sexta-feira, 27 de março de 2009

Compromisso

Nessa vida, a época que menos bebi foi, paradoxalmente, quando trabalhava numa grande cervejaria brasileira – da qual não revelarei o nome. Apesar de receber caixas e mais caixas de cervejas, em todos os dias comemorativos (dia dos pais, das mães, das crianças, da consciência negra etc.), faltava-me o principal: tempo. O trabalho só não era escravo pelo fato da ilusão de que algum dia conseguiria abaixar aquele estoque doméstico de cerveja.

Foi num dos raros momentos de descontração que notei a força dessa organização, seus mitos e suas regras ocultas. Estava eu e um amigo num bar novo da cidade, no qual não havia a marca de cerveja que produzíamos. Despreocupadamente, pedimos e tomamos cerveja de outra marca. Acontece que, no mesmo bar, estavam outros funcionários da cervejaria. No outro dia, nossas cabeças estavam a prêmio por termos saboreado a concorrência. Com muita habilidade, nosso chefe nos livrou de uma demissão. Não estava escrito em lugar algum, mas todos sabiam que não era permitido consumir o produto concorrente.

Quando fui trabalhar com educação pública (1999 a 2003) levei gravado em minha memória esse conceito. Na educação pública, principalmente a básica, é justamente o contrário. O funcionário público que matricula seu filho/a numa escola pública só o faz porque está muito ruim da grana. O professor de uma escola pública, se puder, matricula seu filho em uma escola privada.

Logicamente fiquei indignado com essa situação. Na minha lógica fabril quem fabrica Coca-Cola bebe Coca-Cola, não PEPSI. Quem fabrica FORD compra FORD, não FIAT. Quem trabalha no Banco do Brasil tem conta no Banco do Brasil, não no Bradesco. Essa lógica se baseia em dois argumentos fundamentais: 1º) se você mesmo não consome o que faz, quem consumirá? E, 2º) se você consome do concorrente, ele o derrubará e você perderá seu emprego.

Sendo assim: por que quem faz a educação pública não matricula seu filho na escola pública?

Levando à risca essa lógica, defendi que, enquanto estivesse trabalhando com escolas públicas e quando tivesse um filho/a, o/a matricularia na escola pública. Fui xingado e ridicularizado pelos meus parceiros de trabalho. “Você é um idiota”, foi o mínimo que ouvi. Também defendia que o/a secretário/a de educação deveria também matricular seu filho na escola pública, assim como seus assessores, diretores, aspones etc. Mais uma vez: quem faz Coca-Cola deve tomar Coca-Cola.

Deixei de trabalhar em escolas públicas, o tempo passou, as pessoas passaram e esse assunto adormeceu. Entretanto, recentemente descobri um projeto de lei do Senador Cristovam Buarque com objetivos parecidos com as minhas proposições para a educação. Esse projeto determina a obrigatoriedade de os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014.

Vejam os argumentos do Senador:

“No Brasil, os filhos dos dirigentes políticos estudam a educação básica em escolas privadas. Isto mostra, em primeiro lugar, a má qualidade da escola pública brasileira, e, em segundo lugar, o descaso dos dirigentes para com o ensino público.

Talvez não haja maior prova do desapreço para com a educação das crianças do povo, do que ter os filhos dos dirigentes brasileiros, salvo raras exceções, estudando em escolas privadas. Esta é uma forma de corrupção discreta da elite dirigente que, ao invés de resolver os problemas nacionais, busca proteger-se contra as tragédias do povo, criando privilégios.

Além de deixarem as escolas públicas abandonadas, ao se ampararem nas escolas privadas, as autoridades brasileiras criaram a possibilidade de se beneficiarem de descontos no Imposto de Renda para financiar os custos da educação privada de seus filhos.

Pode-se estimar que os 64.810 ocupantes de cargos eleitorais – vereadores, prefeitos e vice-prefeitos, deputados estaduais, federais, senadores e seus suplentes, governadores e vice-governadores, Presidente e Vice-Presidente da República – deduzam um valor total de mais de 150 milhões de reais nas suas respectivas declarações de imposto de renda, com o fim de financiar a escola privada de seus filhos alcançando a dedução de R$ 2.373,84 inclusive no exterior.

Considerando apenas um dependente por ocupante de cargo eleitoras.

