quinta-feira, 10 de maio de 2012

Marketing de Vácuo


Três anos atrás, eu escrevi um post intitulado Estratégia Circense. A ideia central daquele post era relatar como um circo ruim, no caso o Circo Europeu, poderia prosperar do vácuo de outro circo bom, no caso o Cirque du Soleil. Interessantemente, nesse ano o grande circo canadense voltou às terras baianas e, mais uma vez, o fenômeno se repetiu. Entretanto, dessa vez o Circo Europeu deu espaço a dois outros circos: o Tihane e o Portugal. Ou seja, aparentemente a estratégia utilizada pelo Circo Europeu foi tão boa que dois outros circos a seguiram.
Sabendo que o Cirque du Soleil tem uma programação elaborada com bastante antecedência e publicada aos ventos, o que faz concorrentes com menor envergadura, neste caso os circos Tihane e Europeu, competir na mesma cidade e no mesmo momento? Seria mais pausível que nenhum outro circo quisesse se apresentar conjuntamente ao Cirque du Soleil, não? No post Estratégia Circense a minha preocupação estava no relato do evento em si. Nesse novo post, a minha preocupação será a da explicação desse fenômeno, tentando defender a hipótese contrária: para um circo ruim, é interessante se apresentar juntamente a um circo bom. Nesse sentido, apresentarei a seguir duas abordagens bastante utilizadas no marketing.
A primeira abordagem vem da psicologia e trabalha a motivação humana. Há diversas teorias que abordam isso, mas o que nos interessará aqui são os seguintes conceitos: atenção seletiva; distorção seletiva; e retenção seletiva. Atenção seletiva diz respeito a capacidade humana de selecionar aquilo que nos interessa. Diariamente, somos bombardeados de anúncios e propaganda de todos os tipos. Se fossemos prestar atenção a tudo, provavelmente piraríamos. Dessa forma, prestamos atenção apenas àquilo que nos interessa. Isso é atenção seletiva.
A forma como entendemos o mundo tem muito a ver com toda nossa bagagem cultural, emocional, educacional e social. Vemos o mundo através de filtros. Um simples sorvete pode nos traduzir divergentes emoções a depender de nossas experiências. Um sorvete da Häagen-Dazs pode parecer muito mais gostoso do que realmente é, enquanto que um “Capelinha” – em Salvador – ou um “Caicó” – em Maceió – podem parece menos saborosos para os que os veem pela primeira vez. Para essa distorção, que naturalmente fazemos sem perceber, dar-se o nome de distorção seletiva.
Por fim, retemos em nossa memória de longo prazo apenas o que realmente nos marca ou que nos é repetido de forma massacrante. Por isso sabemos a malvada da tabuada, o insuportável jingle do político que está se candidatando a algo e o igualmente horripilante refrão “ai se te pego” do Michel Teló. Entretanto, lembramos para sempre daquele delicioso beijo, do doce de leite da vovó e daquela propaganda da Gelol que marcou nossos corações: não basta ser pai, tem de participar (http://www.youtube.com/watch?v=3ztB1BT6u-Q). Isso é retenção seletiva.
Saindo da psicologia, vamos à economia e dela focaremos o caso da demanda. Acho que já falei sobre demanda aqui no Blog, mas, enfim... O que é demanda? Demanda pode ser definida pela capacidade e vontade para comprar algo. O conceito de vontade tem tudo a ver com o de desejo e necessidade. Necessidade é ontológico. Temos necessidade de várias coisas: reprodução, segurança, alimentação, diversão etc. Há quem advogue que as necessidades não são criadas, elas existem e pronto. Entretanto, o desejo pode ser criado. Desejo é uma necessidade saciada por algo específico. Dessa forma, podemos entender que o desejo é uma necessidade trabalhada. A sofisticação da necessidade gera o desejo. Desejo, necessidade e vontade, portanto, são objetos de estudo do marketing e da publicidade.
Para haver demanda não basta ter apenas vontade. Tem de haver também capacidade. Capacidade significa “condição para”. O primeiro elemento da “condição para” é o dinheiro. As pessoas precisam tem recursos financeiros para comprar os seus objetos de desejo, senão não há demanda. Além do dinheiro, têm uma infinidade de outras “condições para” como o tempo, a disposição, o acesso, a permissão etc. Apesar de ter muitas “condições para”, a mais importante é o dinheiro e nele resumiremos aqui a capacidade das pessoas para gerar demanda.
Dessa forma, para se computar a demanda, precisa-se verificar quantos indivíduos possuem vontade e têm condição (dinheiro) de possuir ou adquirir algo. Ter apenas vontade não é suficiente para criar a demanda, como já vimos. Nesse caso, se aplica o rótulo de demanda potencial para as pessoas que têm vontade, mas não têm “condições para”. Também existe o inverso quando as pessoas têm a “condição para”, mas não possuem o desejo. Neste caso também não há demanda e o melhor rótulo é o da demanda inexistente. Pergunto: como se cria demanda – caso haja uma situação de demanda inexistente – ou como se cria mais demanda – casa haja uma situação de demanda potencial? Resposta: aumentando o desejo ou reduzindo as “condições para”. Os exemplos estão aí. O Iphone é um exemplo de um trabalho bem feito no desejo. A Insinuante, as Casas Bahia ou a Ricardo Eletro são exemplos de bons trabalhos feitos na redução das “condições para”.
Quando o Cirque du Soleil vai a uma cidade geralmente ele começa o trabalho publicitário bem antes de sua estreia. O objetivo do Cirque é romper a barreira da atenção seletiva das pessoas e despertar o máximo de desejo possível. Claro que o Cirque conta com sua favorável boa imagem e reputação para isso, pois já retemos seletivamente o seu significado. Não é qualquer circo, trata-se do Soleil! Ele rompe a barreira da atenção seletiva facilmente e gera muito desejo. Aliás, ele gera desejo de sobra. Tanto desejo que não consegue atender a todos. Na verdade, o Cirque du Soleil geral uma enorme demanda potencial.
Essa demanda potencial se traduz em pessoas que ficam maravilhadas com a magia do espetáculo e com a publicidade do Soleil, mas não tem “condição para” comprar o seu ingresso. Os seus orçamentos são apertados. Ir ao Soleil significa abandonar certos compromissos ou deixar de atender necessidades mais nobres e isso não é admissível para essas pessoas. Resumindo: elas querem, mas não podem!
Nesse momento, entram os outros circos de segunda e terceira categorias. A barreira da atenção seletiva já foi rompida pelo Soleil e a distorção seletiva faz com que os consumidores vejam no Circo Portugal ou no Circo Tihane o Cirque du Soleil em pessoa. Circo é circo, afinal! Como os preços desses circos são mais populares, altera-se a curva da demanda por circo na cidade, transformando a demanda potencial do Soleil em demanda verdadeira do Tihane e Portugal. Mais pessoas vão ao circo, não importando qual.
Faço uma última pergunta: o que aconteceria se o Tihane ou o Portugal aparecessem na cidade sem o Soleil? Provavelmente eles não conseguiriam romper facilmente a barreira da atenção seletiva, gerariam pouco desejo e deixariam muitas pessoas na zona de demanda inexistente.
Parece que a magia do circo está sendo revelada, não?!!

