Vamos ser honestos? Adoramos sentir
que fazemos parte do mundo. Acho que essa necessidade surge de nosso sentimento
de inferioridade, quando queremos copiar tudo que é de fora do país. Não que o que
vem de fora seja bom ou ruim, mas à primeira manifestação singular que apareça
por aqui queremos logo identificar um parentesco estrangeiro para legitimar o
fenômeno. Assim é com nossos costumes, valores, arquitetura, moda, sotaque,
culinária etc. Mais uma vez, não tem nada de errado em valorizar cada uma das origens
culturais e étnicas de nosso povo, mas não precisamos rotular precipitadamente tudo
que surge no imediato para se achar uma justificativa a nossa existência singular,
do jeito que é.
Falo isso porque, com o início
dessa onda de protestos e manifestações que tomou conta das maiores cidades do
país, há quase um ano, apareceu, do nada, um novo movimento social que foi logo
batizado com um nome inglês, o tal do “Black Bloc”. Não vou gastar meu tempo
fazendo uma pesquisa na literatura que fala sobre o movimento anarquista, ao
qual se imagina que esses mascarados fazem parte. Até que seria interessante
conhecer e falar sobre o movimento anarquista, mas acho que não seria o caso,
tampouco esse pseudomovimento mereceria isso. Para ser fidedigno como o “Black
Bloc” tupiniquim, dedico-me a buscar seu significado no que há de mais imediato
e urgente: o Wikipedia. Pois bem, segundo o Wikipedia:
Black bloc
é o nome dado a uma estratégia de manifestação e protesto anarquista, na qual
grupos de afinidade mascarados e vestidos de preto se reúnem com objetivo de
protestar em manifestações anti-globalização e/ou anti-capitalistas,
conferências de representacionistas entre outras ocasiões, utilizando a
propaganda pela ação para questionar o sistema vigente.
As roupas e
máscaras pretas que dão nome à estratégia são usadas para dificultar ou mesmo
impedir qualquer tipo de identificação pelas autoridades, também com a
finalidade de parecer uma única massa imensa, promovendo solidariedade entre
seus participantes.
Black Blocs
se diferenciam de outros grupos anti-capitalistas por rotineiramente se
utilizarem da destruição da propriedade privada para trazer atenção para sua
oposição contra corporações multinacionais e aos apoios e às vantagens
recebidas dos governos ocidentais por essas companhias.
Como em nossa terra nada do que
parece é de fato o que é e a imagem conta mais do que as reais intenções, faço
a você, meu estimado leitor, a seguinte pergunta: por que cargas d’água um
jovem sai de casa e vai quebrar a propriedade pública e privada sob o risco de
ser preso, sair machucado ou, até mesmo, não voltar vivo para casa? O que
motiva os membros desse aglomerado de gente mascarada a serem tão enérgicos,
destrutivos, explosivos, intransigentes e impessoais? Por que tanta revolta,
expressa na destruição, sem qualquer reivindicação inteligível? Se é um
movimento, quem são os líderes e como os membros se organizam? Por que se dizem
anti-capitalistas, mas vestem Nike, falam pelo Iphone e registram as imagens
com uma Nikon? Não há como negar sua ação midiática, nem esperar uma manifestação
sem sua presença. Se são tão previsíveis, por que ninguém os prende? Por que
ninguém os entrevista para conhecer suas reivindicações e propostas?
Não duvidemos de nossos líderes, eles
são muito inteligentes. São mais inteligentes que nós. Na economia se sabe que
não há almoço de graça. Na sociologia se sabe que não há movimentação
desinteressada. Na política se sabe que não há lado. E, na guerra, sabe-se que
qualquer estratégia para vencer é válida.
A minha hipótese é óbvia. Nosso “Black
Bloc” não passa de um grupo de arruaceiros bem pagos para promover a
desmoralização dos movimentos legítimos de massa. Intriga de minha oposição? Então...
Por que os movimentos perderam força? Por que o “Black Bloc” só aparece no
final para gerar confusão? Por que nunca seus membros são presos e apresentados
ao público? Por que há tanta incompetência de nossa polícia em identificar um
integrante dessa corja?
Até quando alguém resolver “abrir
o bico” e falar em troca de alguns trocados, veremos cenas lamentáveis que só
nos entristecerão. Lojas sendo saqueadas; bancas de jornais destruídas;
patrimônio público depredado; agências bancárias destroçadas; órgãos públicos
invadidos; paredes e prédios pichados; polícia desorientada, desencorajada, incapaz
e imoral; empregados perdendo emprego porque seus patrões perderam suas lojas;
cadeirantes sem ter como usar os meios de transporte porque seus aparatos de
acesso foram destruídos; e, o pior, nossa liberdade de ir, vir e protestar
tolhida.