O presente Projeto de Lei permitirá que se alcance, entre outros, os seguintes objetivos:

a) ético: comprometerá o representante do povo com a escola que atende ao povo;

b) político: certamente provocará um maior interesse das autoridades para com a educação pública com a conseqüente melhoria da qualidade dessas escolas.

c) financeiro: evitará a “evasão legal” de mais de 12 milhões de reais por mês, o que aumentaria a disponibilidade de recursos fiscais à disposição do setor público, inclusive para a educação;

d) estratégica: os governantes sentirão diretamente a urgência de, em sete anos, desenvolver a qualidade da educação pública no Brasil.

Se esta proposta tivesse sido adotada no momento da Proclamação da República, como um gesto republicano, a realidade social brasileira seria hoje completamente diferente. Entretanto, a tradição de 118 anos de uma República que separa as massas e a elite, uma sem direitos e a outra com privilégios, não permite a implementação imediata desta decisão.

Ficou escolhido por isto o ano de 2014, quando a República estará completando 125 anos de sua proclamação. É um prazo muito longo desde 1889, mas suficiente para que as escolas públicas brasileiras tenham a qualidade que a elite dirigente exige para a escola de seus filhos.

Seria injustificado, depois de tanto tempo, que o Brasil ainda tivesse duas educações – uma para os filhos de seus dirigentes e outra para os filhos do povo –, como nos mais antigos sistemas monárquicos, onde a educação era reservada para os nobres.”


Hoje, muito mais cético, vejo que o Senador é um tanto quanto utópico. Aliás, sempre o foi. Enquanto senador, Cristovam está cumprindo o seu dever de propor. Mas, acredito que neste país é mais fácil ver o presidente da Coca-Cola Brasil, Brian Smith, tomando volumosos goles de PEPSI, que ver o ministro da educação, Fernando Haddad, pegando seu filho na escola pública (se é que ele tem filho).

Quem quiser acompanhar o trâmite do projeto do Senador Buarque é só clicar: http://www.senado.gov.br/sf/atividade/Materia/detalhes.asp?p_cod_mate=82166

sexta-feira, 20 de março de 2009

A bazófia

Confesso que sou apaixonado pelos textos de Luiz Fernando Veríssimo. Sendo assim, não poderia deixar de tentar imitá-lo.

...

Não tardou para que abrissem um restaurante bem no meio da FACED. O diálogo abaixo, juro que foi verdade:

- Garçom.
- Pois não?
- Qual o prato do dia?
- Temos um excelente contrafilé revolucionário. Tá um pouco duro, mas bem vermelhinho.
- Hum...
- Também temos saladas campesinas, frescas e crocrantes.
- Sei não... parecem hidropônicas!
- Posso garantir que as são cultivadas pelos Sem Terra.
- Ah bom. O que mais?
- Temos as massas. Neste caso, está saindo muito o fettuccine participativo.
- Como é isso?
- É regado ao molho gramsciniano e vem com acompanhante.
- E é?
- Sim senhor. Vem com aquele rapazinho ali.
- Ô tio, pede bastante que tou com fome.


Noutra mesa:

- Ufa! Tardei, mais cheguei.
- O que foi que houve?
- Foi uma fenomenologia que veio do Sul. Está tudo engarrafado ai fora.
- Essa cidade tá mesmo um horror. Não tem mais heurística que dê jeito.
- Também, com a ontologia que elegeram para prefeito.
- Pois é, dizem que ele tem um caso com a prima: a deontologia.
- Não diga? O mundo está perdido mesmo.
- Tá perdido, mas sabem muito bem onde colocar as semióticas deles.
- Mudando de assunto... Você está linda!
- Gostou? Gastei uma epistemologia monstro para isso.
- Valeu a pena, se eu tivesse mais hermenêutica também faria.
- Eu recomendo. Qualquer coisa faz uma etnologia com o seu gerente de banco. Todo mês eles tiram um pouco do extratexto do seu salário.
- Sabe que não tinha feito essa sinopse antes!

sábado, 14 de março de 2009

Sexo frágil

Domingo passado foi o dia internacional da mulher, o que acaba por caracterizar o mês de março como o mês das mulheres. Inúmeras foram as mensagens na rádio, TV, internet e outros meios de comunicação que elevaram a auto-estima feminina e encheram o saco de todo mundo. A minha caixa de e-mail, por exemplo, estava entupida de tantas mensagens. E olhe que eu nem de perto pareço uma mulher. Mas, tudo bem. Por elas tudo vale a pena.

