sexta-feira, 26 de agosto de 2011

E o Nordeste? Vem ali atrás!

Bombas caindo na cabeça de Kadhafi, Inter ganhando mais um campeonato internacional, bolsas de valores subindo e descendo (mais descendo que subindo), nova comemoração de gol do R10, Jobs deixando a Apple, Guig-Ghetto lançando o próximo hit do verão baiano... Nenhuma notícia dessa semana deveria ser mais interessante aos pais e às mães que a divulgação dos resultados da Prova ABC (Avaliação de Aprendizagem de Leitura e Matemática) para alunos do 3º ano do ensino fundamental (uma parceria do Todos Pela Educação com o Instituto Paulo Montenegro/IBOPE, Fundação Cesgranrio e INEP).

Algum tempo atrás, eu estava discutindo com a minha esposa qual seria o melhor local para morar. Consideramos três hipóteses de escolha: em um local socialmente favorável (perto dos parentes e/ou amigos); em uma região economicamente favorável (em desenvolvimento e com oportunidades); em uma região favorável à educação (com boa educação para nossa filha). A solução era óbvia: em um lugar que tivesse as três características. Mas, supondo que sejam condições excludentes, qual delas você optaria?

Nesse fim de semana passado, escutei o debate de Eduardo Campos (Governado de Pernambuco) no Canal Livre, da Rede Bandeirantes. Quem escutou ao debate e não conhece a realidade de Pernambuco (e do Nordeste) logo imaginou que o paraíso na Terra é tropical e que lá se dança frevo e se escuta maracatu. O governador bradou o avanço econômico do seu estado, falou da geração de empregos, das novas oportunidades, do combate ao crime etc. Mil maravilhas! Mil maravilhas também no discurso oficial do Governo da Bahia, com o seu jingle insistente na TV e no Rádio, o qual, entre outras coisas, diz: ... é o povo sabendo ler e escrever... De fato, o Nordeste tem avançado se comparado a outras regiões pobres do planeta. Mas, está longe de ser um paraíso na Terra.

Há aproximadamente 10 anos comecei a ter acesso aos dados de avaliações educacionais. Na época, participava de um Programa Educacional que tinha um projeto de avaliação e que produzia relatórios similares ao da Prova ABC. Era normal ficarmos abismados com a precariedade na educação, principalmente na Bahia. Já naquela época, o discurso oficial era da melhoria da qualidade da educação e de eliminação da desigualdade entre os estados brasileiros. Se formos buscar nos arquivos da história, nos anos 90, Paulo Renato e FHC lançaram o FUNDEF justamente para tentar corrigir as imensas disparidades regionais. Antes mesmo do FUNDEF, podemos encontrar a SUDENE e outras tentativas em diversas áreas. Bem... Não quero fazer um relato histórico, apenas apontar que o que o relatório da Prova ABC traz não é novo, assim como não são novos os discursos do governador Eduardo Campos e do jingle do Governo da Bahia.

O Nordeste está atrasado e continuará atrasado por muito tempo se a velocidade do desenvolvimento for essa que estamos vendo. Para se ter uma idéia, em Leitura, o Nordeste é o último colocado e está atrás em 30 pontos do primeiro (o Sul). Em Matemática, o Norte é o mais atrasado, mesmo assim o Nordeste está atrás do Sul em 27 pontos. Para se compreender melhor a diferença, imagine uma corrida de 500 metros disputada em 3 etapas (Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II e Ensino Médio). Na primeira etapa, a garotada do Sul já abriu uma vantagem de 27 a 30 metros para a garotada do Nordeste. Projete qual será a vantagem na última etapa!

Você que mora no Nordeste pode estar pensando aliviado: ainda bem que meus filhos estão matriculados em escolas particulares. Ledo engano! A diferença entre as escolas particulares do Nordeste para as do Sul retrata uma situação ainda pior. Em Leitura, 37 pontos, e em Matemática, 38 pontos. Mas, se você for uma pessoa socialmente responsável e preocupada, vai ficar de cabelos em pé ao saber que a diferença entre as escolas públicas do Nordeste para as escolas privadas do Sul é de 69 pontos em Leitura e de 76 pontos em Matemática.
Volte a imaginar que o prêmio da corrida de 500 metros é uma ótima universidade ou um excelente curso técnico, o que, provavelmente, resultará numa melhor colocação futura no mercado de trabalho. Considerando que em uma sociedade deva haver médicos, engenheiros, economistas, mas, também, arrumadeiras, garçons e garis, preveja agora para quem estará reservada cada uma dessas ocupações.

Entre acreditar no discurso rouge dos governadores nordestinos ou na realidade apontada pelos dados de avaliações nacionais, prefiro imaginar que estar perto da família e dos amigos é o principal motivo para nossa permanência aqui.

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