terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Matéria


Matéria, assunto que aprendemos em física logo quando começamos a estudá-la na educação básica. Matéria, aquele elemento que ocupa lugar no espaço e que, de alguma forma, existe. Matéria, aquela coisa constituída de partes menores, como os prótons, os nêutrons e os elétrons. Matéria, aquilo que varia conforme a temperatura e a pressão, podendo aparecer na forma gasosa, líquida, sólida e outras. Matéria, conceito amplamente ignorado pelos engenheiros de tráfego.

Dentre as propriedades da matéria, talvez a mais conhecida seja a da impenetrabilidade, que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo. Mas, a matéria tem outras igualmente interessantes, entre elas, por exemplo: a da extensão, que indica o espaço ocupado pelo corpo; a da mobilidade, que traz que o corpo pode ocupar outras posições espaços; assim como a da inércia, que ser refere à tendência do corpo se manter em repouso ou movimento, a menos que uma força oposta haja sobre ela.

Na ex-bucólica e atualmente transtornada cidade de Lauro de Freitas, os engenheiros de tráfego, profissionais supostamente competentes para lidar com o planejamento, a operação e o controle do trânsito, dão nova lição de que não aprenderam nada nas lições de física.

Por estar junto à Salvador, Lauro de Freitas tem uma vantagem e desvantagem. A vantagem é o vigoroso crescimento, sendo uma das cidades que mais cresce no Brasil. A desvantagem é conseqüência desse crescimento: mais gente, mais carros, mais confusão. Essa desvantagem não seria um problema se houvesse planejamento e ordem no crescimento da cidade. Mas, em Lauro de Freitas, isso é querer muito.

O exemplo atual do caos que está o crescimento de Lauro de Freitas é a recente mudança de sentido na Avenida Luiz Tarquínio. Tal avenida é um importante corredor que cruza praticamente toda extensão da cidade, sendo único meio de acesso a alguns dos principais bairros: Centro, Vilas, Miragem, Buraquinho, Jokey etc. Desde que a cidade começou a crescer, havia a necessidade de obras de infraestrutura para ampliar essa avenida ou direcionar seu fluxo de veículos em uma só mão.

A solução mais fácil é o direcionamento unilateral do fluxo da avenida. Mas, isso tem conseqüências e não pode ser adotado sem o mínimo de investimento e cálculos para ver se na direção pretendida o fluxo de carros (matéria) seria absorvido. Aparentemente, esses cuidados não foram tomados pelos engenheiros de tráfego de Lauro de Freitas.

Nesta manhã, o sentido adotado foi Vilas – Centro. O centro, que antes da mudança, já dava sinais de esgotamento nos horários de pico, amanheceu completamente mergulhado num mar de carros e ônibus. Resultado: ninguém sai e ninguém entra em Lauro de Freitas; escolas sem aluno; lojas sem vendedores; todos presos nos veículos.

Na manhã de muita buzina e irritação, onde os engenheiros demonstram desconhecer as propriedades da matéria, relembra-se a velha citação e Octávio Mangabeira: pense no absurdo, na Bahia tem precedente.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Xote da Xenofobia


Vez por outra, assusto-me com as reações contra a xenofobia. Muitas delas mais xenófobas que as ações iniciais que as motivaram. Xenofobia é entendida como o medo, preconceito, aversão ou profunda irritação que uma pessoa ou população tem ao estrangeiro, algumas vezes associado a outra etnia e cultura. Entretanto, o termo pode ser perfeitamente utilizado para classificar reações contra grupos de pessoas de diferentes regiões de um mesmo país.

No Brasil, o caso mais recente de xenofobia ocorreu justamente após a eleição presidencial, com a vitória de Dilma Rousseff. Tal vitória foi associada à massiva votação que a candidata obteve dos eleitores das regiões Norte e, principalmente, Nordeste do país. Como estas regiões são as mais beneficiadas por programas assistencialistas, de transferência de renda, do governo da petista, a vitória de Dilma traduz uma aparente divisão do país entre o norte e o sul, entre o rico e o pobre, entre o assistido e o que dá assistência.

Xenófobos de plantão, oposicionistas às atuais políticas públicas, após a vitória petista, logo levantaram bandeira. No caso mais divulgado e comentado, uma estudante de direito, Mayara Petruso, publicou em seu Twitter sua aversão aos nordestinos: “Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”. Dá para imaginar o alvoroço que se formou em torno dessa citação (que aliás, para uma estudante de direito, está muito fraca).

O contra-ataque veio de imediato: inúmeras declarações de repúdio e profundas mensagens tentando desmentir Mayara. As mais veementes mostravam belas paisagens nordestinas, letras de músicas e inúmeras personalidades (de Zumbi a Caetano), num esforço de valorizar o povo, a economia e a geografia do nordeste. No fundo, todas essas mensagens são uma tentativa de aliviar o complexo de inferioridade do nordestino. Não ajudam em nada.