Além das mensagens, esse período também tem sido marcado por manifestações femininas ou feministas ou, ainda, terroristas mesmos. Muitas mulheres (a maioria), nesta época, resolvem protestar contra a falta ou pouca percepção masculina sobre os cuidados com a feminilidade das mulheres. Aproveitam para esfregar em nossas caras (dos homens) o fato de não percebermos o novo corte de cabelo ou não entendermos da necessidade de 5 pares de calça jeans. Humilham-nos ao nos classificar como bárbaros ou não-românticos, por não lembrarmos de comprar uma flor ou declamar um poema nestes dias.

As feministas, por outro lado, não ligam para nada disto. Aliás, detestam as barbies. Neste mês, esse grupo de mulheres quer afirmar que é igual ou pior que os homens. Deixam de usar desodorante; esquecem de depilar as axilas; chamam palavrão; usam calças largas, longas e sujas; e cospem no chão. Afinal, qual é o “probrema”?

Tem um terceiro grupo de mulheres que também ocupa espaço na mídia em março, são as terroristas de saia. Não são feministas, tampouco femininas. São alucinadas e alienadas. Um bom exemplo são as mulheres da Via Campesina, organização internacional de mulheres camponesas que na semana passada deu um prejuízo à Aracruz Celulose de quase 2 milhões de reais. Sem comentários!

Contrariando às expectativas do período, neste blog, não gostaria de defender os direitos da mulheres, enaltecer os dotes femininos ou alertar para a precariedade da condição da mulher no mundo. Afinal de contas, todos estão fazendo isso. Quero ir de contramão e chamar a atenção para um fato que poucos estão se apercebendo. Ao passo que as mulheres (de maneira geral) ganham mais espaço (e isso é bom), os homens estão se transformado no verdadeiro sexo frágil.

Há pouco, a ministra Dilma disse que ela não era “durona”, os homens ao redor dela é que eram meigos demais. Cada vez mais notamos que as mulheres, assim como a ministra Dilma, estão ocupando postos mais altos nas organizações. Não é novidade que o mundo coorporativo já se rendeu ao sexto sentido das mulheres. Em minha trajetória profissional tive mais chefes mulheres que homens, e os chefes mulheres que tive tinham “pintos” maiores que os dos chefes homens. Minha previsão é que, se continuar nesse ritmo, aos homens restarão apenas os postos de trabalho braçais. Ou seja, não haverá equilíbrio, haverá substituição.

Talvez isso se explique por alguns desses fenômenos que relatarei abaixo:

1) O homem estuda bem menos que a mulher. Por dificuldades no percurso, falta de apoio ou necessidades de trabalho, os homens abandonam mais a escola e levam mais tempo para concluir os estudos que as mulheres. O gráfico a seguir, obtido com dados do Censo Escolar 2005, revela a proporção de matrículas e concluintes entre meninos e meninas. A conclusão é que os meninos vão desistindo ao longo da escolarização. O reflexo disto, no ensino superior e na vida profissional, é óbvio.

2) Com o processo de urbanização que aconteceu aqui no Brasil, a mortalidade masculina na faixa etária entre 20 a 24 anos cresceu assustadoramente nos últimos 40 anos. Segundo o IBGE, em 1960 a chance de um homem jovem não viver até 25 anos era 1,1 vez maior que de uma mulher jovem, hoje é de 4,1 vezes. A explicação que se encontra para isso são as mortes por causas externas: homicídios, acidentes de trânsito, suicídios, quedas acidentais, afogamentos etc.. Em 2005, por exemplo, houve 1.003.005 óbitos e 12,5% deles (125.816) foram por causas externas. Entre estes, 83,5% (105.062) ocorreram na população masculina.

3) O homem que sobrevive além de 24 anos vive menos que a mulher. Em 2006, a esperança de vida ao nascer dos homens era de 68,5 anos, contra 76,1 anos das mulheres. A média brasileira (homens e mulheres, ficou em 72,3. Portanto, em média, as mulheres vivem 7,6 anos a mais que os homens. É quase uma década!

