Antes de tudo,
esse post não é um lamento e sim uma
constatação. Já havia escrito neste blog
ou dito para alguém ou, até mesmo, pensado em meus inúmeros devaneios que o homem
– Por que não falar: o macho tradicional? – é o verdadeiro sexo frágil. Não é
falácia não! Observem as estatísticas e as tendências que vocês concordarão
comigo.
Pois bem, se
verificarmos direito veremos que o macho leva desvantagem em quase tudo. No quesito biológico, por exemplo, o sexo
feminino é mais resistente às doenças e, não por acaso, as mulheres têm
longevidade maior, em média, sete anos a mais que a dos homens. Olhando para a
educação, outro quesito importante, pois é o definidor do sucesso ou fracasso
em nossa sociedade do conhecimento, as meninas dão um banho nos meninos no
número de anos de estudo e, consequentemente, na qualidade do mesmo. Vendo as
organizações podemos ainda pensar que os homens as dominam, mas essa é uma situação
que logo se reverterá, pois as mulheres são mais sensíveis e, juntando com os
estudos, estão cada vez mais ocupando postos de liderança. E, para não me
alongar demasiadamente, olhando para a sociedade, verificamos que as mulheres
são mais civilizadas que os homens, tanto é assim que os principais programas
assistencialistas do governo são direcionados ou têm a mulher como eixo principal,
pois o homens se perdem em inúmeras mortes violentas até os trinta anos de
idade.
Como se pode
notar, são muitas as áreas em que as mulheres vêm superando ou se igualando ao
macho tradicional e ajudando a imprimir nele uma nova forma de se comportar na
sociedade. Ou seja, o macho tradicional é uma espécie em perigo e, se brincar,
em extinção. Antes, o homem ou era macho ou não era macho. Era tudo simples. Ou
era ou não era. Não havia estresse. Hoje é tudo complicado. O homem pode ser
homem e não ser macho e já se pode ser macho sem ser homem. Há um tal de
metrosexual. Há os homens da geração Y. Como se pode ser macho levando esse
estigma “Y” logo de entrada? Há os simpatizantes, que não se sabe bem o limite
dessa simpatia. Há as siglas infinitas, como as dos GLSTB... Só com o Google
mesmo é que se descobre o que significa. O certo é que está tudo muito confuso
e sem espaço para o macho tradicional.
Nessa semana,
vivenciei uma situação bem peculiar e que representa a perda de espaço no mundo
para o macho tradicional: um simples corte de cabelo. Lembro-me bem como era
simples cortar cabelo. Meu pai me levava a uma barbearia e o “cabra” cortava o
cabelo. Pronto! Simples. A barbearia tinha um espelho, um barbeiro e muito
cabelo no chão. O barbeiro não perguntava como você queria cortar o cabelo e
tudo dava certo no final, pois só havia um tipo de corte mesmo. Quando adolescente,
em Campina Grande, eu frequentava uma barbearia que ficava na Feira Central e,
por isso, abria cedo para atender aos clientes de outros municípios que iam à
feira para vender ou comprar. Lá era o único lugar que servia sopa aos clientes
que cortavam o cabelo, para dar sustança à lida de um dia de feira. Meu pai,
macho tradicional como é, até hoje espera para poder cortar com um barbeiro no
centro de Campina. O mesmo há uns 25 anos. Nessa barbearia não há sopa e o
corte custa 8 reais. Ou seja, o macho tradicional não vai ao cabeleireiro – palavra
difícil de pronunciar. O macho vai ao barbeiro, que é canto de macho.
O problema é
que não há mais barbeiro na cidade. Em uma proporção razoável, deve haver no
mínimo 20 cabeleireiros para cada barbeiro. Observando isso, vendo essa demanda
aparentemente reprimida, um empreendedor do Rio resolveu montar uma barbearia
na Barra da Tijuca. Ele criou um ambiente muito legal, para machos. Decoração
sóbria, música para macho (blues), revista masculina à vontade (Playboy, Sexy, Hustler,
Motor, Exame, Veja, etc..) e uma belíssima máquina de chope – ótima por sinal:
Mistura Clássica – logo na entrada. Foi nessa barbearia que eu definitivamente
enterrei as esperanças de que há algum espaço para o macho tradicional nesse
mundo.
