sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Retrospectiva de um ano par

Não sei se por influência de meu tio
Que valoriza a terra e sua cultura
E de autores, poetas e poetizas
Artistas lá do brejo e do sertão
Ou até de um argentino
Infame colega de meu irmão
Que conta contos pornôs clandestinos
Entre uma tragada e outra de chimarrão
Resolvi enveredar por essas linhas
E contar as coisas que se sucederam
Nesse ano que já se passou

É de pé junto que juro
Que para mim não presta
Nem trabalhando muito e suando frio
Todo ano que seja par

Isso é de sempre, toda vida
Pois, logo na minha partida
Driblei toda chance ocorrida
Saindo de qualquer ano bipartido
Briguei para vir ao mundo em um ano singular

Sendo assim, não poderia
Por mais esperança que tivesse
Imaginar algo que de bom ocorresse
Mas, como a fé não desiste
E brasileiro que é, insiste
Resolvi embarcar nessa fantasia
Sem delonga ou demora

Numa inconsequência desenfreada
Escutei de forma certa
Os conselhos errados de Miriam Leitão
Como cego no tiroteio
Comprei dólar de montão

Para viagem fazer
Hoje até pode parecer
Que a dica dela era quente
Só que na altura da viagem
Olha o desespero, minha gente
O dólar estava quase metade
Do que ela disse que iria ser

Esse prejuízo logo me deu uma secura
E acho que isso influenciou o clima
E por uma sina do destino
O inusitado aconteceu
O que era sinônimo de seca e de sertão
Hoje não serve mais não
Pois como tudo no mundo pode mudar
Quem iria imaginar
Que na terra da garoa
Nesse ano não teve uma gota de água para tomar

Se não teve água, teve cerveja
E muitas para bem entorpecer
É que depois de tantos anos
A Copa mais uma vez veio para bandas de cá

Todos os esforços foram poucos
Não somos japoneses, sabemos
Muitas obras prometemos
Só os estádios ficaram prontos

E neles se deram as mais belas partidas
Mas, também pancadas, caneladas
E até mordidas

No fim, nossa alma ficou ferida
Nosso orgulho devastado
Por um vendaval arretado
Do time da Alemanha
Do legado, além da pisa
Uma dívida a ser dividida
Que ainda vão nos cobrar

Para falar em bola
Surgiu ou ressurgiu
Não sei bem ao certo
Um tal de ebola

Uma doença bem danada
Vinda lá da África
Dizem que é só olhar
Que o homem começa a se borrar

Dentro de um ou dois dias o bicho pega
E nem na base do rezado
O santo salva o coitado

O negócio mesmo é prevenir
E, enquanto não tiver vacina
A melhor medicina é não contrair

Para aumentar a confusão
De ebola, sem bola e desvalorização
Esse ano ainda teve eleição

O País ficou rigorosamente dividido
Até amores foram rompidos
Na disputa entre duas cores

Na briga da direita contra a esquerda
Houve um momento que do centro
Surgiu uma terceira opção
Mas, num desastre de avião
Voltamos à dicotomia
Que já estava dando agonia
Pela infinidade de acusação
Tudo virou uma baixaria

No final de tudo, tudo ficou igual
E para completar esse carnaval
O feixe de cores foi ampliado
Pois um certo Levy pintou de azul
O horizonte avermelhado

Para se ver como ano par é ruim
Basta ver que Barrichello foi campeão
Tal fato só foi ofuscado por uma situação
De imensa maldade e corrupção

Com um mar de acusação
Na velocidade de um jato
A delação premiada de um vilão
Igualou o orgulho da nação
À sujeira e esperteza de um rato

Tudo que era bom ficou suspeito
O ambiente que era simplesmente perfeito
Agora é palco de inquisição

Todo mundo que cheira a óleo agora é vilão
Até que se prove o contrário
E quem está fora que só vê defeito
No mesmo buraco também está
E não sente que já afunda
Com lama até o peito

No fim, estamos todos juntos
Nesse barco que dá água
Para se salvar só o entendimento
De que nada adianta só falar
Só latir já não basta
Tem de morder e tem de praticar
É respeitando o direito dos outros
Que conseguiremos nos salvar

Claro que o ano não foi ruim para todos
Os mineiros estão bem felizes
Com o Cruzeiro e o Atlético campeões

Mas, a inevitabilidade do ano par ser ruim é relativa
Só a mim é que atinge, não me falhe a memória
Pois dentre diversos times que poderia torcer
Fui escolher o de nome Vitória

Bravo time baiano
Que tem como sede o Barradão
Um estádio construído num lixão
Só pela nobreza dessa aventura
Já poderia ter alcançado à glória
Porém o seu azar não foi total
Nos minutos finais dessa agonia
Para a segunda divisão se foi
Agarrado ao arquirrival Bahia

Numa eventualidade científica
Da mais alta tecnologia
Não houve cálculo nem estimativa
Que derrotasse o poder do azar
Característico de um ano par

Não é que na mais improvável missão
Colocou-se num foguete estelar
Uma sonda para vasculhar
Pela primeira vez um cometa
Mais preciso que um bebê de proveta
O foguete acertou seu alvo
Só que o infortúnio que tem esse ano
Fez a sonda pousar
Justamente num lugar
Que não tem luz solar para funcionar

Em minha opinião
Você já deve ter chegado à conclusão
Ano par não tem solução

Chega de azar e urucubaca
Esse ano já acabou
Se meus cálculos estão certos
E na matemática não há dúvida
Depois de cada tempestade tem a calmaria
Nisso não vou nem me preocupar
Pois o próximo ano já está garantido

Sei que não será um ano par


Feliz 2015!