Assim como o Haiti é, em muitos aspectos, inferior ao Brasil que, por sua vez, é inferior aos Estados Unidos, o Nordeste é inferior ao Sul-Sudeste. Sempre vai haver uma região mais desenvolvida que outra. A Alemanha Ocidental é mais desenvolvida que a Oriental. A Coréia do Sul é mais desenvolvida que a no Norte. Até em pequenos países, como a Holanda, há diferenças entre províncias separadas por menos de 200 km. Diferenças vão existir, sempre. Por isso deve haver política de compensação para tentar diminuí-las.

Xenofobia é simplesmente uma questão financeira entre o rico e o pobre. Não importa se o rico ou o pobre é branco, amarelo ou laranja. Na África do Sul, por exemplo, no auge do regime apartheid, os japoneses (ricos) eram considerados “brancos honorários”. Já os chineses (pobres) eram considerados sub-raça, apesar de um sul-africano branco não conseguir distinguir entre um japonês e um chinês. Contra xenofobia não adianta ficar lambendo o passado ou recitando poetas mortos. Contra xenofobia existem duas ações: aplicação de leis severas (solução em curto prazo) e crescimento econômico (solução a médio e longo prazo).

A última coisa a se fazer contra xenofobia é se inspirar e escrever letras de música como essa:

Já que existe no sul esse conceito
Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-la de direito
Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Composição: Bráulio Tavares/Ivanildo Vilanova

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Alternância de Poder


Findada mais uma eleição presidencial e decretada a vitória massacrante do PT. Vitória de Lula, de Dilma, de Dirceu, de Sarney, de Collor e de Tiririca. O que ficou marcada, nessas eleições, foi a inexistência de alternativa. Serra não se mostrou alternativa e sim alternância. O projeto do PSDB, assim como o do PT é de centrão. Apóiam tudo que for bom para ter mais voto.

Se for para apoiar a não privatização da Petrobras, pois isso angaria votos, eles (PT e PSDB) apóiam. Se for para criminalizar o aborto, por que isso agrada a Igreja Católica, eles defendem. Se for para defender uma política verde, mesmo sem saber como se aplica, mas que traga os votos do PV, eles novamente o fazem. Se for para lascar o pau no Capital, mesmo que hipocritamente, mas que aparenta um nacionalismo barato e arrecadador de votos, eles quebram o barraco. Então, qual é a alternativa? Apostei na alternância de poder, mas ela não aconteceu.

Alternância de poder é a saída do cidadão que não tem saída. Já que está tudo igual, deixe-me ao menos revezar o poder para evitar excessos. Excessos que todos conhecem e fingem não conhecer, pois deles, de alguma forma, são beneficiados, sejam tucanos ou petistas. Alternância significa aceitar que todo mundo roube um pouco de cada vez e não que apenas um roube muito o tempo todo. Alternância é mais ou menos o que acontece na piada que escutei nos últimos dias:

Na delegacia, chega um acusado de ter roubado um relógio. O delegado, mira nos olhos do suposto ladrão e diz:
- Carcereiro! Come o rabo desse aqui e depois joga na cela mais imunda que temos.
O suposto ladrão, indignado, fica aos prantos reclamando do futuro tratamento que receberá na mão do carcereiro, quando chega um suspeito de roubar uma televisão. O delegado, mais uma vez, mira nos olhos do segundo suspeito e diz:
- Carcereiro! Quebra as pernas desse aqui, pendura no pau-de-arara e deixa secando ao sol.
O primeiro suposto ladrão fica maluco e reclama:
- Como é que pode? Onde vão parar com isso?
Chega outro suspeito de ter roubado um carro. Outra vez, o delegado, implacável, mira nos olhos do suspeito e diz:
- Carcereiro! Quebra as pernas e os braços desse meliante aqui, pendura no pau-de-arara e aplica 3000 w nos testículos.
Nesse momento, sem reclamar mais de nada, o primeiro suspeito fala para o carcereiro:
- Ei carcereiro, eu sou o do rabo, viu? Não vai esquecer!

Apostando na alternância, nos últimos dias, estava olhando para Serra (na TV) e pensando: ei Serra eu sou o do rabo, viu?

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Jingles Infernais


Segundo a Wikipédia, Jingle é uma mensagem publicitária musicada e elaborada com um refrão simples e de curta duração, com o propósito de ser lembrado com facilidade. Essa música é feita para ter uma melodia cativante, transmitida em rádio e, algumas vezes, em comerciais de televisão. Um jingle eficiente é feito para "prender" na memória das pessoas. Por isso é tão comum que as pessoas lembrem de jingles que não são mais transmitidos há décadas.

Além das empresas e governos, com seus comerciais veiculados em rádio e TV, certamente quem também usa e abusa dessa ferramenta de comunicação são os políticos em época de eleição. Como um dos segredos para a memorização é a repetição, principalmente quando não queremos memorizar, os “marketeiros” dos políticos gastam dinheiro e mais dinheiro em esquadrões de carros de som para massacrar os eleitores com suas mensagens aparentemente inofensivas.

