vendo que todos eles estavam, estão ou estarão atrás das grades. Algum dia ela vai chegar em prantos e me dizer: papai, prenderam a Barbie e a Susie está foragida.

Ps. Batman é o ex-PM Ricardo Carvalho dos Santos e é integrante da Liga da Justiça, que é uma milícia carioca, formada policiais e atua na área de Campo Grande. O grupo é “supostamente” liderado pelo deputado estadual Natalino Guimarães (DEM) e seu irmão, o vereador Jerominho (PMDB). A Liga da Justiça explora serviços clandestinos de segurança, transporte alternativo, distribuição de gás e venda de sinal de TV a cabo. Segundo a polícia, o grupo arrecada mensalmente a bagatela de R$2 milhões com a cobrança de serviços clandestinos.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Promessas ao Santo Shultz

Após a festa do Ano Novo, mas especificamente nesta semana, 5564 prefeitos eleitos assumem seus cargos nos municípios brasileiros. Com eles, 52 mil vereadores também integram às câmaras de vereadores. O mote das discussões, sem sombra de dúvida, são promessas feitas durante a campanha e que devem tomar vez (corpo, peso e conteúdo) nas prioridades de cada município.

Promessa é algo que fazemos no presente, em virtude de um benefício, para ser cumprido ou pago no futuro. A promessa consiste em, primeiro, um juramento (semelhante a um contrato), depois, um benefício (a graça a ser alcançada), e, por último, um sacrifício (a ser realizado em função da graça alcançada). Por exemplo, é bastante comum fazer promessa a um santo em ajuda a um parente necessitado. Uma vez recuperado o parente, quem fez a promessa tem de cumprí-la. Quem não se lembra de Zé do Burro, em “O Pagador de Promessas”, de Dias Gomes? Quem vai à Juazeiro do Norte (Ceará) fica encantado e impressionado com a quantidade de objetos deixados nas dependências da estátua do padre Cícero, em virtude do cumprimento de uma promessa. O mesmo acontece na gruta de Bom Jesus da Lapa (Bahia) e em todos os outros lugares de grande romaria.

O contrário também pode acontecer. Primeiro o sacrifício para, depois, o benefício. Esta ordem é mais comum em promessas cujos pressupostos não são religiosos. Diria que até, aquelas promessas que, no fundo, têm fundamento econômico. Os exemplos são muitos. Um casal se promete curtir férias na Europa e, para isso, tem que poupar uma determinada quantia por mês. As férias em si, já é o benefício futuro de um ano de trabalho. Se não quisermos fazer promessas para padre Cícero, podemos pagar um plano de saúde com a promessa de que, se ficarmos doentes, teremos um bom atendimento médico-hospitalar.

Dentro do exemplo de “sacrifício primeiro, benefício depois” temos toda uma teoria econômica, da qual chamarei a atenção à Teoria do Capital Humano, desenvolvida por Theodore Schultz. Essa teoria nada mais é do que atribuir uma função econômica à educação. Pessoas melhor educadas ganham mais é o refrão dessa teoria. Na mesma proporção, um país, um estado ou um município com população melhor educada é um país, estado ou município mais rico e desenvolvido. Na Teoria do Capital Humano, a educação é um sacrifício na medida em que os recursos (professores, prédio, cadernos, transporte, livros etc) empregados para a sua realização poderiam ter outro fim alternativo. Além disto, os alunos sacrificam seu tempo indo às aulas, uma vez que poderiam alternativamente estarem trabalhando para incrementar a renda familiar.

O fato de sacrificarem recursos e renda alternativa dos alunos, em promessa a um benefício futuro, dá à educação um carater de investimento que deve ser medido economicamente. A educação apenas é economicamente interessante se trouxer ganhos futuros maiores que os sacrifícios imediatos. Inúmeras pesquisas comprovam o efeito do capital humano na renda das pessoas e dos países, apontando como um excelente investimento público e privado. Corroborando com essas teorias, o exemplo da Coréia do Sul está disponível para todos. Parece óbvia, mas só na metade do século passado é que a Teoria do Capital Humano começou a ser ecomicamente aceita e empregada.

Fora o benefício direto que a educação provoca na renda dos indivíduos e na da sociedade, muitos outros também são creditados a esse sacrifício. Pessoas melhor educadas estão associadas e melhores níveis de criminalidade, adoecem menos, educam melhor seus filhos, ficam menos tempo desempregadas, fazem poupança e são mais prudentes ao dirigirem seus carros.

No final deste ano, teremos nova rodada de avaliação para a composição do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e, com isso, saberemos se os prefeitos e vereadores eleitos estão cumprindo o juramento das promessas de campanha relacionadas com a educação ou se estão deixando nas costas de
São Tomas de Aquino a responsabilidade da formação de nossos estudantes.

Conheça o IDEB de seu município neste site:
http://ideb.inep.gov.br/Site/

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