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Precisamos de um Alcibíades?

Tucídides (460 a 395 a.c.) fez um grande favor em fracassar como general e se tornar um extraordinário historiador. Talvez, o primeiro historiador a não utilizar explicações divinas. Sua obra narra a guerra do Peloponeso (431 a 404 a.c.). Com o olhar de quem participou com as mãos sujas de sangue, ele mostra que a importância de compreender eventos do passado está para além do prazer em conhecer narrativas fascinantes e sim em entender a natureza do homem. Esta, independentemente da época, é a mesma.

Um pouco antes da guerra do Peloponeso, uns 450 anos antes de Cristo, os gregos tinham acabado de expulsar os invasores persas. Como ilustração, para quem gosta de filme e para as mulheres, podem assistir os 300 com todos aqueles espartanos com barriga tanquinho. Eram contra os persas que lutavam. Mas, o que importa aqui é que eles não só expulsaram o invasor, como reconquistaram todas as cidades perdidas e ainda se aventuraram nas terras dele. Os estados gregos estavam ficando poderosos e, entre eles, duas potências estavam surgindo: Esparta e Atenas.

Apesar de bem próximas, Atenas e Espartas eram diferentes. Esparta era uma oligarquia e Atenas uma democracia. Esparta era disciplina pura, enquanto Atenas era a terra da liberdade. Esparta tinha exército forte, enquanto Atenas dominava os mares com a sua marinha. Esparta era tradicionalista e fechada em si, Atenas era expansionista e aberta ao novo. O fato é que, ao comando de Péricles (495 – 429 a.c.), Atenas floresceu, enriqueceu e começou a incomodar muito Esparta, que temia que os princípios democráticos e a forma de ver o mundo corrompessem os princípios espartanos e, com isso, acabassem com toda tradição e, no fim do dia, com a oligarquia. Não havia lugar para duas potências tão próximas. Era necessária uma guerra para que uma subjugasse a outra. E ela começa sempre com um subterfúgio.

Não é sobre a guerra em si que quero contar essa história e sim sobre um homem em particular: Alcibíades (450 a 404 a.c.). Alcibíades era sobrinho de Péricles e fora educado em Esparta, apesar de ateniense e extremamente apaixonado por Atenas e seus valores. Mas, naquela época, antes da guerra, era comum meninos irem à Esparta para serem educados. Com a guerra, isso acabou e Alcibíades teve de tomar seu lugar e sua posição em relação à divisão de poderes.

Alcibíades era extremamente bonito. Talvez o homem mais bonito que já existiu. Mais bonito que o próprio Apolo. E sempre foi bonito durante toda sua vida. Um amigo seu, vendo-o em um discurso em Esparta e vendo que ao redor dele estavam outros homens, espartanos, de extrema beleza, não tinha dúvida de que, apesar da perfeição dos corpos espartanos, moldados na disciplina militar e no modo de vida regrado, não chegavam nem perto da beleza de Alcibíades. Conta que, durante uma festa que ele fora convidado e oferecida por um governador de uma das cidades controladas por Atenas, Alcibíades roubou toda prataria do anfitrião. Sendo alertado por este roubou, o anfitrião simplesmente exclamou e perguntou o que eram simples metais se, de fato, Alcibíades já havia roubado o seu coração.

Não só extremamente bonito, ele também era um excelente orador. Muito melhor que seu tio Péricles. Alcibíades enfrentava multidões e, com seu tom adequado e com seu raciocínio rápido, desarticulava os argumentos de absolutamente todos seus adversários, incluindo os de inimigos espartanos e os dos terríveis persas. Durante a guerra, Alcibíades ia de cidade em cidade construindo ou destruindo alianças com as suas palavras e argumentos invencíveis. Alcibíades também era um excelente soldado, comandante, general e, por incrível que pareça, ditador. Seu comando era simplesmente ouvido. Os homens ao seu redor simplesmente eram enfeitiçados por ele e por ele faziam tudo.