A fórmula geralmente utilizada é: quanto mais carros de som tiver um político mais ele estará sendo conhecido e memorizado. Com isso, as ruas das cidades viram um palco de disputa não regulamentada da campanha eleitoral. Para os eleitores, é como se fosse uma tortura chinesa: mesmo durante a madrugada, quando não há carro de som nas ruas, o eleitor, bombardeado durante o dia, fica escutando no subconsciente os jingles dos candidatos.

Particularmente, por trabalhar na esquina mais movimentada de Lauro de Freitas, estou sendo vítima dessa estupidez do marketing político. Digo estupidez, pois a quantidade de carros de som é tamanha que os jingles se misturam e, por vezes, fica impossível distinguir qual música está sendo tocada, numa . O dia mais insuportável que já aconteceu foi quando inventaram fazer uma carreata de carros de som. O resultado foi previsível: muita dor de cabeça e confusão de informações.

A seguir, os jingles mais insistentemente veiculados em Lauro de Freitas.

Força, coragem e trabalho para fazer muito mais
Dois leões lutando pelo seu povo
Força em dobro pra fazer muito mais
1115 é João Leão, pra Deputado Federal
11011 É Cacá Leão, pra Deputado Estadual
É força, em dobro, é garra de dois leões


Sou Lula, Tô com Dilma, Quero Wagner de novo
Três irmãos de fé, fazendo mais
Pela vida do povo
A Bahia vai segui em frente
Com Wagner Governador e Dilma Presidente
Deixe, deixe a estrela brilhar
Deixe, deixe a Bahia feliz
O povo é quem diz, é Wagner de novo


Meu Brasil querido vamos em frente sem olhar para trás
Pra seguir mudando, seguir crescendo, ter muito mais
E o Brasil mudou, o Brasil mudou, Lula começou
Vai seguir com a Dilma com a nossa força e o nosso amor
(...)
Lula tá com ela
Eu também tou
Veja como o Brasil já mudou
Mas, agente quer mais
Quer mais e melhor é com a Dilma que vou


Salvador Brito o meu voto é pra você
Salvador Brito Deputado Estadual
Eu quero ver você na Assembléia
Defendendo a igualdade e a justiça social
Educação e saúde para o povo
Emprego e renda para o povo se alegrar
Salvador Brito companheiro e amigo
Nessa luta estou contigo
Em você eu vou votar
13789 Salvador Brito Deputado Estadual


Eu vou votar... vou confirmar... é Chico, é Chico, é Chico, é Chico Franco!
Eu vou votar... vou confirmar... é Chico, é Chico, é Chico, é Chico Franco!
Tô com Chico da cabeça aos pés.
Tô com Chico da cabeça aos pés.

Isso todo dia, o dia todo. Sem intervalo e com intersecções. Bom seria se, ao menos, as letras bonitas fossem verdade.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O Marketing Político e a vitória de Dilma


Não há melhor momento para falar sobre marketing político do que no decorrer de uma eleição para presidente da república. Muito confundido com ações publicitárias enganosas para ludibriar o coitado do eleitor e fazer dele um “babaca”, que compra um produto estragado e ainda fica feliz, nas campanhas eleitorais o marketing político, como afirma Castillo, torna-se a “Geni” nacional capaz de fabricar e eleger candidatos enlatados e artificiais, pouco capazes de encher um copo americano com os seus projetos copiados uns dos outros para, depois das eleições, ser esquecida por mais quatro anos. Mas, o que é Marketing Político, senão uma enganação?

Marketing político nada mais é do que o marketing aplicado ao político e à política. Então, o que é o marketing, senão outra enganação?

Pela definição de Philip Kotler marketing é um processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação, oferta e troca de produtos de valor com outros. No marketing, os principais conceitos são os de necessidade, desejo, produto, comunicação, troca, valor e satisfação.

Necessidade é um estado de privação de alguma satisfação básica, não é criada pela sociedade e é inerente à condição humana, como, por exemplo: a fome. Desejo é uma carência por satisfação específica para atender às necessidades, como, por exemplo: comer uma pizza da Dr. Pizza para matar a fome. Produto são bens (carros, televisores, barbeadores, pizzas etc.), serviços (transporte, consultoria, corte de cabelo etc.) ou idéias (religião, ideologia etc.) oferecidos para satisfazer à necessidade e ao desejo. As empresas estabelecem comunicação (propaganda e publicidade) com os consumidores para a troca de seus produtos. A troca é a atividade social que permite os indivíduos e os grupos conseguirem os produtos que necessitam e desejam. Valor ocorre quanto os produtos trocados geram mais benefício que o custo para adquiri-los. A satisfação é um sentimento que ocorre quando o produto adquirido corresponde às expectativas dos indivíduos e grupos.

