quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Jingles Infernais


Segundo a Wikipédia, Jingle é uma mensagem publicitária musicada e elaborada com um refrão simples e de curta duração, com o propósito de ser lembrado com facilidade. Essa música é feita para ter uma melodia cativante, transmitida em rádio e, algumas vezes, em comerciais de televisão. Um jingle eficiente é feito para "prender" na memória das pessoas. Por isso é tão comum que as pessoas lembrem de jingles que não são mais transmitidos há décadas.

Além das empresas e governos, com seus comerciais veiculados em rádio e TV, certamente quem também usa e abusa dessa ferramenta de comunicação são os políticos em época de eleição. Como um dos segredos para a memorização é a repetição, principalmente quando não queremos memorizar, os “marketeiros” dos políticos gastam dinheiro e mais dinheiro em esquadrões de carros de som para massacrar os eleitores com suas mensagens aparentemente inofensivas.

A fórmula geralmente utilizada é: quanto mais carros de som tiver um político mais ele estará sendo conhecido e memorizado. Com isso, as ruas das cidades viram um palco de disputa não regulamentada da campanha eleitoral. Para os eleitores, é como se fosse uma tortura chinesa: mesmo durante a madrugada, quando não há carro de som nas ruas, o eleitor, bombardeado durante o dia, fica escutando no subconsciente os jingles dos candidatos.

Particularmente, por trabalhar na esquina mais movimentada de Lauro de Freitas, estou sendo vítima dessa estupidez do marketing político. Digo estupidez, pois a quantidade de carros de som é tamanha que os jingles se misturam e, por vezes, fica impossível distinguir qual música está sendo tocada, numa . O dia mais insuportável que já aconteceu foi quando inventaram fazer uma carreata de carros de som. O resultado foi previsível: muita dor de cabeça e confusão de informações.

A seguir, os jingles mais insistentemente veiculados em Lauro de Freitas.

Força, coragem e trabalho para fazer muito mais
Dois leões lutando pelo seu povo
Força em dobro pra fazer muito mais
1115 é João Leão, pra Deputado Federal
11011 É Cacá Leão, pra Deputado Estadual
É força, em dobro, é garra de dois leões


Sou Lula, Tô com Dilma, Quero Wagner de novo
Três irmãos de fé, fazendo mais
Pela vida do povo
A Bahia vai segui em frente
Com Wagner Governador e Dilma Presidente
Deixe, deixe a estrela brilhar
Deixe, deixe a Bahia feliz
O povo é quem diz, é Wagner de novo


Meu Brasil querido vamos em frente sem olhar para trás
Pra seguir mudando, seguir crescendo, ter muito mais
E o Brasil mudou, o Brasil mudou, Lula começou
Vai seguir com a Dilma com a nossa força e o nosso amor
(...)
Lula tá com ela
Eu também tou
Veja como o Brasil já mudou
Mas, agente quer mais
Quer mais e melhor é com a Dilma que vou


Salvador Brito o meu voto é pra você
Salvador Brito Deputado Estadual
Eu quero ver você na Assembléia
Defendendo a igualdade e a justiça social
Educação e saúde para o povo
Emprego e renda para o povo se alegrar
Salvador Brito companheiro e amigo
Nessa luta estou contigo
Em você eu vou votar
13789 Salvador Brito Deputado Estadual


Eu vou votar... vou confirmar... é Chico, é Chico, é Chico, é Chico Franco!
Eu vou votar... vou confirmar... é Chico, é Chico, é Chico, é Chico Franco!
Tô com Chico da cabeça aos pés.
Tô com Chico da cabeça aos pés.

Isso todo dia, o dia todo. Sem intervalo e com intersecções. Bom seria se, ao menos, as letras bonitas fossem verdade.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O Marketing Político e a vitória de Dilma


Não há melhor momento para falar sobre marketing político do que no decorrer de uma eleição para presidente da república. Muito confundido com ações publicitárias enganosas para ludibriar o coitado do eleitor e fazer dele um “babaca”, que compra um produto estragado e ainda fica feliz, nas campanhas eleitorais o marketing político, como afirma Castillo, torna-se a “Geni” nacional capaz de fabricar e eleger candidatos enlatados e artificiais, pouco capazes de encher um copo americano com os seus projetos copiados uns dos outros para, depois das eleições, ser esquecida por mais quatro anos. Mas, o que é Marketing Político, senão uma enganação?

Marketing político nada mais é do que o marketing aplicado ao político e à política. Então, o que é o marketing, senão outra enganação?

Pela definição de Philip Kotler marketing é um processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação, oferta e troca de produtos de valor com outros. No marketing, os principais conceitos são os de necessidade, desejo, produto, comunicação, troca, valor e satisfação.

Necessidade é um estado de privação de alguma satisfação básica, não é criada pela sociedade e é inerente à condição humana, como, por exemplo: a fome. Desejo é uma carência por satisfação específica para atender às necessidades, como, por exemplo: comer uma pizza da Dr. Pizza para matar a fome. Produto são bens (carros, televisores, barbeadores, pizzas etc.), serviços (transporte, consultoria, corte de cabelo etc.) ou idéias (religião, ideologia etc.) oferecidos para satisfazer à necessidade e ao desejo. As empresas estabelecem comunicação (propaganda e publicidade) com os consumidores para a troca de seus produtos. A troca é a atividade social que permite os indivíduos e os grupos conseguirem os produtos que necessitam e desejam. Valor ocorre quanto os produtos trocados geram mais benefício que o custo para adquiri-los. A satisfação é um sentimento que ocorre quando o produto adquirido corresponde às expectativas dos indivíduos e grupos.