Além de tudo isso, Alcibíades era amigo e discípulo de Sócrates (469 a 399 a.c.). Diziam que os dois eram o que havia de pior e melhor no mundo, Sócrates era um homem já maduro no início da guerra. Se vivesse hoje seria considerado um nerd, pois simplesmente parava ao nada, contemplava as coisas e começava a filosofar sobre elas e só saia desse transe quando chegava a uma conclusão. Sócrates lutou junto a Alcibíades, protegeu Alcibíades e foi por ele protegido. Sócrates era feio. Extremamente feio. Mas, era o único que Alcibíades ouvia. Só Sócrates conseguia convencer Alcebíades do contrário. Ninguém mais! Sócrates, como se sabe, foi executado pelos atenienses no final da guerra: a culpa foi ter sido o mentor de Alcibíades e dos jovens atenienses.

No início da guerra, Alcebíades lutou por Atenas, como não poderia ser diferente. Mas, a guerra entrou em um estágio que ninguém iria ganhar ou perder. Para sair dessa situação, Alcibíades, já condecorado diversas vezes por bravura e famoso em todo Peloponeso, convenceu os atenienses de que era necessária uma estratégia completamente diferente, batendo Nícia (470 a 413 a.c.) em um dos mais famosos debates já ocorrido na Assembleia. Era preciso ganhar força extra para vencer seu oponente, os espartanos. A força extra que Alcibíades visara estava na Sicília e se chamava Siracusa. Siracusa era também uma potência. Uma potência neutra quase do tamanho da própria Atenas. Tomar Siracusa tinha algumas vantagens na estratégia de Alcibíades: ganhar força para destruir Esparta e abrir caminho para um território promissor e pouco explorado: a Itália.

Alcibíades não só ganhou o debate contra Nícia, que era extremamente contra essa “loucura”, pois Siracusa era um estado neutro e longe, como empreendeu todo esforço possível e inimaginável para isso. Ele mesmo comprometeu toda fortuna de sua família na construção de embarcações. E assim se realizou. Nunca antes se construiu e se formou uma marinha daquele tamanho. Ao todo 60 mil homens foram, de barco, tomar Siracusa.

Entretanto, como a atração que ele gerava era enorme, também eram enormes o medo e a repulsa que ele originava nos antigos e nos contrários. E nisso, uma enorme profanação foi feita nas estátuas de Atenas no dia da partida da frota e Alcibíades, por mais contraditório que pareça, foi acusado de traidor. O julgamento se deu a sua revelia, pois ele já havia partido para Siracusa com a frota. Ele foi condenado por traição e a sentença foi a morte. Um navio de transporte de prisioneiros foi enviado para aprisiona-lo e retorná-lo à Atenas para ser executado. Em seu lugar, assumiu Nícia o comando da expedição, o mesmo que era contra toda aquele empreendimento.

Alcibíades não se entregou aos seus carrascos. Convenceu os marinheiros do navio de prisioneiro a soltá-lo na Itália. E assim conseguiu fugir a sua morte, decretada à revelia pela oposição. Atenas que era o amor de Alcibíades tinha decretado a sua morte e isso não ficou barato. Alcibíades fez o que não se imaginaria fazer: foi ao inimigo e habilmente se aliou a ele, aos espartanos, para destruir Atenas. A melhor forma para isso, na visão de Alcibíades era destruir o seu próprio empreendimento: vencer os 60 mil homens enviados para capturar Siracusa.

Alcibíades convenceu que era importante para Esparta e, mudando completamente, tornou-se o mais espartano dos espartanos. Quem mais saberia da expedição que o seu mentor? A estratégia de Alcibíades foi criar em Siracusa sua própria capacidade de vencer e, assim se fez. Nícia, que não era razão de motivação para os soldados atenienses fracassou e Atenas sofreu, pela mentalidade e genialidade de Alcibíades, a pior de suas derrotas. Apenas mil homens do 60 mil, conseguiram voltar à Atenas. Terrível desastre!

Alcibíades erra culpado? Era traidor? Ou ele havia agido em função de seu mais puro amor por Atenas? O que se sabe é que ele não parou ali. Para Alcibíades, Atenas deveria ser destruídas para poder florescer novamente. Da mesma maneira como ocorrera na época da invasão dos persas. Alcibíades conseguiu mais uma proeza para completar sua façanha: convenceu o rei de Esparta, Ágis (* a 400 a.c.), a se aliar com o antigo e temível inimigo persa. Para tanto, Alcibíades se comprometeu a pessoalmente ir à Pérsia e fazer o necessário para convencer os persas a se aliarem a Esparta e derrotar Atenas. E assim ele partiu com sua frota à Pérsia.

Mas, o pouco tempo que Alcibíades permaneceu em Esparta foi o suficiente para provocar uma mudança de costume que não agradou em nada os oligarcas. Eles sabiam que Alcibíades era um instrumento para destruir Atenas e nada mais que isso. Era necessário matar Alcibíades após o acordo com os Persas, pois ele e seu fascínio já começavam a imprimir nos espartanos uma admiração preocupante para quem estava no poder. Além de começar a mudar os costumes locais, Alcibíades também fez um estrago ainda maior em Esparta: engravidou a Rainha Timéia (427 a 401 a.c.). Não havia outra opção ao Rei Ágis senão mandar matar Alcibíades, mesmo ele assumindo com a eficiência de nenhum outro espartano o trabalho de diplomata nos confins da Pérsia.