4) Além de viver menos, o homem vive pior. O homem tem quase duas vezes mais doenças infecciosas do intestino; seis vezes mais transtornos mentais; quatro vezes doenças imunopreventíveis; sete vezes mais doenças no fígado ou cirrose (isso não é novidade!); sete vezes mais lesões intencionais ou não; etc. No total, o homem tem duas vezes mais doenças que a mulher.

Quando me perguntaram se eu queria uma menina ou um menino como primeiro filho(a), não hesitei: menina.

Fontes:
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL202101-5598,00.html

http://www.saude.sc.gov.br/gestores/sala_de_leitura/artigos/Mortalidade/apvp2.pdf
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/tabuadevida/evolucao_da_mortalidade_2001.shtm
www.inep.gov.br

domingo, 8 de março de 2009

Macaco és tu

Neste ano, comemoramos 200 (duzentos) anos do nascimento do naturalista inglês Darwin.

Três anos atrás, quando fui batizar Letícia, tive a impressão de que para boa parte da população a mulher saiu da costela de Adão e que Darwin é um ilustre desconhecido. Para realizar o batizado, eu e minha esposa tivemos que fazer um curso para pais e padrinhos. A mensagem do curso eu posso resumir em uma linha: eduque seu filho(a) ou afilhado(a) para ser católico(a). Pronto. Simples assim. Mas, passamos quase três horas ouvindo um “besteirol” insuportável. Resolvemos sair da aula quando o instrutor começou a explicar a origem da vida. Primeiro ele descreveu o Jardim do Éden. Depois falou da criação de Eva. Descreveu a maldade da serpente e, finalmente, da mordida na maçã. Na sala, todos faziam cara de entendidos. Assim como eles, também entendemos tudo, concordamos com tudo, assinamos o documento e caímos fora.

Charles Robert Darwin nasceu em Shrewsbury (Inglaterra), em 12 de Fevereiro de 1809 e morreu em 19 de abril de 1882. Viveu, portanto, um bom bocado. Ficou famoso por assombrar o mundo religioso (ocidental) ao lançar o livro Origem das Espécies, em 1859, apresentando, neste livro, a sua teoria sobre ancestrais comuns e evolução das espécies por meio da seleção natural. A história de Darwin é uma lição de pesquisa por meio do método hipotético indutivo, fato que abordarei em outras postagens. Nesta, gostaria de falar sobre o “rebucetê” que deu essa teoria, há época, e como, em alguns contextos, como nos cursos de batizados, isso ainda é um tabu ou sacrilégio.


Aos 22 anos de idade, em 27 de dezembro de 1831, Darwin saiu à bordo do HMS Beagle, comandado pelo capitão Robert FitzRoy, para uma expedição de dois anos na costa da América do Sul, com o propósito de realizar um levantamento cartográfico. A expedição durou quatro anos e nove meses e passou, além da costa da América do Sul, pela ilha Galápagos, Taiti, Nova Zelândia Austrália, ilhas Cocos, África do Sul e Açores. O Beagle retornou à Inglaterra em 2 de outubro de 1836, como muitas espécies coletadas e um Darwin transformado.

Charles, no transcorrer da viagem e, principalmente, em Galápagos, uniu pontos que geram um novo conhecimento. Ao observar a diversidade dos bichos e das plantas, ele concluiu que eles tinham se adaptados às condições locais do meio ambiente em que viviam. Assim, um passarinho da mesma espécie poderia ter bico menores (para capturar insetos) ou maiores (para quebrar nozes), a depender do tipo de alimento predominante na região. Da mesma fora, as tartarugas tinham pescoço maiores ou menores, para facilitar a coleta de alimentos no chão ou em arbustos.

O que Charles tinha concluído era que os animais, plantas e todos os seres vivos não tinham sido criados de uma só vez, como pregavam e pregam os criacionistas de praticamente todas as religiões. Pelo contrário, elas vinham de um ancestral comum e, por milhares de anos, haviam evoluído e diversificado para formar uma gama de milhões de espécies vivas atualmente.

