Vivemos
um período no mínimo estranho. Estamos sendo bombardeados por notícias
governamentais e para-governamentais anunciando uma nova era para o Brasil. Uma
era de prosperidade “nunca antes vivida” na história – ou será estória? – desse
país. Apesar desse otimismo patrocinado, desse orgulho despropositado e desse
gigantismo – uma vez que já somos a 6º maior economia do planeta – sem lastro,
há um sentimento de falácia pairando no ar.
Exemplos
disso podem ser verificados em cada esquina de nossas cidades. Há prédios sendo
erguidos em todos os cantos, mas não há mais ruas para se transitar. A inflação
oficial apresenta números comportados, mas os preços no caixa do supermercado não
param de subir. Há propagandas de que estamos evoluindo nos indicadores
sociais, mas os professores estão em greve há quase um semestre. Há anúncio que
estamos no pleno emprego, mas me canso de dizer não aos flanelinhas e
vendedores ambulantes nos sinais da cidade. Construímos palácios e obras faraônicas
– como os estádios de futebol e a transposição do rio São Francisco – para
sermos o centro da atenção mundial nos próximos anos (Rio + 20; Copa do Mundo;
Olimpíadas), mas ainda pisamos no esgoto quando saímos de casa. Sem dúvida,
vivemos numa era de contradições.
Sem
ater às questões contraditórias da política – que não são poucas – abordarei nesse
post um exemplo dessas contradições:
o Lucro Brasil. As pessoas estão consumindo feito umas loucas, sem parar para
analisar as consequências para as suas vidas e, principalmente, o real valor
dos bens que estão adquirindo. Mais uma vez, estamos deixando para que outros
resolvam nossas questões, enquanto nos iludimos com a falácia da nova era
brasileira. Um desses exemplos é o do automóvel, mas se aplica a quase tudo.
O
Brasil alcança níveis de produção, diversidade e vendas de veículos nunca antes
alcançados em sua história. Somos a quarta maior frota de veículos do planeta.
Mas, estamos pagando caro demais pelos carros que compramos por aqui. Por quê?
Tentando compreender essa contradição, convidei um amigo (Fábio Lourencetti), entendedor do assunto,
para participar desse post. Ele
respondeu às seguintes perguntas:
Há um movimento no Facebook voltado
para que o brasileiro não compre carro em 2012. Do que se trata esse movimento?
O
movimento existente é, na verdade, para não realizar a compra de carros zero
Quilômetro. Esse movimento está sendo realizado por toda a internet, o Facebook
é simplesmente mais um canal para acesso as massas de forma rápida e constante,
por intermédio do “Abaixo ao Lucro Brasil”.
O que é o “Lucro Brasil”?
O
Lucro Brasil é a margem exorbitante aplicada pelas montadoras em nosso mercado.
Pensa
só: o Brasil é o quarto maior mercado consumidor de automóveis do mundo e o
quinto produtor, mas não possuímos uma indústria automobilística nacional. A
China possui. A Índia e a Rússia também. Isso pensando nos BRIC. Sem indústria
própria e com alto consumo, temos então o fato de sermos o primeiro da lista em preços. Um mercado para
ganhar dinheiro!
Muitos
pensam que o culpado são os impostos, porém a realidade não é bem essa. Vejam
que interessante: carros produzidos aqui, em nosso país, e exportados para nossos
parceiros comerciais, a Argentina e o México, são vendidos muito mais baratos
por lá. Como exemplo se pode citar o City da fabricante Honda. Fabricado em
Sumaré interior de São Paulo, é vendido por R$ 31.470,00 no México enquanto no
Brasil custa R$ 54.580,00 (versão LX, pois a DX nem é oferecida no mercado
mexicano por ser simples demais). Se retirarmos os impostos, que somam
aproximadamente 30% do valor brasileiro, teremos um custo de R$ 38.206,00, ou
seja, cerca de 21% a mais que no país estrangeiro. Lembrando que o carro é
produzido aqui e possui custo de transporte para as revendas de lá. Não retirei
a margem da revenda, pois no México a margem também deve existir!
Obs.: O dado
do percentual de imposto foi retirado da seguinte reportagem: http://www.youtube.com/watch?v=8AwRr9qM50U
Os valores
dos respectivos veículos foram retirados dos sites da montadora Honda Mexicana
e Brasileira.
O que podemos perguntar em seguida é o
porquê da diferença, correto?
Pois
bem, vamos analisar o mercado presente. Temos cerca de 76% do mercado
concentrado em 4 montadoras: Fiat, Volkswagen, Chevrolet e Ford. As quais são
denominadas como “as 4 Grandes”, ou seja, essas empresas com produtos
desatualizados e precários são os que mais vendem no mercado, o que fez com que
montadoras novatas (entrantes) no mercado conseguissem colocar seus produtos
classe C posicionados em um patamar de classe A, como o Honda Civic, Toyota
Corolla, dentre outros. No México 76% está em 12 montadoras, ou seja, maior
concorrência.
Temos
também um fato cultural em nosso país, onde é visto normal parcelar um carro em
60 vezes de R$ 700,00. A contradição disso está em acharmos absurdo pagar o
mesmo valor por um curso em uma faculdade de engenharia, durante 5 anos, ou
seja, os mesmos 60 meses. Comprar carro tudo bem, mas financiar a educação
superior, para o brasileiro, é um absurdo!
Podemos
citar também a sombra da inflação, a qual assolou nosso país por muitos anos e
imobilizar recursos em um automóvel era visto como uma forma de investimento, o
que ainda permanece na mente de muitos brasileiros e é o principal argumento
para não se abandonar as 4 grandes clássicas de nosso mercado. Ou seja, no
Brasil ainda se compra carro pensando na revenda.
Observando
a tabela abaixo, onde fora comparada a desvalorização por 3 anos de veículos
praticamente de mesma categoria, incluindo duas das 4 grandes, a Nissan e a Renault
(duas consideradas de grande risco de desvalorização).
Fonte: http://www.noticiasautomotivas.com.br/confira-a-tabela-comparativa-com-a-desvalorizacao-dos-principais-sedas-do-mercado/
Ou
seja, no médio e longo prazo não vemos relativa diferença, porém a revenda é um
modelo mental enraizado na mente do brasileiro.
Você não comprará carro Zero?
Em
minha visão não precisamos ser extremistas e deixar de comprar carros Zero. Devemos destruir esses paradigmas que
mistificam os impostos como os únicos responsáveis pelo alto preço dos carros.
Outro vilão está na concentração do mercado e no consequente Lucro Brasil.
O
exemplo da CAOA, que investiu na fábrica da Hyundai, trazendo Know-How ao país
e agora com projeto de investir em uma fábrica nacional, nos dá uma esperança
de maior concorrência no futuro. (http://www.snn.com.br/noticia/110813/6/caoa-confirma-fabrica-automobilistica-na-paraiba.html).