Nessa altura do campeonato, não havia como Alcibíades retroceder, tampouco evitar a união de Esparta e Pérsia contra Atenas. Mas, havia como Alcibíades voltar e defender Atenas contra os inimigos. Quem duvidaria que ele conseguiria fazer isso? Quem, senão o próprio Alcibíades poderia liderar a resistência? Porém, durante um ano Atenas se fez de difícil e não o chamou de volta. Entretanto, percebendo que mesmo o tendo condenado à morte, dependia dele para sobreviver, não teve outra opção senão ceder.

Alcibíades voltou à Atenas e foi recebido como um verdadeiro herói que de fato era. Não pelos que estavam no poder, aqueles que tinham conspirado contra ele e o condenado à morte, mas pelos que faziam parte da marinha e do povo e que com ele havia lutado e se inspiravam. Um dia, em uma festa, um comandante perguntou aos presentes como se conseguiria comandar homens livres. Alcibíades, apesar de bêbado, disse simplesmente: só se comanda homens livres sendo melhor que eles. Apenas por exemplo é que se comanda homens livres. Por natureza, os homens seguem aqueles que querem ser, aqueles que se espelham. E a multidão de marinheiros, recebendo Alcibíades de volta, espelhava-se nele.

O homem que foi condenado à morte, que infligiu à pátria a pior de suas derrotas e que se uniu ao inimigo estava de volta e, mais uma vez, como salvador. Alcibíades sabia que, por Atenas faria tudo e seu discurso, perante os marinheiros, foi o mais emocionante de todos. O senhor da oratória, muitas vezes teve de parar, sustentar-se e tomar fôlego. A emoção o domara. Mas, mesmo emocionado, talvez até por isso, foi ovacionado. Para Alcibíades a batalha seria duas: uma contra os inimigos externos de Atenas (Esparta e a aliada Pérsia) e outra contra os inimigos internos de Atenas. Alcibíades foi extraordinário, sob seu comando a frota ateniense impôs ao inimigo derrotas atrás de derrotas.

Apesar de suas vitórias, o tempo e o dinheiro da Pérsia contou a favor dos espartanos. A incapacidade de continuar financiando a guerra, apesar do poder de persuasão de Alcibíades, favoreceu os inimigos internos de Atenas. Mais uma vez o herói ateniense foi mandado ao exílio e mais uma vez ele fez o que nenhum mortal ousaria fazer. Dessa vez, colocou-se a serviço dos próprios persas e, recebendo apoio e proteção deles, exilou-se. Contrariando a probabilidade, Alcibíades não morreu em uma batalha, mas sim se defendendo bravamente dos ciúmes dos irmãos e amigos raivosos de uma jovem que, como muitas, caiu nos encantamentos de Alcibíades e a ele havia se entregado completamente.

Sem nunca ser derrotado no campo de batalha, Alcibíades morreu passionalmente e, ao morrer, Atenas, sua amada, foi finalmente derrotada por Esparta. Os atenienses traduziam assim o sentimento que tinham por Alcibíades: nós o amamos, nós o odiamos e nós não podemos viver sem ele.

O que faria um Alcibíades nos tempos atuais? Teria espaço uma figura dessa no Brasil e no mundo de hoje? Será que, diante de tanta lama e tanta frustração - que se anunciam a cada telejornal - precisaríamos de um Alcibíades para nos liderar e nos salvar? Ou será que mesmo um Alcibíades se sucumbiria à forma de fazer politica atual, à corrupção generalizada de nossa sociedade e ao total desprezo pelos valores morais e humanos? A resposta eu não sei, mas eu gostaria que a sociedade não dependesse de um único homem ou mulher para encontrar suas soluções. Por isso, acredito tanto na ideia da alternância de poder. Talvez os gaúchos estejam certos ao jamais repetir um só governador, melhor ou pior que esse demonstrasse ser. A democracia, como acreditava Alcibíades, agradecerá.


Fontes: TEMPOS DE GUERRA – Steven Pressfield; The Theach Company – Famous Greeks

domingo, 26 de outubro de 2014

O que é a democracia senão o resultado de interesses particulares?

Vivemos nesses últimos meses, uma “bela” e acirrada disputa eleitoral para presidente(a) da República. O inusitado tomou conta da disputa e o enredo levou à divisão dos eleitores nacionais entre dois partidos tradicionais: o PT e o PSDB. Após inúmeros embates, viradas e retomadas, a candidata à reeleição, presidenta Dilma, ganhou com pouco menos de 52% dos votos válidos. A disputa ainda contou com pouco mais de 5% de votos nulos e em branco. Votos esses que poderiam definir o cenário a favor do adversário, Aécio, dada a pouca diferença entre os dois.

