segunda-feira, 3 de maio de 2010

Qual a motivação?


Uma das coisas que aprendi nos últimos tempos é que blogar é inversamente proporcional a estudar, que no meu caso é produzir uma tese. Nos últimos meses, estou me dedicando mais ao doutorado e, com isso, toda linha que escrevo tem de ser extremamente chata. Ou seja: deixei de lado meu blog para cumprir a etapa de qualificação da tese. Entretanto, quanto mais eu escrevo para a tese, mais faço referência nela e mais tenho certeza que ninguém vai lê-la. No blog é o contrário, pelo menos tenho dois ou três fiéis leitores que já estão reclamando da falta de novidades.

Bem... deixando um pouco de lado a tese, não consegui resistir à uma inquietação que me acometeu essa semana e resolvi filosofar um pouco aqui. Eu estava indo costumeiramente ao trabalho, cedo da manhã, quando o semáforo fechou quase que deliberadamente. Assustando, parei o carro com os sonolentos reflexos da manhã, pois meus pensamentos ainda estavam no travesseiro. Fiquei olhando para ver se alguém tivera notado a minha desatenção e parada meio que abrupta, quando notei algo de errado. Tratava-se de algo relativamente comum, corriqueiro, mas que não estava combinando. Algo que não poderia estar andando junto.

Passavam, pela frente do meu carro, um homem e dois cachorros. Até aí tudo bem! Homens passeiam com cachorro desde que homem é homem e cachorro é cachorro. Mas aquele homem que passou pela frente do meu carro não poderia passear com aqueles cachorros. Descreverei os cachorros, depois os homens e, em seguida, a teoria.

Os cachorros eram lindos. Lindos demais! Acredito que eram poodles, mas não sou especialista em raças para confirmar isso. Só sei que os dois tinham lacinhos nas orelhas, correntes coloridas com os nomes gravados em plaquinhas, pêlos impecavelmente bem cortados e extremamente brancos, assim como guias estampadas e bem alegres.

O homem era tenebroso. Não porque era feio. Bonito também não era. Mas, estava com uma cara de ressaca terrível. Ele lembrava bem o biótipo dos homens da minha família: barriga grande, braço fino e cara inchada. Aparentava uns 56 anos bem bebidos. Carregava, na mão esquerda, as guias dos cachorros, no sovaco direito, o jornal do dia, na mão direita, um cigarro aceso e, no pé, um chinelo meia vida.

Aquilo estava errado. Imediatamente me lembrei do filme Matrix, onde os seres humanos são controlados por um programa que, de vez em quando, alguma coisa dá errada e a vida sai do comum. No filme Matrix, um gato passou duas vezes pelo mesmo lugar, da mesma forma, como acontece numa cena cortada e mal emendada. Na minha cena matutina, a combinação homem-cachorros estava também errada. Terá sido um erro de programa?
Quando o sinal abriu, fiquei com a cena na minha cabeça até chegar ao trabalho. Aquilo me inquietava. O que motivava aquele cinqüentão ressacado passear com dois cachorrinhos logo cedo da manhã? A explicação estaria em sua motivação.

Motivação é algo que todos querem saber, justamente porque é extremamente difícil de explicar. O que motiva o comportamento humano? O que fez aquele homem sair, àquela hora, com dois cachorrinhos. Algumas hipóteses surgiram.

Considerando que a motivação é um impulso que nos leva a tentar alcançar determinados objetivos, que ela está intimamente relacionada com a necessidade e que necessidade é a falta ou carência de algum elemento básico para a sobrevivência e vida das pessoas, imaginei que o homem passeava com os cachorrinhos porque tivera que comprar o jornal matutino.

Jornal, não! Nenhum jornal é capaz de gerar necessidade suficiente para motivar um homem a sair pela rua com cachorrinhos para adquiri-lo. Foi o cigarro! Cigarro, sim, é capaz disso.

Mas, o cigarro não explica tudo. Pois, o homem poderia simplesmente deixar os cachorrinhos presos em casa ou no apartamento, sem precisar passar por esse mico. Então, qual seria o verdadeiro fator motivacional daquele homem?
Mulher! Isso! Mulher é a resposta. Mas, como?

Uma explicação plausível seria a de que aqueles cachorros não seriam dele e sim da mulher ou namorada dele. Mas, essa explicação não se sustenta por muito tempo, pois o comportamento humano, que é influenciado pela motivação e pela necessidade, não se adequaria a essa hipótese. Homem nenhum teria esse tipo de comportamento: passear com o cachorrinho da mulher ou namorada. Já que isso não é possível, surge uma segunda explicação, mais plausível e mais forte: o homem não teria mulher, tampouco namorada, e sim uma paquera.

Paquera sim seria uma fonte de motivação suficientemente forte para influenciar o comportamento daquele homem. Na verdade, ele deveria estar paquerando alguma garota, mais nova que ele, que adora cachorros. Para impressioná-la decisivamente, ele decidiu comprar e suportar dois poodles. Não serviriam pitbulls. Apenas poodles teriam o poder de retirar qualquer dúvida da possível pretendente em relação ao estima homem-animal. Fascinada com o trato devotado aos animais, a pretendente daquele homem sucumbiria aos seus encantos e talentos.

Entretanto, também temos que considerar uma derradeira possibilidade: a da compensação. O ser humano adota determinado comportamento por causa de uma necessidade. Seu comportamento é modificado para suprir essa necessidade. Entretanto, quando a necessidade não é satisfeita, ocorre a frustração. Neste sentido, temos uma derradeira alternativa para nossa cena inimaginável: os cachorrinhos seriam, na verdade, formas alternativas de compensar uma frustração.

Bingo!

Uma vez que ele não conseguiu conquistar a pretendente, como compensação, sobraram os cachorros. Isso explicaria a dedicação matutina de passear com aquelas fofuras.

Mas, pensando melhor, fica mais fácil imaginar que, simplesmente, homens de ressaca, vestindo chinelo meia boca e carregando jornal no sovaco e cigarro na mão também podem adorar poodles.

Quer saber de uma coisa: abaixo o preconceito e viva a diversidade!

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