Entendeu? No marketing político o processo é o mesmo. As pessoas e os grupos vivem e ocorrem em sociedade e, por estarem em sociedade, precisam se organizar, estabelecer regras, leis e destinar seus esforços e recursos para a prosperidade da sociedade como um todo. Nas sociedades democráticas, a política e os políticos são produtos criados para suprir as necessidades e os desejos de organização, planejamento, coordenação e controle dos esforços dessas sociedades. Os partidos políticos se comunicam com os eleitores, ao longo da gestão e principalmente perto das eleições, para o convencimento daqueles acerca de suas ações e propostas. A troca ocorre sempre no processo eleitoral: os partidos políticos oferecem seus representantes e projetos em troca do voto da população. O valor ocorre quanto essa troca é positiva para os dois lados: políticos e população. A satisfação, por sua vez, ocorre quando a população aprova os políticos eleitos em função de suas expectativas iniciais.

Na troca política das próximas eleições presidenciais o partido político que sairá vitorioso será aquele que melhor aplicar os conceitos de marketing. Neste sentido, o PT corre como coelho enquanto o PSDB ensaia passos de caranguejo.

O que diferencia o candidato do PT do candidato do PSDB? Certamente não são as propostas políticas, pois, atualmente, elas são completamente pasteurizadas. O que diferencia os candidatos é a capacidade que o PT tem, por meio da máquina pública, de gerar valor e satisfação na troca eleitoral para a maioria da população.

Lula é popular e a candidata de Lula é a preferida na corrida eleitoral pelo fato da maioria dos eleitores brasileiros estarem satisfeitos com a gestão petista. Você pode até não concordar, mas é o que acontece. Neste processo mercadológico, algumas situações corroboram para que a população esteja satisfeita com o PT e eleja Dilma em outubro próximo:

Primeiro: a gestão de Lula partiu de uma expectativa muito baixa e até ruim. Antes de assumir, o receito da gestão PT foi traduzido no aumento da inflação, na queda da bolsa de valores, na subida do dólar e da taxa de juros. Com expectativas baixas, superá-las foi fácil. Só em manter a política econômica igual ao do antecessor deu alívio e satisfação aos eleitores. Resumindo: imaginava-se que seria um desastre e, por não ter sido desastre, ficamos satisfeito.

Segundo: o PT conseguiu atender aos desejos das pessoas, mais que às suas necessidades. Atender aos desejos da população se mostra mais interessante para um partido político do que atender as necessidades. Necessidades são básicas e não são criadas. Desejos são frutos da cultura de um povo e, portanto, perfeitamente fabricados. Por exemplo: necessidade de água no sertão é bem diferente do desejo da transposição do rio São Francisco. Por exemplo: necessidade de emprego é bem diferente do desejo da aceleração do crescimento, feito pelo PAC. Outro exemplo: necessidade de auto-afirmação ou da prática de esporte é bem diferente do desejo de ser sede da Copa do Mundo ou das Olimpíadas.

Terceiro: Lula e o PT ocupam brilhantemente os melhores espaços da mente das pessoas. Mensagens como “primeiro trabalhador a ser presidente”, “nunca antes na história desse país”, “credor do FMI”, “Lula o filho do Brasil”, “exportador de petróleo e pré-sal” e outras são importantíssimas para deixar aos concorrentes pouco ou nenhum espaço a ser ocupado.

Quarto: o PT e, principalmente, Lula se comunicam perfeitamente com a maioria da população. No marketing, comunicação é elementar. O PSDB pode até ter criado programas de transferência de renda e assistencialistas como o Bolsa Família, mas todos creditam a Lula a sua existência. O PSDB pode até ter criado o Plano Real, mas é o PT quem colhe o fruto ao comunicar o vigor da economia. A Petrobrás pode até ter sido reorganizada na gestão do PSDB, mas é com o PT e o pré-sal que ela se torna a companhia mais influente no Brasil. Outros programas são de puro mérito petista e igualmente bem comunicados, como o caso da Minha Casa Minha Vida.

Quinto: o PT usa bem sua marca e ídolos. Lula é o ídolo do PT que está sendo disputado até pelo PSDB. Se Serra pudesse, ele também posaria para uma foto ao lado de Lula. Aqui na Bahia, chegou-se ao ridículo de todos os principais candidatos utilizarem santinhos com a foto de Lula. Ninguém fez o mesmo como FHC, no Brasil, ou com ACM, aqui na Bahia. Com Lula ao lado é quase improvável um ataque frontal dos concorrentes. Como enfrentar Dilma se ela está com Lula? Como enfrentar Lula se ele é querido pela grande maioria da população. Um dia, disseram que Lula não transferiria votos. Hoje, vê-se que o PT conseguiu transferir os votos de Lula à Dilma.