Na época, Darwin – de família católica – ficou muito preocupado com a sua descoberta. Pois, tratava-se de contradizer a explicação bíblica. Ele permaneceu por muitos anos colecionando fatos para provar sua teoria. Depois de 23 anos de estudos, por força de concorrência com outros cientistas que estavam no mesmo percurso dele, Darwin resolveu publicar “Origem da Espécie” e revolucionar o pensamento em vigor. Teve, com isso, que suportar muitas críticas. Entretanto, depois de quase dois séculos, é mais que provado que ele estava correto.

Mas, a fé é algo que se tem sem se ver ou provar. É, portanto, muito poderosa e não se deixa derrotar facilmente. Um exemplo disso é a polêmica entre o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, e os envolvidos na interrupção da gravidez de gêmeos de uma menina de 9 anos estuprada pelo padrasto. Não quero entrar nesse assunto deprimente. Quero falar do conflito entre a fé a ciência e, talvez, a ignorância. Quero falar do caso de Teté.

Teté é um pedreiro de família de pedreiros. Se aqui fosse a Índia, diríamos que Teté pertenceria a uma casta de pedreiros. Seu pai foi pedreiro, ele é pedreiro e os irmãos também. Provavelmente, se não tiverem estudo, os filhos de Teté também serão pedreiros. Quando ele prestava (ainda presta) serviços a nossa família sempre brincávamos muito com ele. Quando o assunto era futebol, sempre ridicularizávamos o time dele (Campinense), pois não ganha nada. Quando o assunto era música, ele nos dos dava um show de criatividade ao inventar letras inusitadas. Quando era mulher o assunto, todos mentiam. Mas, quando o assunto era religião, ele sempre se posicionava firme e crédulo. Insistíamos em diversos argumentos para quebrar suas crenças, mas ele sempre as sustentava. Numa dessas conversas chegamos ao argumento de que o homem tinha vindo do macaco, extrapolando a explicação de Darwin. Ele nos olhou firmemente e nos disse: vocês podem ter vindo, mas eu não vim não.

Ciência e religião vão se enfrentar por muito tempo. Os dois são importantes, mas antagônicos. Quando há ignorância (pode-se entender como falta de oportunidade de estudo ou falta de conhecimento científico sobre os fenômenos naturais), prevalece a fé, pois sempre precisamos de uma explicação. No contrário, prevalece a ciência. A conclusão que tiro disso tudo é que ainda temos muito a compreender. Mas, naquilo que já sabemos, não dá para aceitar velhas crenças e dogmas. Neste sentido, a religião deve se atualizar e acompanhar a ciência.

Veja onde Darwin nasceu: http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&tab=wl&q=Shrewsbury


Curiosidade: pena que Bush não tivesse nascido na época de Darwin, pois seria muito mais fácil provar a sua teoria.


terça-feira, 3 de março de 2009

Conversas de cabeleireiro

Quatro coisas me incomodam bastante quando vou a um cabeleireiro. A primeira é ter que ir até lá. Ter que aparar o cabelo é, para mim, uma enorme perda de tempo. A segunda coisa é sair de lá (do salão do cabeleireiro) cheio de fiapos de cabelo na camisa, pinicando as costas e pescoço, e ter que passar o resto do dia com essa mesma camisa cabeluda. A terceira é notar que, cada vez mais, as minhas entradas crescem assustadoramente e que eu não posso fazer nada contra isso, a não ser rezar para que não cheguem à nuca. Ao ver os meus irmãos, noto que é uma questão de tempo para o meu desespero tomar conta de tudo. A quarta e última coisa é, além de tudo, não encontrar um cabeleireiro profissional que saiba manusear uma tesoura adequadamente.

Vou generalizar, mas sei que tem exceções. Em Salvador não existe cabeleireiro que saiba cortar cabelo com tesoura. Pronto! Aqui, os cabeleireiros se acostumaram a cortar na máquina. A pergunta sempre é a mesma: é na máquina? Se a resposta é não, eles te olham meio estranho e demoram mais que o normal para deixar o cabelo mais curto. Isso é tão claro para mim que eu não criei fidelidade a nenhum cabeleireiro nestes 19 anos na Bahia.


