segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Xote da Xenofobia


Vez por outra, assusto-me com as reações contra a xenofobia. Muitas delas mais xenófobas que as ações iniciais que as motivaram. Xenofobia é entendida como o medo, preconceito, aversão ou profunda irritação que uma pessoa ou população tem ao estrangeiro, algumas vezes associado a outra etnia e cultura. Entretanto, o termo pode ser perfeitamente utilizado para classificar reações contra grupos de pessoas de diferentes regiões de um mesmo país.

No Brasil, o caso mais recente de xenofobia ocorreu justamente após a eleição presidencial, com a vitória de Dilma Rousseff. Tal vitória foi associada à massiva votação que a candidata obteve dos eleitores das regiões Norte e, principalmente, Nordeste do país. Como estas regiões são as mais beneficiadas por programas assistencialistas, de transferência de renda, do governo da petista, a vitória de Dilma traduz uma aparente divisão do país entre o norte e o sul, entre o rico e o pobre, entre o assistido e o que dá assistência.

Xenófobos de plantão, oposicionistas às atuais políticas públicas, após a vitória petista, logo levantaram bandeira. No caso mais divulgado e comentado, uma estudante de direito, Mayara Petruso, publicou em seu Twitter sua aversão aos nordestinos: “Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”. Dá para imaginar o alvoroço que se formou em torno dessa citação (que aliás, para uma estudante de direito, está muito fraca).

O contra-ataque veio de imediato: inúmeras declarações de repúdio e profundas mensagens tentando desmentir Mayara. As mais veementes mostravam belas paisagens nordestinas, letras de músicas e inúmeras personalidades (de Zumbi a Caetano), num esforço de valorizar o povo, a economia e a geografia do nordeste. No fundo, todas essas mensagens são uma tentativa de aliviar o complexo de inferioridade do nordestino. Não ajudam em nada.

Assim como o Haiti é, em muitos aspectos, inferior ao Brasil que, por sua vez, é inferior aos Estados Unidos, o Nordeste é inferior ao Sul-Sudeste. Sempre vai haver uma região mais desenvolvida que outra. A Alemanha Ocidental é mais desenvolvida que a Oriental. A Coréia do Sul é mais desenvolvida que a no Norte. Até em pequenos países, como a Holanda, há diferenças entre províncias separadas por menos de 200 km. Diferenças vão existir, sempre. Por isso deve haver política de compensação para tentar diminuí-las.

Xenofobia é simplesmente uma questão financeira entre o rico e o pobre. Não importa se o rico ou o pobre é branco, amarelo ou laranja. Na África do Sul, por exemplo, no auge do regime apartheid, os japoneses (ricos) eram considerados “brancos honorários”. Já os chineses (pobres) eram considerados sub-raça, apesar de um sul-africano branco não conseguir distinguir entre um japonês e um chinês. Contra xenofobia não adianta ficar lambendo o passado ou recitando poetas mortos. Contra xenofobia existem duas ações: aplicação de leis severas (solução em curto prazo) e crescimento econômico (solução a médio e longo prazo).

A última coisa a se fazer contra xenofobia é se inspirar e escrever letras de música como essa:

Já que existe no sul esse conceito
Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-la de direito
Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Composição: Bráulio Tavares/Ivanildo Vilanova

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Alternância de Poder


Findada mais uma eleição presidencial e decretada a vitória massacrante do PT. Vitória de Lula, de Dilma, de Dirceu, de Sarney, de Collor e de Tiririca. O que ficou marcada, nessas eleições, foi a inexistência de alternativa. Serra não se mostrou alternativa e sim alternância. O projeto do PSDB, assim como o do PT é de centrão. Apóiam tudo que for bom para ter mais voto.

Se for para apoiar a não privatização da Petrobras, pois isso angaria votos, eles (PT e PSDB) apóiam. Se for para criminalizar o aborto, por que isso agrada a Igreja Católica, eles defendem. Se for para defender uma política verde, mesmo sem saber como se aplica, mas que traga os votos do PV, eles novamente o fazem. Se for para lascar o pau no Capital, mesmo que hipocritamente, mas que aparenta um nacionalismo barato e arrecadador de votos, eles quebram o barraco. Então, qual é a alternativa? Apostei na alternância de poder, mas ela não aconteceu.

Alternância de poder é a saída do cidadão que não tem saída. Já que está tudo igual, deixe-me ao menos revezar o poder para evitar excessos. Excessos que todos conhecem e fingem não conhecer, pois deles, de alguma forma, são beneficiados, sejam tucanos ou petistas. Alternância significa aceitar que todo mundo roube um pouco de cada vez e não que apenas um roube muito o tempo todo. Alternância é mais ou menos o que acontece na piada que escutei nos últimos dias:

Na delegacia, chega um acusado de ter roubado um relógio. O delegado, mira nos olhos do suposto ladrão e diz:
- Carcereiro! Come o rabo desse aqui e depois joga na cela mais imunda que temos.
O suposto ladrão, indignado, fica aos prantos reclamando do futuro tratamento que receberá na mão do carcereiro, quando chega um suspeito de roubar uma televisão. O delegado, mais uma vez, mira nos olhos do segundo suspeito e diz:
- Carcereiro! Quebra as pernas desse aqui, pendura no pau-de-arara e deixa secando ao sol.
O primeiro suposto ladrão fica maluco e reclama:
- Como é que pode? Onde vão parar com isso?
Chega outro suspeito de ter roubado um carro. Outra vez, o delegado, implacável, mira nos olhos do suspeito e diz:
- Carcereiro! Quebra as pernas e os braços desse meliante aqui, pendura no pau-de-arara e aplica 3000 w nos testículos.
Nesse momento, sem reclamar mais de nada, o primeiro suspeito fala para o carcereiro:
- Ei carcereiro, eu sou o do rabo, viu? Não vai esquecer!

Apostando na alternância, nos últimos dias, estava olhando para Serra (na TV) e pensando: ei Serra eu sou o do rabo, viu?

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