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Coisas para fazer em Salvador


Meus novos colegas de trabalho terão a ótima missão de passar os próximos três meses aqui em Salvador. Como bom anfitrião, resolvi lhes ajudar com dicas de coisas para fazer durante esse período. Dessa forma, aventurei-me a escrever e classificar os principais locais que “eu” acho que eles deveriam conhecer.

Muitos soteropolitanos ou baianos podem não concordar ou ter outras ideias de lugares e fazeres. Isso é bom! Quem estiver lendo esse post pode complementar ou comentar as dicas que postei aqui.

Vamos lá...

1º) Pensar em Salvador é pensar em Pelourinho. O Pelourinho dispensa apresentação, mas merece explicação. Tem muita coisa para ser vista: casarões, igrejas, praças, ruas, escadarias, conventos, fundações, restaurantes e bares. Vale a pena se informar antes do que pode ser feito, visto, comido, dançado, comprado etc. Se tiver oportunidade de ver o Balé Folclórico da Bahia, não perca a chance! (http://www.youtube.com/watch?v=ADkQ_xUjhyY&feature=related). Se der, na terça, também vá ao ensaio do Olodum (http://www.viajenaviagem.com/2011/01/fotoblog-com-video-terca-da-bencao-no-pelourinho/). O Pelourinho tem muitas dimensões, ruas, ruelas, becos, praças, escadas. É fácil se perder e isso é o máximo! Quando for anoitecendo, tome um cravinho (Bar do Reggae) para entrar no clima. Atenção: o Pelourinho não é museu, estará muito vivo!

2º) Perto do Pelourinho tem o Elevador Lacerda. Pegue esse elevador, curta a paisagem e vá ao Mercado Modelo. Compre todas as bugigangas que os seus parentes pediram, inclusive o berimbau. Aproveite para apreciar um pouco de historia, visitando o Forte de São Marcelo, que fica em frente, mas tem de ir de barco (http://ibahia.globo.com/salvador459anos/interna/default.asp?modulo=3298&codigo=172430).