O resultado das próximas eleições já é certo. Enquanto o PSDB agoniza e procura factóides para uma tentativa de segundo turno, o PT brilhantemente usa os conceitos do marketing político a seu favor.

sábado, 24 de julho de 2010

Inauguração do Metrô de Salvador

Vocês podem até discordar, mas acredito que as principais qualidades do baiano são a irreverência e a tranqüilidade com que trata as coisas da vida. Como que todo tempero pode virar veneno, irreverência e tranqüilidade demais pode matar. O exemplo do vídeo é o caso: mais de 10 anos de uma obra super-suspeita. Será que terminará antes da COPA de 2014? Aposto que não.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Necessitamos de mais qualificação profissional


Certo dia, quando eu ainda trabalhava em uma cervejaria e era um dos responsáveis pelo setor de compras, aconteceu um fato que contribui para ilustrar o desafio que teremos de enfrentar para alcançar um ritmo de crescimento econômico sustentável: a qualificação profissional de nossa mão-de-obra e de nossos empresários.

Na ocasião citada, precisávamos comprar um painel de identificação para a entrada da cervejaria. O painel deveria cobrir toda a entrada por onde passavam caminhões, assim como teria de ser instalado a uma altura suficientemente alta para que os veículos carregados deixassem a fábrica sem nenhum problema. Após termos consultados vários fornecedores, um dos escolhidos para fazer um orçamento nos surpreendeu pelo despreparo com o serviço, com o cliente e, principalmente, com os seus funcionários.

Primeiro, apresentou-se inadequadamente na reunião, tentando estabelecer uma relação informa e permissiva. Qualquer comprador tecnicamente habilitado e ético sabe que o formalismo, o rigor às regras e a impessoalidade são as opções desejadas, principalmente por organizações sérias. Segundo, demonstrou total desprezo à organização e à higiene. Há quinze anos, quando eu era estagiário de uma companhia de petróleo, um de meus instrutores fazia questão em dizer que o banheiro de um posto de gasolina deveria ser impecavelmente limpo. Higiene significa saúde e satisfação dos clientes. No caso de nosso fornecedor de painel, no caminho entre o escritório e a entrada da cervejaria, onde deveríamos medir o tamanho do painel, ele jogou no chão da calçada um copo de água que acabara de usar. Abaixamos para pegar o copo e o colocamos no lixo. Nesse momento, observando o seu vacilo, ele comentou:

- Fornecedor: É! Aqui vocês têm essas frescuras de preservação do meio ambiente, né?

Terceiro, ignorou qualquer conhecimento acerca do serviço, das condutas de segurança, das relações humanas e da gestão das pessoas de sua empresa. Ao chegar ao local de instalação do painel, o fornecedor pediu a um de seus empregados que subisse numa escada para mediar a área de do painel. A escada que ele levara não estava em boas condições e o funcionário trajava roupas comuns e vestia uma chinela tipo havaianas. Ao começar a mediar a área, lá em cima, o funcionário ameaçou cair por duas vezes, pois a escada balançava muito e ele se esticava para alcançar os pontos de media. Ao ver a situação, informamos ao fornecedor de nossa preocupação com a segurança de seu funcionário. A resposta que obtivemos não fugiu à expectativa.

- Nós: Não parece perigoso? O seu funcionário pode cair.
- Fornecedor: Antes ele que eu!

A tragédia não aconteceu. Como também não aconteceu a contratação desse fornecedor. Infelizmente não são poucos os fornecedores e os prestadores de serviços que, desqualificadamente, propõe-se a competir no mercado. Quando a economia está desaquecida, há, de certa forma, uma seleção natural e os piores fornecedores são eliminados. Entretanto, quando a economia se aquece e permanece aquecida por algum tempo, esse tipo de fornecedor consegue sobreviver.

Estamos em um período de economia aquecida e de falta de mão-de-obra qualificada, seja ela do dono da empresa ou de seus funcionários. Recentemente envolvido em uma obra de um novo empreendimento, estou surpreendido com a quantidade de pessoas desqualificadas que estão no mercado ou que querem, a qualquer custo, entrar no mercado. Nessa recente experiência, acredito ter me relacionado com mais de 30 fornecedores diferentes. Destes, estimo que apenas dois corresponderam ao esperado: cumpriram ou entregaram o que venderam, sem qualquer efeito colateral. Todos os demais faltaram à expectativa: orçaram errado, entregaram errado, entregaram com defeito, demoraram para entregar, montaram errado, quebraram ou sujaram outras coisas para montar e por aí vai...

Solução? Educação e qualificação profissional. Não é por menos que o tema está em todos os programas dos principais concorrentes à presidência.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

E agora? Vamos trabalhar?


Frustrados, decepcionados e feridos, nós brasileiros voltamos à vida. Permanecemos embriagados e flutuando com a Seleção Brasileira desde sua chegada à África do Sul, em 27 de maio de 2010. De lá prá cá, já se passaram 35 dias de dormência nacional. Nesse período, tudo girou em torno da Copa. Mesmo sabendo que não tínhamos o melhor time que poderíamos ter, a esperança se misturou com a fantasia e ofuscou a realidade.

