Calma, caro leitor! Sei que
encerrar o ano com esse verbo é estranho. Talvez até um pouco chulo. Eu poderia
ter usado outro menos mundano, como urinar, ou mais infantil, como fazer xixi,
ou, até mesmo, mais simbólico, como fazer o número-um. O fato é que “mijar” dá
o tom certo à problemática que será apresentada e rima bem com o resto do título.
Mas, pensando bem, qual o
problema com mijar? Mijar é uma coisa ótima. Talvez uma das melhores coisas que
já inventaram. Comparando com o número-dois, uma boa mijada provoca o mesmo
alívio, é rápida, não cheira (ou cheira menos) e, principalmente, não mela. Ao
mijar, purificamos nosso corpo, pois colocamos para fora tudo que não nos serve
mais ou nos serve mal. Mijar é diversão. Quantas vezes, nós homens, já fizemos
desenhos na terra com nossos jatos, ao pé de uma árvore protetora ou, até
mesmo, na areia da praia. Não sei se alguém já pensou nisso, mas acho que, no
limite, mijar pode ser até arte. Já imaginaram uma sinfonia de mijos? Cada
integrante com sua contribuição. Uns mais rápidos e graves. Outros mais longos
e agudos. Claro, para tocar a Nona Sinfonia de Beethoven precisar-se-iam de
umas trezentas pessoas com bexigas bem cheias.
Depois de tantos elogios rasgados
– ou mijados – para nosso querido número-um, preciso retomar ao assunto, pois esse
post não é de coisas boas e sim dos
problemas que uma mijada dá. Acho que não é paranoia minha, pois há notícias de
graves problemas desse ato que se repete, em média, seis vezes ao dia por
pessoa. E, antes que comecem a me chamar de neurótico ou frustrado, devo
registrar, logo de largada, que se o mundo tem em torno de 7 bilhões de
pessoas, são, em média, 42 bilhões de mijadas diárias. Volumetricamente, são
aproximadamente 17 bilhões de litros de mijo sendo despejados todos os dias.
Pois é! Se há tanta mijada e mijo, deve haver muitos problemas relacionados a
eles. A seguir, coleciono alguns problemas bem pitorescos que quero
compartilhar com você, meu leitor mijador, a partir de duas perspectivas: a
pública e a privada.
Do mais amplo ao mais restrito,
começo com o problema do mijo na sua dimensão mais pública. Mijar em público ou
mijar a torto e a direito pode causar estranheza aos desavisados. Nesse caso,
falar de mijo público é, ao fim do dia, falar de Salvador. É público e notório
que os pilares dos viadutos de Salvador estão comprometido por anos e anos de
irrigação dos baianos da capital. O soteropolitano, por natureza, é um povo sem
grandes preocupações de retenção urinária. Ao menor sinal de aperto na bexiga,
lá estão eles se aliviando em qualquer esquina, poste, pilar, árvore ou ponto
de ônibus. Durante o carnaval de Salvador, não sobra nenhuma parede imaculada.
E aquela música que diz “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”
deveria ser “atrás do trio elétrico só não vai quem sabe o que é aquele líquido
que não para de escorrer do carro de apoio”. Alguns dos meus amigos ficavam
horrorizados ao passarem por pontos de ônibus e se depararem com suspeitos de
arma na mão e cara de alívio, fato corriqueiro no traslado diário. Até no campo
de futebol, não há aperto. Lembro que meu pai ficava impressionado com a paixão
dos torcedores do Bahia e do Vitória ao jogarem copos cheios de cerveja durante
a partida. Ele ficava reclamando: “como o povo daqui gosta de jogar dinheiro
fora, fica atirando cerveja lá embaixo!”. Coitados dos que estavam na
arquibancada inferior, invariavelmente a cerveja chegava quente e sem espuma. Mas,
mijar em público não é só coisa de soteropolitano ou de homem. Quem se lembra
daquele jogo onde Ronaldinho se agachou peto da bola, ficou um instante parado,
deu um sorriso maroto e depois levantou o dedo indicador? Relatoras me
informaram que é incrível a quantidade de pipi que as banhistas fazem nas
cadeiras de praia pelo Brasil afora. Assim como, andar pelas ruas do Rio de Janeiro
sem molhar o pé em uma poça suspeita é quase impossível. Apesar de tudo isso,
talvez o pior problema relacionado ao mijo público está justamente nos locais
onde ele deveria ser mais sossegado e regrado: os banheiros públicos. De norte
a sul, de uma forma geral, os banheiros públicos são um desafio a qualquer
apertado, mesmo que seja apenas para o alívio do número-um. Todos nós temos
lembranças ruins de banheiros que mal dava para entrar, mas tivemos que usá-los
para nos aliviar. Nesse sentido, a pior das minhas experiências ocorreu num
banheiro de uma casa de show em Campina Grande, durante o São João. Já sabe,
não é? Casa de show lotada, muita bebida e, para completar, o banheiro
masculino entupido. O resultado não poderia ser mais catastrófico: para entrar
no banheiro – e todos entravam, pois não havia outro lugar – tinha que encarar
uma lâmina de água “amarelada” de uns 4 dedos. E, como desgraça pouca é
bobagem, ainda tinha um zelador que tentava esvaziar o banheiro com um rodo.