3º) Os soteropolitanos dizem que não há sorvete igual ao da sorveteria da praia da Ribeira (http://www.sorveteriadaribeira.com.br/?page_id=508). Então, vá à Ribeira em um dia de bom sol e peça um sorvete de tapioca por mim. Aproveite que está por lá e visite a Igreja do Bonfim. Compre as fitinhas do Senhor do Bonfim dos moleques que te cercarão e volte mais protegido para o curso. Atenção: só uma baiana original é que pode amarrar a fita em seu braço, senão dá azar!!! E, já que você está pela cidade baixa, visite a Ponta de Humaitá (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=264730). Para os mais aventureiros e famintos, podem esticar o passeio até o subúrbio ferroviário e comer no famoso restaurante Boca de Galinha (http://www.youtube.com/watch?v=3SDnk0kxy1w).

4º) No outro extremo de Salvador, tem a famosa Itapuã, a qual posso falar com propriedade. Da música de Tarde em Itapuã (http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes/80508/) não sobrou muito. Mas, vir a Salvador e não passar por Itapuã é um pecado. Vá, passe uma tarde lá, beba uma água de coco, coma um acarajé no Largo da Mariquita e contemple o Farol. Estique seu passeio e visite a Lagoa do Abaeté (provavelmente quando você voltar a Salvador ela não existirá mais). Esse passeio pode ser feito na volta das praias (Flamengo, Aleluia e Stella Maris).

5º) Praticamente todas as praias de Salvador são bem poluídas. As exceções são a praia do Porto da Barra (que eu não gosto muito) e as mais afastadas como das de Stella Maris, Aleluia e Flamengo, que são realmente boas. Uma boa pedida é ficar na barraca do Lôro (http://www.obaoba.com.br/salvador/bar/bar/barraca-do-loro-aleluia), em Aleluia. Aproveite para experimentar uma lambreta. O programa de praia do soteropolitano não estará completo sem um “fim de praia”. Isso significa esticar o dia comendo um caranguejo e tomando a última cerveja antes de ver o Fantástico. Tem diversos bares que servem o “caranga” ao longo da orla e, em alguns deles, tem um axé, forró ou pagode rolando – o que pode ser interessante a depender o seu grau etílico.

6º) Já que estamos falando em esticar o dia, que tal uma balada? Salvador é uma cidade muito eclética. Aqui tem axé, pagode, axé, pagode, axé, pagode e, de vez em quando, forró. Garimpar algo diferente disso é difícil. Apesar de ser a terra de Raul, o roque é esquecido. De vez em quando você encontra uma MPB no Castro Alves. Talvez no bairro do Rio Vermelho você encontre algo diferente: lambada, merengue por exemplo. Nesse celeiro cultural que é Salvador, uma boa pedida é ver o show de Magary Lord – revelação do último carnaval (http://www.youtube.com/watch?v=yf4aZKVc1hM). Bom mesmo!

7º) Se você não se contentar ou se identificar com esse tipo de programa (praia, caranguejo e axé), faça algo mais CULT. Minha dica é visitar o Teatro Castro Alves (http://www.tca.ba.gov.br/) e o Teatro Vila Velha (http://www.teatrovilavelha.com.br/), que tem uma vista fantástica para a Baia de Todos os Santos e Itaparica. Você também pode visitar o Museu de Artes Modernas (MAM), que fica no Solar do Unhão (http://ibahia.globo.com/sosevenabahia/solar.asp). Lá tem um restaurante e um barzinho. Ver o por do sol lá do Solar, com a ilha de Itaparica ao fundo, é para poucos. Outra programação CULT interessante é frequentar o circuito Sala de Arte (http://www.saladearte.art.br/).

8º) Itaparica inspira muito Salvador (http://letras.terra.com.br/ivete-sangalo/157032/). Pra mim, para quem não tem casa em Itaparica, a melhor forma de ir à Ilha é de escuna. Então, reserve um passeio de escuna com a turma e curta um dia inteiro de muita beleza. Lembre-se que tem de fazer sol, senão nada feito!

9º) A Barra é um bairro bem interessante para se passear. Tem bons restaurantes por perto e uma vista linda. Vá ao Cristo e tire uma foto. Vá ao Farol da Barra e tire outra foto. Fique pensando alguns instantes nessa avenida (do Farol ao Cristo) entupida de gente cantando (http://www.youtube.com/watch?v=9DdhjaFT-Fw). Como é que cabe, né? Bem... Depois da reflexão, entre no museu da marinha que fica nas dependências do Farol da Barra. Por fim, caminhe até o Porto da Barra e, se tiver com muito calor, tome um banho de mar.

10º) Para não ficar só em Salvador. Nos fins de semana e feriadões você pode conhecer as belezas da redondeza. Recomendo: Morro de São Paulo; Praia do Forte; Cachoeira. Um pouco mais longe: Ilhéus e Itacaré; Chapada Diamantina; Mangue Seco.




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