Entendeu? No marketing político o processo é o mesmo. As pessoas e os grupos vivem e ocorrem em sociedade e, por estarem em sociedade, precisam se organizar, estabelecer regras, leis e destinar seus esforços e recursos para a prosperidade da sociedade como um todo. Nas sociedades democráticas, a política e os políticos são produtos criados para suprir as necessidades e os desejos de organização, planejamento, coordenação e controle dos esforços dessas sociedades. Os partidos políticos se comunicam com os eleitores, ao longo da gestão e principalmente perto das eleições, para o convencimento daqueles acerca de suas ações e propostas. A troca ocorre sempre no processo eleitoral: os partidos políticos oferecem seus representantes e projetos em troca do voto da população. O valor ocorre quanto essa troca é positiva para os dois lados: políticos e população. A satisfação, por sua vez, ocorre quando a população aprova os políticos eleitos em função de suas expectativas iniciais.

Na troca política das próximas eleições presidenciais o partido político que sairá vitorioso será aquele que melhor aplicar os conceitos de marketing. Neste sentido, o PT corre como coelho enquanto o PSDB ensaia passos de caranguejo.

O que diferencia o candidato do PT do candidato do PSDB? Certamente não são as propostas políticas, pois, atualmente, elas são completamente pasteurizadas. O que diferencia os candidatos é a capacidade que o PT tem, por meio da máquina pública, de gerar valor e satisfação na troca eleitoral para a maioria da população.

Lula é popular e a candidata de Lula é a preferida na corrida eleitoral pelo fato da maioria dos eleitores brasileiros estarem satisfeitos com a gestão petista. Você pode até não concordar, mas é o que acontece. Neste processo mercadológico, algumas situações corroboram para que a população esteja satisfeita com o PT e eleja Dilma em outubro próximo:

Primeiro: a gestão de Lula partiu de uma expectativa muito baixa e até ruim. Antes de assumir, o receito da gestão PT foi traduzido no aumento da inflação, na queda da bolsa de valores, na subida do dólar e da taxa de juros. Com expectativas baixas, superá-las foi fácil. Só em manter a política econômica igual ao do antecessor deu alívio e satisfação aos eleitores. Resumindo: imaginava-se que seria um desastre e, por não ter sido desastre, ficamos satisfeito.

Segundo: o PT conseguiu atender aos desejos das pessoas, mais que às suas necessidades. Atender aos desejos da população se mostra mais interessante para um partido político do que atender as necessidades. Necessidades são básicas e não são criadas. Desejos são frutos da cultura de um povo e, portanto, perfeitamente fabricados. Por exemplo: necessidade de água no sertão é bem diferente do desejo da transposição do rio São Francisco. Por exemplo: necessidade de emprego é bem diferente do desejo da aceleração do crescimento, feito pelo PAC. Outro exemplo: necessidade de auto-afirmação ou da prática de esporte é bem diferente do desejo de ser sede da Copa do Mundo ou das Olimpíadas.

Terceiro: Lula e o PT ocupam brilhantemente os melhores espaços da mente das pessoas. Mensagens como “primeiro trabalhador a ser presidente”, “nunca antes na história desse país”, “credor do FMI”, “Lula o filho do Brasil”, “exportador de petróleo e pré-sal” e outras são importantíssimas para deixar aos concorrentes pouco ou nenhum espaço a ser ocupado.

Quarto: o PT e, principalmente, Lula se comunicam perfeitamente com a maioria da população. No marketing, comunicação é elementar. O PSDB pode até ter criado programas de transferência de renda e assistencialistas como o Bolsa Família, mas todos creditam a Lula a sua existência. O PSDB pode até ter criado o Plano Real, mas é o PT quem colhe o fruto ao comunicar o vigor da economia. A Petrobrás pode até ter sido reorganizada na gestão do PSDB, mas é com o PT e o pré-sal que ela se torna a companhia mais influente no Brasil. Outros programas são de puro mérito petista e igualmente bem comunicados, como o caso da Minha Casa Minha Vida.

Quinto: o PT usa bem sua marca e ídolos. Lula é o ídolo do PT que está sendo disputado até pelo PSDB. Se Serra pudesse, ele também posaria para uma foto ao lado de Lula. Aqui na Bahia, chegou-se ao ridículo de todos os principais candidatos utilizarem santinhos com a foto de Lula. Ninguém fez o mesmo como FHC, no Brasil, ou com ACM, aqui na Bahia. Com Lula ao lado é quase improvável um ataque frontal dos concorrentes. Como enfrentar Dilma se ela está com Lula? Como enfrentar Lula se ele é querido pela grande maioria da população. Um dia, disseram que Lula não transferiria votos. Hoje, vê-se que o PT conseguiu transferir os votos de Lula à Dilma.

O resultado das próximas eleições já é certo. Enquanto o PSDB agoniza e procura factóides para uma tentativa de segundo turno, o PT brilhantemente usa os conceitos do marketing político a seu favor.

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