Desde a redemocratização do Brasil, essa foi a disputa mais acirrada e com menos diferença entre os dois candidatos mais bem posicionados. Em 1989, Collor venceu Lula no segundo turno por 53% a 47%. Em 1994 e 1998, FHC foi respectivamente eleito e reeleito em primeiro turno. Em 2002, Lula venceu Serra no segundo turno por 61% a 39%, assim como em 2006, quando venceu Alkmin, também no segundo turno, pelos mesmos percentuais. Em 2010, Dilma bateu Serra por 56% a 44%, mais uma vez no segundo turno.

Essa disputa e a consequente divisão entre os eleitores ficaram bastante evidentes nas conversas e redes sociais. Os argumentos a favor e contra foram vários e - posso afirmar com a certeza da margem de erro dos institutos de pesquisa – quase todos umbigocentrados: neologismo necessário para explicar que o que prevalece na democracia é o interesse individual e particular.

O terrorismo eleitoral tomou conta de todos os flancos. De um lado, lançavam-se sombras sobre as possíveis privatizações, futuros arrochos salariais e cortes no emprego. De outro, atiravam com inúmeras denúncias de corrupção, desmandes gerencias e até assassinatos fantasiosos para queima de arquivo. O Brasil pareceu, nessas últimas semanas, um enorme ringue de luta livre onde os golpes mais baixos contavam mais pontos. E assim foi e assim foram pontos percentuais para um e para outro, numa gangorra de intenções de votos que se concretizou hoje, numa cisão nacional.

Observando o microcosmo de cada relacionamento binário e particular também colecionei argumentos contra ou a favor. Uma professora universitária me disse que votaria em Dilma porque Aécio iria cortar os recursos para a educação superior e ela se sentia ameaçada com isso. Um médico me confessou que votaria em Aécio porque Dilma estava acabando com a classe e trazendo médicos cubanos em regime de semiescravidão. Um petroleiro me contou que votaria em Dilma porque FHC quis acabar com a Petrobras e certamente Aécio faria o mesmo. Um empresário disse que votaria em Aécio porque não conseguia vencer os cartéis para vender seus produtos ao governo petista. Todos tinham nobres argumentos umbigocentrados. E todos estavam corretos.

O que é a democracia senão o resultado de interesses particulares?

Lembro-me – não que eu estivesse vivo há época, mas li – de Adam Smith, um dos primeiros e verdadeiros liberais. Adam Smith escreveu um livro chamado “A Riqueza das Nações”, que é a bíblia ou o caminho do inferno para os economistas, a depender de suas correntes ideológicas. O que importa é que, como liberal, ele pregava que o sucesso da nação dependeria da livre iniciativa de cada indivíduo e que só indivíduos interessados em defender o seu quinhão poderiam produzir uma nação verdadeiramente rica. A soma de todos os interesses conflitantes, ou o resultado disso, seria a produção ou a riqueza da nação. Sem essa liberdade e sem o interesse particular – algumas vezes confundido com ganância ou mesquinhez – não haveria desenvolvimento, produção, acumulação e riqueza. Obviamente estou simplificando uma obra enorme em poucas linhas.

Mas, o que eu chamo a atenção e aproveito para antecipar a moral da eleição é que quem ganhou e quem sempre ganhará a eleição é quem foi ou será reconhecido como aquele que irá beneficiar mais gente (eleitores), individualmente falando. O indivíduo, seja ele de qual classe social for, racionaliza o voto e escolhe aquele que lhe trará melhores ganhos particulares, sejam esses imediatos ou não. Olhe para o mapa da votação, relembre alguns programas governamentais e promessas de campanha e você concluirá isso.

Antes que você diga, em alto e bom som, que o resultado da eleição é a comprovação do voto de cabresto, eu te pergunto: você daria um tiro do próprio pé para salvar o pé de alguém que você não conhece? Não somos tão altruístas! E, sendo bem realista, da mesma forma que o médico está com raiva de Dilma por ter ousado quebrar sua reserva de mercado, nessas eleições, quando escolhemos um número, olhamos imediatamente para nosso umbigo e teclamos: confirma!

domingo, 12 de outubro de 2014

Políticas band-aid

Como diz José Simão, se alguém sobreviver à guerra da campanha eleitoral, da celulite contra o botox, do vestido vemelho-diaba contra o terninho mauricinho, do Nordeste contra Ipanema, de Havana contra Miami, do PT contra o PSDB, enfim, de Dilma contra Aécio, esse alguém deverá encarar de fato os problemas brasileiros. E, nisso, em problemas, o Brasil é bem recheado. Um deles está nascendo quase que despercebido e vem ganhando massa a cada ano que se passa. Refiro-me à teimosia e à tentação em criar condições especiais para grupos de pessoas em detrimento de todas as outras.