Toda vez que ele passava o rodo, gritava: Olha a onda!!! Ai, quem estivesse lá
dentro tinha que dá um pulo para não ser atingido pelo tsunami de mijo. Eca! O
que a bebida nos proporciona, não é?
Entretanto, os problemas
relacionados ao mijo não são só públicos. Cada um de nós tem ou teve um
problema particular para recordar. Para alguns, a tarefa de mijar é quase uma
tortura fisiológica ou psicológica. E nisso, há situações realmente
constrangedoras, do tipo: você está se concentrando para dar uma boa mijada e
chega um cara ao seu lado e começa a mijar e emitir sons de gazes inoportunos,
seguidos por odores venenosamente sufocantes. Claro que não dá para ficar impassível
diante de uma ameaça dessa. Trava-se tudo. Outra situação chata é quando o
parceiro ao lado não se contenta em ficar concentrado com o seu instrumento e
começa a checar a performance dos outros. Eita coisa desagradável, não é? Igualmente
constrangedor é quando quem chega ao seu lado não tem o mínimo de modos e a
primeira coisa que faz é dar uma bela cusparada antes de urinar. Nojento
demais!!! Mas, a pior situação é quando o seu vizinho não tem boa pontaria e
você sente gotículas respingando em seu pé. Dá vontade de contra-atacar, mas os
bons modos nos impedem. Há situações também cômicas, quando o pobre coitado não
consegue mijar direito e fica fazendo esforço para lançar jatos intermitentes
ou então, quando você desafia o oponente na duração e no volume: é uma competição
com estratégias certas para vencer e sempre vence quem fica por último. No meu
ponto de vista, o pior problema particular é quando, por alguma causa, que só
Freud explica, o jato teima em não sair, por mais apertado que você esteja. São
situações que ocorrem sem aviso, quando, por exemplo, tem uma fila interminável
para usar o banheiro de um bar e, justamente na sua vez, o xixi não sai. Você
fica se concentrando, concentrando, concentrando... e nada! Ai tenta diversas
técnicas de respiração... e nada! Sempre tem um impaciente na fila que logo
reclama e, nesse momento, você apela para o desespero e o suplício: inspira a maior
quantidade de ar possível em seus pulmões e coloca toda força no diafragma... e
nada! Não tem jeito, você desiste e sai do banheiro para desocupar a moita, vai
aguentando a bexiga cheia até outra tentativa mais tarde. Isso pode ocorrer em
qualquer lugar e comigo ocorreu no avião. O voo estava para decolar e eu,
morrendo de vontade de mijar, pois havia tomado algumas cervejas a mais. Quando
o piloto avisou que iria demorar mais 5 minutos para decolar, eu pensei: ótimo,
dá tempo! Levantei e, diante dos olhares de desaprovação das aeromoças e da
curiosidade da plateia de passageiros, fui direto ao banheiro. Tentei, tentei,
tentei... e nada! Naquele momento o que passava em minha cabeça era: paguei o
maior mico para fazer esse xixi... e nada! Revoltado e apertado voltei à
poltrona. Assim que o avião decolou e estabilizou, tranquilamente me aliviei. São
situações incômodas mesmo para uns. Para outros, nada muito complicado. Uma
amiga me relatou que, em uma viagem para participar de um congresso, em um país
estrangeiro, estava muito frio e nevava bastante. Ela estava hospedada em um
hotel sem banheiro no quarto e, como havia tomado vinho e água durante a festa
de boas vindas, estava com muita vontade de ir ao banheiro. O frio, a preguiça
e o álcool a fizeram ter uma solução inusitada: ela fez xixi num recipiente
qualquer que tinha no quarto (nem me pergunte qual foi!) e jogou o líquido pela
janela. Tranquila e aliviadamente foi dormir. Pela manhã, ao sai para o
congresso, ela olhou para a sua janela pelo lado de fora e viu uma lista
amarela que tingia a neve branca do telhado. Ainda bem que, no frio, os odores
não são percebidos.
Entre coisas boas e ruins,
portanto, caro leitor, apenas posso desejar que em 2013 você dê boas mijadas.