Quanto custa perder uma Copa? Ao terminar o jogo entre o Brasil e a Holanda, os locutores, amenizando a derrota, diziam: é apenas um jogo de futebol. Estão errados! Não é apenas um jogo de futebol. Ao menos, para os brasileiros a Copa não é apenas um jogo de futebol. O corpo, a mente, a alma e, principalmente, a economia brasileira giram em torno da Copa. As ruas são pintadas, a camisa canarinho é vendida como água, os cabelos são feitos para homenagear a Seleção, as bandeiras são hasteada em todos os carros, as fábricas produzem produtos específicos com as cores nacionais, músicas são criadas e por aí vai.

Mais que qualquer outro esporte, o futebol e o seu maior evento, a Copa, aglutinam os brasileiros. As famílias se reúnem, os amigos se encontram e os desconhecidos se confraternizam. Praticamente, é o único momento em que cantamos o hino brasileiro, mesmo que uma pequena parte dele e sem saber o significado de sua letra. A Copa é tão importante aos brasileiros que há quem acredite que ela pode decidir uma eleição presidencial. Provavelmente Dilma, com a economia aquecida e a uma Seleção vitoriosa, estaria mais confortável para enfrentar as próximas eleições.

A pergunta que fica é se o futebol e a Copa são tão importantes para o Brasil e para os brasileiros, como explicar a derrota para a Holanda? Primeiro, devemos considerar que não podemos ganhar todas. Segundo, que a Holanda fez uma campanha melhor que o Brasil nesta Copa. Terceiro, quem tem Felipe Melo no time tem uma bomba nas mãos e outra nos pés. Felipe Melo, que tem cérebro de minhoca, confunde garra com deslealdade e quer ser inteligente utilizando a força bruta. Alguém deveria soprar uma vuvuzela no ouvido dele. Aliás, seu nome deveria ser mudado para: Felipe “eu” Melo.

Entretanto, o principal motivo para termos perdido a Copa é, claro, o estilo Dunga de liderar. Aos líderes a glória da vitória – se vitoriosos – e o peso da derrota – se derrotados. Dunga fez uma aposta num estilo turrão, fechado e eclesiástico. Dunga fez de nossos craques anões eunucos sem inspiração e da clausura absoluta uma estratégia. Enclausurado, não se lembrou de olhar para fora, de conhecer os adversários. Em não conhecendo os adversários, Dunga não teve opção tática. Quando começou a perder, o Brasil não teve plano de recuperação, ficou imobilizado. Dunga não fez substituição, pois não sabia o que substituir.

Ao contrário dos canarinhos, a Holanda, mesmo sem brilho, sabia o que fazer. Foi surpreendida com um excelente primeiro tempo do Brasil, mas soube mudar seu time para o segundo tempo. Na etapa final, contando com a sorte, com o desequilíbrio de Felipe “eu” Melo e com estratégia imutável de Dunga, a Holanda estava com o queijo nas mãos e o tamanco nos pés. Só não marcou mais gols porque é também incompetente.

Fácil criticar depois do jogo? Como disse: ao líder o peso da derrota.

Neste dia cinza, resta ao Brasil voltar ao normal e concentrar no trabalho.

domingo, 20 de junho de 2010

Brasil e Argentina na Final


Se eu for opinar sobre essa Copa do Mundo, opino dizendo: CHEGA DE VUVUZELAS! Não dá, estou cheio das vuvuzelas. No primeiro jogo do Brasil foi assim: no início chegou um torcedor com um apito inofensivo, logo em seguida outro com uma corneta meia-boca, depois mais um com uma vuvuzelinha de 10 cm, adiante mais outro com uma corneta a gás, prosseguindo, um penúltimo e exagerado com um vuvuzela de 30 cm. Quando já pensávamos que havíamos visto tudo sobre vuvuzelas, chegou o derradeiro com uma cornetinha minúscula, mas que fazia mais zoada que todas as outras juntas.

Na Copa onde os times não são tão bons, o que dá o show é a vuvuzela. O problema é que, quando um torcedor cansa de soprar a sua vuvuzela, outro logo toma o seu lugar. No fim, sempre temos um som agradável e constante de abelhas zunindo em nossos ouvidos. Têm anunciantes que até fazem propaganda: compre uma TV 3D e ganhe 25 vuvuzelas para você se sentir dentro do estádio.

Não posso reclamar de tudo. Ao menos, com o som da vuvuzelas, não consigo escutar as baboseiras dos comentários de Galvão Boeno. Além disso, a vuvuzela é um instrumento de integração mais eficaz que o chimarão: todo mundo bota a boca. Numa dessas integrações, aonde uma seqüência incrível de torcedores sopravam uma única vuvuzela, uma figura inoportuna fez a seguinte pergunta: Perai! Alguém lavou a vuvuzela?

Essa é uma pergunta meio indelicada. Imagine alguém te perguntando se você lavou a vuvuzela. O que você diria? Aliás, essa é uma Copa de duplo sentido. Além da vuvuzela, que tem de estar limpa, a Jabulani também tem de está impecável. Flagrei alguém dizendo: tire suas mãos sujas de minha Jabulani! Você deixaria alguém chutar a sua Jabulani? Depende! Depende de quem? Se for o Kaká, tudo bem, né?

