sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Retrospectiva de um ano par

Não sei se por influência de meu tio
Que valoriza a terra e sua cultura
E de autores, poetas e poetizas
Artistas lá do brejo e do sertão
Ou até de um argentino
Infame colega de meu irmão
Que conta contos pornôs clandestinos
Entre uma tragada e outra de chimarrão
Resolvi enveredar por essas linhas
E contar as coisas que se sucederam
Nesse ano que já se passou

É de pé junto que juro
Que para mim não presta
Nem trabalhando muito e suando frio
Todo ano que seja par

Isso é de sempre, toda vida
Pois, logo na minha partida
Driblei toda chance ocorrida
Saindo de qualquer ano bipartido
Briguei para vir ao mundo em um ano singular

Sendo assim, não poderia
Por mais esperança que tivesse
Imaginar algo que de bom ocorresse
Mas, como a fé não desiste
E brasileiro que é, insiste
Resolvi embarcar nessa fantasia
Sem delonga ou demora

Numa inconsequência desenfreada
Escutei de forma certa
Os conselhos errados de Miriam Leitão
Como cego no tiroteio
Comprei dólar de montão

Para viagem fazer
Hoje até pode parecer
Que a dica dela era quente
Só que na altura da viagem
Olha o desespero, minha gente
O dólar estava quase metade
Do que ela disse que iria ser

Esse prejuízo logo me deu uma secura
E acho que isso influenciou o clima
E por uma sina do destino
O inusitado aconteceu
O que era sinônimo de seca e de sertão
Hoje não serve mais não
Pois como tudo no mundo pode mudar
Quem iria imaginar
Que na terra da garoa
Nesse ano não teve uma gota de água para tomar

Se não teve água, teve cerveja
E muitas para bem entorpecer
É que depois de tantos anos
A Copa mais uma vez veio para bandas de cá

Todos os esforços foram poucos
Não somos japoneses, sabemos
Muitas obras prometemos
Só os estádios ficaram prontos

E neles se deram as mais belas partidas
Mas, também pancadas, caneladas
E até mordidas

No fim, nossa alma ficou ferida
Nosso orgulho devastado
Por um vendaval arretado
Do time da Alemanha
Do legado, além da pisa
Uma dívida a ser dividida
Que ainda vão nos cobrar

Para falar em bola
Surgiu ou ressurgiu
Não sei bem ao certo
Um tal de ebola

Uma doença bem danada
Vinda lá da África
Dizem que é só olhar
Que o homem começa a se borrar

Dentro de um ou dois dias o bicho pega
E nem na base do rezado
O santo salva o coitado

O negócio mesmo é prevenir
E, enquanto não tiver vacina
A melhor medicina é não contrair

Para aumentar a confusão
De ebola, sem bola e desvalorização
Esse ano ainda teve eleição

O País ficou rigorosamente dividido
Até amores foram rompidos
Na disputa entre duas cores

Na briga da direita contra a esquerda
Houve um momento que do centro
Surgiu uma terceira opção
Mas, num desastre de avião
Voltamos à dicotomia
Que já estava dando agonia
Pela infinidade de acusação
Tudo virou uma baixaria

No final de tudo, tudo ficou igual
E para completar esse carnaval
O feixe de cores foi ampliado
Pois um certo Levy pintou de azul
O horizonte avermelhado

Para se ver como ano par é ruim
Basta ver que Barrichello foi campeão
Tal fato só foi ofuscado por uma situação
De imensa maldade e corrupção

Com um mar de acusação
Na velocidade de um jato
A delação premiada de um vilão
Igualou o orgulho da nação
À sujeira e esperteza de um rato

Tudo que era bom ficou suspeito
O ambiente que era simplesmente perfeito
Agora é palco de inquisição

Todo mundo que cheira a óleo agora é vilão
Até que se prove o contrário
E quem está fora que só vê defeito
No mesmo buraco também está
E não sente que já afunda
Com lama até o peito

No fim, estamos todos juntos
Nesse barco que dá água
Para se salvar só o entendimento
De que nada adianta só falar
Só latir já não basta
Tem de morder e tem de praticar
É respeitando o direito dos outros
Que conseguiremos nos salvar

Claro que o ano não foi ruim para todos
Os mineiros estão bem felizes
Com o Cruzeiro e o Atlético campeões

Mas, a inevitabilidade do ano par ser ruim é relativa
Só a mim é que atinge, não me falhe a memória
Pois dentre diversos times que poderia torcer
Fui escolher o de nome Vitória

Bravo time baiano
Que tem como sede o Barradão
Um estádio construído num lixão
Só pela nobreza dessa aventura
Já poderia ter alcançado à glória
Porém o seu azar não foi total
Nos minutos finais dessa agonia
Para a segunda divisão se foi
Agarrado ao arquirrival Bahia

Numa eventualidade científica
Da mais alta tecnologia
Não houve cálculo nem estimativa
Que derrotasse o poder do azar
Característico de um ano par

Não é que na mais improvável missão
Colocou-se num foguete estelar
Uma sonda para vasculhar
Pela primeira vez um cometa
Mais preciso que um bebê de proveta
O foguete acertou seu alvo
Só que o infortúnio que tem esse ano
Fez a sonda pousar
Justamente num lugar
Que não tem luz solar para funcionar

Em minha opinião
Você já deve ter chegado à conclusão
Ano par não tem solução

Chega de azar e urucubaca
Esse ano já acabou
Se meus cálculos estão certos
E na matemática não há dúvida
Depois de cada tempestade tem a calmaria
Nisso não vou nem me preocupar
Pois o próximo ano já está garantido

Sei que não será um ano par


Feliz 2015!

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