Trata-se de um duelo entre o utilitarismo e o institucionalismo-pluralista às avessas, entre o máximo bem comum e o máximo bem a um grupo específico que, com lobby, consegue impor aos outros membros da sociedade suportar vantagens e regalias destes poucos privilegiados. E isso vem acontecendo e está crescendo. Como sapos ferventes – morrendo sem notar que a temperatura da água está subindo, estamos absorvendo cada vez mais políticas que ferem o coletivo, até que um dia, esse coletivo vai deixar de lado as políticas, as leis e partirá para a anarquia. A carga tributária está ficando tão excessiva que, vai chegar um dia, em que a sociedade produtiva simplesmente vai parar de trabalhar. Alguns exemplos a seguir.

Tem pouco mais de uma semana que fomos surpreendidos com a notícia de que os magistrados e os promotores precisam de auxílio moradia, independentemente se possuem ou não imóvel próprio na cidade em que residem. Obviamente os salários, nunca inferiores a 23 mil reais, não são suficientes para que eles banquem suas despesas habitacionais e, portanto, os pobres magistrados e procuradores dependem dessa ajuda - que chega a pouco mais de seis salários mínimos - para que eles não passem necessidades. Certamente, sem essa ajuda, teríamos poucos cidadãos qualificados e suficientemente honestos querendo desempenhar essas profissões tão pouco valorizada em nosso país.

Há muito se vem discutindo a previdência social e formas de financiá-la. Qual a necessidade da previdência senão a segurança para que os cidadãos, ao ficarem menos produtivo, consigam manter a qualidade de vida na velhice? Entretanto, aqui a lógica não é essa. A lógica é perpetuar diferenças de classes. Os verdadeiros contribuintes – aqueles que pelo suor produtivo e transformador geram riquezas para o país – e que irão se aposentar pelo INSS, com os valores do INSS, bancam a farra de semideuses que, e só porque, possuem poder parar se aposentam de forma diferenciada (alguns em apenas oito anos) e sem sombra de dúvida, deficitariamente. Diga-me, por que um senador tem de ser aposentar em pouco tempo e ganhando tanto enquanto, em contrapartida, um simples trabalhador deve suportar 35 anos de labuta e desgaste para ganhar um mínimo da previdência? Será que o trabalhador não merecia ganhar mais que o senador já que ao longo da vida produtiva ele sofreu mais desgastes? Será que o senador conseguiu em tão pouco tempo financiar sua própria aposentadoria ou estaria ele dependente de inúmeros reles trabalhadores que, numa escravidão mais moderna, bancaria suas mordomias romanas vitalícias? Faço um contraste entre esses dois, mas há inúmeras categorias privilegiadas nesse país, além de um fosso enorme ente o que acontece no setor público e no setor privado, este último eterno escravo do primeiro. Não deveria todos os trabalhadores receberem de forma igual e suficiente para se manterem na velhice? Quem quisesse ganhar além do padrão para todos que contribuísse à alguma previdência complementar ao longo da vida. Senadores certamente teriam mais condição para isso!

Falando em classes privilegiadas, algumas delas conseguem verdadeiras regalias que não se justificam e acabam gerando uma separação tipo “nós e os outros”. Assim vem acontecendo nas profissões da saúde que, mais uma vez por lobby, arrancam benefícios da população que não tem poder para negá-los. Por que os médicos, por exemplo, têm de trabalhar menos que os outros profissionais? Certamente a defesa é que é uma atividade muito fatigante. Muito mais do que a do professor, a do metalúrgico, a do agricultor ou a de um operador de bolsa de valores. Ou certamente é que é uma atividade que envolve risco de vida. Muito mais do que a do piloto, a do engenheiro de uma usina nuclear, a do estabilizador de plataforma de petróleo ou a do motorista de ônibus no Rio de Janeiro. Se assim fosse, o médico após sua jornada diária reduzida de trabalho, deveria ir para casa descansar. Mas, isso é o que menos ocorre. Dois ou três empregos é bem comum nessa profissão. A reboque dos médicos, outros profissionais como os farmacêuticos e os psicólogos pleiteiam a mesma regalia. O impacto na iniciativa privada talvez seja menor, já que ela paga ao médico – e a quem quer que seja – a justa medida de sua produção. Mas, no setor público o impacto é enorme, pois esse tipo de regalia garante aos detentores desses títulos ganhar em uma jornada reduzida o que ganhariam numa jornada normal de trabalho. Como não existem almoço de graça, quando alguém trabalha menos e continua ganhando a mesma coisa, o contribuinte é que tem de se virar para pagar a conta.

Deixo, por fim, talvez o pior dos movimentos nesse sentido, de criar condições especiais deturpadas para pequena parte da população. Imagine que, se você não for preto ou pardo você terá menos chance de ser classificado para uma universidade pública ou entrar no mercado de trabalho via concurso público. É que as crescentes políticas afirmativas em vez de promover condição de competitividade aos grupos historicamente menos favorecidos, preferem negar o Art. 5º da Constituição que diz que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Ignora-se isso e se começa a formar um país realmente racista, onde, por erro conceitual, populismo e arrogância estabelece que uns têm mais direitos que outros. Só e somente só pela cor de pele. No país que se fez opção acertada pela miscigenação, quer-se adotar políticas fracassadas de outros países historicamente racistas, pois aparentemente são políticas mais populistas, em vez de atacar de frente os reais problemas que separam as pessoas: sua condição socioeconômica.