Bem nada! O Kaká foi expulso injustamente. Apesar dele não estar se dando bem com as Jabulanis da África, não merecia aquilo. Merece sim: construir mais uns não-sei-quantos templos, pois foi a primeira vez que vi o Kaká se estressando no campo: isso é que é pecado!

Pois é: Bafana-Bafana tá fora; Inglaterra tá enterrada; Espanha tá chifrada; a Holanda nunca fez nada; Alemanha e a Itália estão cambaleando; e a França “sifú”. Só resta a Argentinda. Viva a Argentina! Desejo Argentina e Brasil na final, pois sou mais Luis Fabiano, nosso paladino da maracutaia.

Depois que Maradona inventou a “La mano de Dios” e que Thierry Henry classificou
fraudulentamente a França com uma mãozinha, Luis Fabiano veio a nos redimir.

Luis Fabianoooooo!!!!

domingo, 6 de junho de 2010

Aliança


Juarez era do tipo de cara que não gostava de ficar por baixo, principalmente quando se tratava de ganhar uma promoção. Ele ia às últimas para conquistar uma vantagem que fosse, mesmo que, para isso, tivesse que apostar seus últimos recursos. Acontece que, algumas vezes, nem sempre a sorte estava ao seu lado.

Na empresa onde ele trabalhava, todos estavam preparados para a chegada da auditoria externa que iria avaliar as condições das obras para a realização da Copa de 2014. Auditoria, como qualquer avaliação, impõe aos auditados uma tensão pré-eventual sobrenatural. Entretanto, a auditoria em questão iria produzir um relatório que implicaria na continuidade ou não daquele canteiro de obras. Ou seja, em função da Copa, estavam em jogo algumas centenas de emprego, inclusive e principalmente o de Juarez.

Principalmente, porque Juarez era o responsável técnico pela obra. Qualquer problema que a auditoria apontasse seria, em suma, um problema de Juarez. Nesta situação, nosso amigo, mais do que qualquer outro funcionário, estava à flor da pele. Na cabeça dele, passava um turbilhão de pensamentos positivos e negativos, o qual, sua mentalidade cartesiana conseguiu separar em duas possibilidades.

Se a auditoria for um sucesso, a obra seguirá seu rumo, os empregos serão garantidos, ele provavelmente terá uma promoção e poderá até fazer uma “média” com sua esposa. Porém, se a auditoria for um fracasso, haverá centenas de trabalhadores querendo matá-lo, ficará igualmente desempregado e terá sua mulher buzinando em seu ouvido: “incompetente!”.

Mas Juarez que é Juarez tem sempre uma estratégia. Cumprindo a ordem de seu chefe, de fazer o possível e o impossível em favor da auditoria, nosso Jura bolou um esquema diabólico para encantar a auditoria. Para tanto, além da assistência durante toda a jornada de trabalho, já tinha liberação para almoços em excelentes restaurantes, hospedagem no melhor hotel da cidade, citytour, happyhour, birinights e todo e qualquer neologismo necessário.

Apesar de tudo esquematizado, Juarez não previu que sua estratégia precisaria de uma adaptação urgente logo à chegada da missão de auditoria. No imaginário de Juarez, a pessoa que deveria sair da sala de desembarque deveria ser um barbudo mal-cheiroso. Contradizendo sua expectativa, quem veio em direção de seu cartaz de boas vindas foi uma linda morena de cabelos lisos, alta, cintura bem torneada, maquiagem perfeita e bem, muito bem, perfumada.

Planejamento é algo que se faz para prever um futuro que certamente não acontecerá. Com essa premissa da cabeça, Juarez imediatamente resolveu mudar um pouco os planos. Por que não unir suas atividades profissionais – chatas, mas necessárias – a outras mais agradáveis e prazerosas? Por que não esconder logo essa aliança que lhe denunciava e ver no que vai dar a auditoria? Rápido feito um felino, Juarez, acreditando em seu talento com as mulheres, retirou o bambolê comprometedor e o guardou no bolso da camisa.

Passado um dia incrível de intenso e produtivo trabalho, no qual Juarez se superou no cavalheirismo aplicado ao atendimento às demandas da bela auditora, chegara a hora do encantamento. E nisso Juarez se sentia o máximo. Sua proposição foi irrecusável a qualquer visitante: jantar no Solar do Unhão, assistindo ao show folclórico, às margens da Bahia de Todos os Santos.

O Solar do Unhão é um lugar fantástico. A história e a mística se misturam por suas paredes mal-acabadas, construídas com uma argamassa que incluía o óleo de baleias pescadas ali perto, além de muito suor e sangue de negros escravos que por lá trabalhavam e eram contrabandeados. O jantar é servido na base do ritmo, do tempero e do calor das baianas com suas saias e adornos. O calor do ambiente não é só da moqueca que vem fervilhando da cozinha, tampouco exclusivo do tempero que está em todas as iguarias, mas também do burburinho em torno da sensualidade das dançarinas que abrem o espetáculo.