O primeiro
motivo para isso foi que em um lugar especialmente projetado para homens
(machos), havia tanta mulher quanto homem. Descontados os barbeiros em serviço
e um senhor que estava ali com seus dois filhos pequenininhos para cortar os
cabelos, todos os outros homens que estavam lá tinham uma mulher os acompanhando:
mãe, esposa, namorada ou periguete. Além de ser um absurdo por si só – pois os
machos não vão aos salões de beleza ficar acompanhando as mulheres pintarem as
unhas ou fazerem permanentes em seus cabelos – se torna um absurdo ainda maior sabendo
que a barbearia está localizada dentro de um shopping, o que me leva a perguntar:
o que faziam aquelas mulheres ali sentadas esperando, enquanto havia uma
porrada de lojas a serem exploradas? Isso me leva ao segundo motivo.
A mulherada
simplesmente estava no controle absoluto da situação. Elas não estavam
simplesmente esperando, estavam ditando o comportamento de seus machos. Todas
com olhares ameaçadores para os seus pobres homens que, de tão tímidos e
reprimidos, não se ouvia qualquer barulho ou conversa. Onde já se viu uma
barbearia silenciosa? Barbearia é por natureza um lugar barulhento, lugar de
bravatas, lugar onde se fala de política, de esporte e de mulher,
principalmente aquelas das revistas. Todas as barbearias eram assim, menos
aquela ali, que só se ouvia o blues tocando, o som das tesouras cortando e as
ordens femininas, que a todo instante ditavam o como e o quanto os cabelos dos
machos deveriam ser cortados. Aquilo ali era mais um petshop do que uma barbearia. Menos mal pelo blues!
O terceiro
motivo é que, apesar de ter uma máquina de chope e da barbearia dar de graça um
chope a cada cabelo cortado, nenhum homem estava bebendo. Isso é um pecado!
Onde já se viu ter chope de graça e ninguém aproveitando? Para não dizer que ninguém
aproveitou, quando soube disto eu pedi um para mim e fui acompanhado pelo
senhor com os filhos. Resumindo: apenas os dois homens desacompanhados estavam
bebendo o que tinham de direito, todos os outros estavam quietinhos. Isso é um
fato aterrorizante e o próximo é mais ainda.
O quarto
motivo é o mais evidente da total falta de ambiente para o macho tradicional.
Muito embora tivesse um volume considerável de revistas masculinas nenhum homem
ousou abrir qualquer uma das revistas de mulher pelada. Eu imagino e senti na
pele a tensão que dá ver a Playboy do mês ali na sua frente e ter de ignorar
isso. Eu, como não tinha nenhuma fiscal a me controlar, ousei abrir uma Sexy e
fui lenta e cuidadosamente passando as páginas, fingindo me interessar pelos
textos e colunas, doido para chegar às fotos. Foi um misto de vontade de ver o
conteúdo e o medo da repressão expressa nos olhares ao meu redor. Mas, fui em
frente e vi o que tinha de direito. Talvez por medo, pena ou companheirismo aos
demais desafortunados que estavam presentes e vigiados, eu parei apenas na
primeira revista e me aquietei. Em um ambiente natural do macho, não só
abriríamos todas as revistas como comentaríamos e até diríamos em alto e bom
tom: que bunda gostosa!
Por fim, para
acabar de vez com tudo e decretar o fim ou a inutilidade do macho tradicional,
chegou um casal jovem ao estabelecimento. Eu, nessa hora, já estava no segundo
chope e doido para ir embora. O casal em questão aproximou-se do balcão de
chope. O rapaz não abriu a boca e a garota disse claramente para o atendente:
ele vai cortar o cabelo e o chope é para mim.
Talvez já seja verdade o que diz um comediante:
homem é que nem vassoura, retire-lhe o cabo e não serve mais para nada.
Decretado o fim do macho tradicional!