A qualidade do corte, neste caso, não se relaciona com o preço. Lembro do barbeiro da feira central de Campina Grande (lá não tem cabeleireiro). Por algo em torno de R$ 5, você cortava o cabelo e ainda tomava uma sopa. Quando eu ia ao colégio, logo cedo e no frio da manhã, o corte do cabelo e a sopa eram reconfortantes. Os feirantes, que vinham de todas as cidades da redondeza, paravam lá também. Algo parecido eu encontrei em Santo Antônio de Jesus (BA), por trás do principal hotel da cidade e ao lado da feira. Não tinha sopa, mas o barbeiro sabia utilizar uma tesoura de cortes avançados. Destreza esta que aprendera em cursos feitos em São Paulo.

Em Salvador, ir a um cabeleireiro qualquer, sem o interesse de saber quem ia meter a tesoura, era uma rotina até encontrar Ton. Ton além de cortar bem com a tesoura normal, também sabe utilizar aquela outra de cortes mais avançados. O melhor é que Ton só cobra R$ 10,00 (R$ 12,00 no cartão), o que é barato para Salvador.


Apesar de tantas coisas negativas no salão de cabeleireiros, uma me agrada: escutar as estórias das pessoas que mal se conhecem, mas, aparentemente, são unha e carne. É justamente um desses papos que vou relatar hoje. Estava eu cortando o cabelo com Ton quando ele puxou conversa com uma Perua que estava fazendo as unhas logo ao lado.

Ton: Passou o Carnaval onde?
Perua: Aqui mesmo.
Ton: Também. Nesse Carnaval só teve porrada. Foi pau prá tudo que é lado. Violência pura. Pau, pau, pau.
Perua: É...
Ton: A polícia meteu cacete em tudo, menina.
Perua: Que horror!
Ton: Vinha de lá cada negão. Sabe? Cada um com seu cacete na mão, dando porrada na multidão.
Perua: Num foi só na pipoca que deu confusão não. Li aqui que Dado Donabella fez o maior barraco lá no Rio.
Ton: No futebol é a mesma coisa. Ó-pá-i-ó.
Nesse momento, passavam na TV do salão as cenas de porrada que os policiais deram numa partida do Campeonato Baiano de Futebol. Como papo de salão é coisa volátil, só foram passar as cenas que o assunto mudou.

Ton: E você ficou com alguém?
Perua: Ninguém. Miserê total. E você?
Ton: Fiquei com Dalila?
Perua: Dalila?
Ton: Menina, aquela música de Ivete: Cadê Dalila? Dalila é a nova gripe. Gripe do carnaval. Todo mundo pegou Dalila. Hahahah!!!

A Perua fez uma cara de (des)entendida e mudou de assunto.

Perua: Gostei mesmo foi de Cláudia Leite. Tava em forma.
Ton: Dilma também. Você viu o decote de Dilma, lá no Sambódromo? Ela tá podendo. Tava até menos feia.
Perua: É tudo plastificado.
Ton: E eu não sei? Dizem que ela até evitou pular muito.
Perua: E foi?
Ton: Senão caia tudo. Hahahahah!!!
Perua: Você é terrível.
Ton: É não menina. Esse povo acha que agente não nota uma plástica daquelas.
Perua: Quanto ela pagou?
Ton: Sei lá.


Mudam o assunto.

Perua: Prá falar em plástica, você tá vendo Caminhos da Índia?
Ton: qué-que-tem?
Perua: Torloni tá arrasando.
Ton: Pode ser. Mas, acho o cabelo dela ridículo. Divertido mesmo é o BBB.
Perua: Por que?
Ton: Menina, o último paredão foi uma baixaria total. Eu ri muito.


O assunto muda novamente.

Perua: Sabe aquela minha irmã que mora em São Paulo?
Ton: Aquela que veio aqui no mês passado?
Perua: Sim, ela mesma. Ela me deu uma ampola de fortalecimento da raiz parecida com essa que você tem aqui.
Ton: Qual é a marca?
Perua: Sei não. Mas, começava com P.
Ton: Presta não! É de terceira.
Perua: Como assim?
Ton: É uma desgraça, quebra tudo. Mas, você não passou na cabeça não, né?
Perua: Não, não...
Ton: Bom mesmo é esse que tenho aqui... dá L’Oréal.


Por um minuto a Perua ficou muda. Sem reação. Talvez refletindo sobre a situação. Neste intervalo, Ton busca o espelho e diz:

Ton: Pronto, terminei. Gostou?
Arturo: Divino!

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