Dilma e Aécio têm propostas parecidas nessa área e eu não vejo muita esperança que esses dois candidatos tragam luz a essas políticas tipo band-aid. Nenhum dos dois vai dar os pontos necessários para estancar esse corte que começa a se aprofundar e a dividir os brasileiros em pseudocastas. Cabe a nós, o resto da sociedade que ainda suporta isso e paga alta carga tributária, alcançar nosso limite de indignação e se rebelar, cortar as correntes, os grilhões, e dizer “BASTA!”, antes que viremos verdadeiramente novos escravos.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Produtividade



Aproveitando o contrafluxo turístico, as férias escolares, a presença de familiares e a disponibilidade de hospedagens gratuitas, em meados de junho, partimos para a Bélgica, Holanda e Inglaterra. Chegando por lá e já no primeiro dia fomos conhecer o centro de Gante, cidade histórica e universitária, com 250 mil habitantes, a aproximadamente 60 quilômetros de distância ao norte de Bruxelas. Como de costume local e por insistência das meninas, paramos para comer batata frita com muita maionese. Entramos numa das muitas vendinhas de frituras que se espalham pela cidade e nos deparamos com uma fila respeitável de clientes. Para atender a todos os clientes, fritar as batatas e os diversos tipos de croquetes, arrumar e limpar a loja e tudo mais, havia apenas um estudante universitário querendo ganhar dinheiro em suas férias de verão. E por onde andei nessas férias foi assim: pouca gente trabalhando e muita máquina operando.

Não quero entrar numa discussão econômica, social ou ideológica. Tampouco quero trazer um aprofundado estudo científico para tentar provar alguma coisa. Trago uma percepção da produtividade, que é um tema que teremos que enfrentar enquanto sociedade que quer amadurecer e certamente será um dos embates políticos das próximas eleições.

Fazendo uma rápida pesquisa no Google, com as palavras-chave “produtividade”, “trabalhador” e “Brasil”, aparecem, entre outros, os seguintes tópicos:

  • Entenda por que a produtividade no Brasil não cresce (http://www.bbc.co.uk)
  • 'Economist': Trabalhador brasileiro precisa sair de 'letargia' para economia crescer (http://www.bbc.co.uk)
  • Brasil leva surra dos EUA em produtividade: como melhorar? (http://exame.abril.com.br)
  • Saiba como a produtividade no trabalho afeta a economia de um país (http://g1.globo.com)
  • Produtividade do trabalhador no Brasil está estagnada há 50 anos, diz Economist (http://www.portugues.rfi.fr)
  • Mantega diz que crítica à produtividade do trabalhador ofende o Brasil (http://agenciabrasil.ebc.com.br)

Portanto, a despeito da queixa governamental, é conhecido por todos que a produtividade brasileira é baixa e que se quisermos avançar economicamente, até mesmo pelo baixo desemprego alcançado, teremos de ser mais produtivos.

Em tempos de futebol, para entender produtividade nada melhor que fazer um paralelo com a Seleção Brasileira. No futebol o Brasil é uma potência e, neste mundial, caminhamos como previsto para as semifinais que ocorrerão nesta semana. De longe, observamos que a produtividade está boa, mas de perto vemos que ela é bem desigual entre os jogadores canarinhos. Por mais que Felipão tente justifica a presença de Fred, é inquestionável a improdutividade desse jogador nos cinco jogos que o Brasil já fez nessa copa. Fred tem sido um peso morto. Os outros jogadores têm de fazer mais para que o time ganhe, justamente porque Fred não faz a parte dele.

Isto é produtividade, ou melhor, no caso de Fred, improdutividade. Acontece no campo de futebol e, no Brasil, acontece na sociedade. Parte da sociedade brasileira tem de fazer muito mais para carregar a outra parte de sociedade que pouco ou nada faz. A causa disso tudo é muito ampla e facilmente confundida e, até mesmo, ideologicamente esquecida. Pensa-se, por exemplo, que trabalhar muito é ser produtivo. Não é! Assim como Fred, muitos trabalhadores entram em suas jornadas de trabalho e nada ou pouco fazem, deixando sobrecarregados outros trabalhadores ou simplesmente deixando de produzir. Estar em campo ou estar no trabalho simplesmente não eleva a produtividade, assim como errar chute/passe ou não produzir o que tem de ser produzido também gera o mesmo efeito.

Pensa-se também que tentar elevar a produtividade é um caminho para eliminar empregos e, pior, explorar o sofrido trabalhador brasileiro. Não é! Um bóia fria dos anos oitenta é muitíssimo menos produtivo que um operador de colheitadeira dos anos 2000. E não há dúvida de quem é ou foi mais explorado, certo? Assim como a seleção, a sociedade é um todo. Se um jogador não joga bem, outros terão de brilhar ou desempenhar mais para o time ganhar. Se um trabalhador é improdutivo, outros terão de produzir mais para o país ser competitivo ou crescer. Com o aumento dos níveis de emprego e a manutenção da produtividade, o que se tem, no fim das contas, é mais gente fazendo a mesma coisa e produzindo o mesmo. Exemplo disso se vê o tempo todo no Brasil, principalmente no que é diretamente relacionado à produtividade: educação, ambiente competitivo, tecnologia e inovação, burocracia, infraestutura e transportes.

Apesar das propagandas dizendo que a educação brasileira melhorou, a realidade é que estamos muito defasados e cada vez ficando mais atrás nisto. A escola pública que a prima em segundo grau de minha filha estuda, no município de Deurne, na Holanda, certamente garantirá a ela, além das competências nas disciplinas tradicionais, fluência em no mínimo três línguas além do holandês. Outro primo dela em segundo grau, identificado com QI elevado, foi transferido para uma escola pública especializada em alunos superdotados, no mesmo município de pouco mais de 31 mil habitantes. Onde no Brasil se tem isso?

O ambiente competitivo no Brasil é muito tímido e desestimulante. Se por um lado abrir empresa no Brasil e fazê-la competir é uma tarefa árdua, observa-se pouca competição a ser enfrentada pelas empresas já estabelecidas. Segundo David Landes (autor de A Riqueza e Pobreza das Nações), uma das circunstâncias para as nações europeias terem se desenvolvido mais que as demais foi o forte ambiente competitivo entre elas, coisa que historicamente e geograficamente não tivemos Brasil. Soma-se a isto o tradicional modelo de desenvolvimento protecionista e intervencionista de nosso Estado e o resultado que se tem é um ambiente muito acostumado ao status quo adquirido para atender ao mercado interno e, ano após ano, perda de competitividade internacional.

A burocracia atrapalha nossos negócios. Tudo por aqui parece ser mais difícil e feito para que seja necessária a prática do suborno.  Tente, por exemplo, comprar um terreno, uma casa ou um simples automóvel sem a ajuda de um despachante. É um inferno de papelada e perda de tempo em cartório. Legalizar uma empresa é mais trabalhoso ainda e se ela precisar de alvarás para funcionamento aí a coisa fica ainda mais traumática. Ainda para piorar, em algumas regiões, como no Rio de Janeiro, por exemplo, é impossível desenvolver um pequeno negócio sem separar no orçamento uma contribuição extraoficial para a sua segurança e segurança de seu negócio. No Brasil a burocracia só é eficiente para enriquecer a elite tecnocrata no poder.

A situação no desenvolvimento tecnológico não é melhor. Enquanto passamos anos gastando fortunas tentando transportar água do rio São Francisco para irrigar feijão no interior da Paraíba, dando um claro atestado de incompetência, corrupção e, por fim, improdutividade, ficamos atrás de todos nosso concorrentes no desenvolvimento tecnológico ou na aplicação de tecnologia à solução de necessidades imediatas da população. No Brasil as soluções faraônicas tiram o lugar das iniciativas locais. As universidades públicas são caras e pouco produzem. Mas, isso é quase uma consequência do baixo nível educacional, burocracia e pouca competitividade.

Por fim, a infraestrutura e os meios de transporte nacionais estão defasados em quase 100 anos. O Brasil não viveu a era das ferrovias, não acompanhou o avanço da navegação, pouco fez na aviação e a opção de rodoviária é uma piada. É caro demais deslocar alguma coisa ou alguém no Brasil, além de muito perigoso e lento. Conversando com um chileno em passagem por Pernambuco ele me relatou o quanto estava impressionado com a lentidão de nossas rodovias, além de ruins a todo momento se tem de parar por qualquer motivo: lombada, fiscalização, pedágio, buraco etc. Demora-se muito sair de um ponto A a um ponto B qualquer no Brasil. A mobilidade urbana é espelho dessa tragédia. O tempo que se perde dentro das cidades na locomoção é impensável em um país sério. As opções são poucas e congestionadas.

Ao chegar ao Brasil retornando das férias, vendo que a despensa estava vazia, imediatamente tive de ir ao supermercado renovar o estoque. Não dá para não perceber o choque de produtividade em todas das seções do supermercado. Tentei até pensar que por aqui eu estava sendo mais bem atendido, pois havia mais gente trabalhando para me servir no supermercado. Havia até uma pessoa para embalar as minhas compras! Um luxo só existente por aqui. Mas, quando saí com o carro no estacionamento, rendi-me ao óbvio. Controlando uma cancela automática, daquelas que se coloca o cartão de estacionamento e ela sobe sozinha, havia duas funcionárias no maior bate papo, indiferentes ao tempo e à função.

Apesar do rapaz que fritava batata frita, atendia ao caixa, limpava e servia as pessoas na vendinha de Gante não ter lavado as mãos ao montar o meu pedido, aquele foi o lanche mais instrutivo que tive em minha vida.

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