Na cabeça de Juarez, aquele era o ambiente “matador”: não só iria fechar a auditoria com chave de ouro, como também arrebataria aquela bela morena após algumas caipirinhas.

Por incrível que pareça, os planos de Juarez estavam funcionando. A auditora estava irradiante com o lugar e relatando boas impressões sobre o andamento da obra. O sorriso dela era logo recheado com mais cavalheirismo e galanteio de nosso palatino da Copa. A temperatura dos dois estava aumentando gradativa e consistentemente, até que Jura sentiu vontade de ir ao banheiro.

Como qualquer estrutura antiga, o toalete do Solar do Unhão não é uma primazia da engenharia sanitária. Longe disso, o toalete masculino não passava de um cubículo com um mictório, uma pia para lavar as mãos e um box com um vazo sanitário. Uma vez que o mictório estava ocupado por um turista argentino que mal se sustentava em pé, Juarez se dirigiu ao box. Trancando a porta do box, ele percebeu que no vazo alguém havia processado e deixado de presente, como uma obra de arte, a moqueca que haveria recentemente degustado. A quantidade de dejetos ali acumulada era algo de outro mundo.

Despreocupado com aquela visão e odor, Juarez começou a se aliviar fazendo contornos na massa pastosa que se avolumava em sua frente. Ao término, Juarez fez o que o seu antecessor não tivera coragem, disposição ou educação para fazê-lo: deu descarga. Arregalando os olhos, Jura percebeu que tomara a decisão errada. Ao invés da descarga levar todo aquele volume, o nível da água do vazo começara a subir sem parar, chegando a transbordar. Concluída a descarga, nosso protagonista se viu diante e com os sapatos imersos numa piscina.

Há aquela altura do campeonato, já havia três pessoas esperando a vez para entrar no banheiro. Juarez, preocupado com a situação, resolveu investigar as instalação do vazo e, talvez, fazer uma nova tentativa. Contorcendo - uma vez que o local era pequeno – e inclinando-se para alcançar as tubulações por trás da caixa de descarga, Juarez escutou um som macio (pluf!), parecido com a de uma moeda caindo numa papa de maisena com chocolate. Imediatamente ele voltou os olhos para a piscina fecal e viu o brilho da sua aliança descendo e afundando naquela lama até submergir por completo.

Redundante, Juarez exclamou: merda! Sua aliança, que estrategicamente estava escondida no bolso de sua camisa, havia escorregado, caído e sumido no mar de lama daquela privada. Apavorado, ele procurou qualquer coisa que pudesse imediatamente enfiar no bojo para recuperar a aliança, mas tudo que via era um rolo de papel higiênico já pela metade. Tentou abrir a porta para ver se no banheiro havia uma vassoura sequer, mas prontamente fechou a porta ao ver a fila de turistas que se formava para utilizar aquele único espaço de alívios. Ninguém poderia entrar ali até que ele recuperasse a aliança.

Os minutos iam passando, a fila aumentando e Juarez ficando cada vez mais angustiado e encharcado de suor. Entre as brechas da porta, tentou falar com um senhor que estava esperando a vez, mas o velho era alemão e não entendia nada do que ele falava. Não tinha alternativa a Juarez a não ser fazer inserções no lodo para recuperar seu anel.

A primeira tentativa foi utilizando a caneta que carregava. Com a caneta, mexeu de cá, mexeu de lá, mas ela era muito curta e não alcançava o fundo do bojo. O suor já escorria pela testa de Juarez quando começaram a reclamar da demora dele no box. Pudera, já havia mais de meia hora ali dentro. Foi nesse momento que nosso destemido amigo tentou outra manobra mais ousada: retirou o sapato e com um movimento cuidadoso foi mergulhando o calçado até tocar no fundo, sem preencher o seu interior com o líquido acinzentado. Essa tentativa foi infortuna, pois apesar de alcançar o fundo, o sapato era grosso demais para puxar a aliança de onde ela estava.
Agora Juarez estava todo suado, sem um dos sapatos, fedendo e precisando criar uma bela explicação para a morena que o aguardava há 40 minutos.
Seu desespero foi completo quando os clientes que estavam na fila começaram a ameaçar arrombar a porta do box. Por mais que Juarez explicasse a situação, a fúria só aumentava. Um dos líderes da revolta deu um prazo limite: ô tu sai daqui a 1 minuto ou vamo arrombar a porta e dar descarga contigo dentro, meu! Pelo sotaque, nota-se que esse turista era paulista.

Num movimento de puro reflexo, de autodefesa e de insanidade, Juarez enfiou a mão naquela melecada toda, vasculhou o fundo e resgatou a aliança. Abriu a porta do box, olhou para todos com um ar de superioridade, lavou as mãos e foi caminhando até a sua mesa sem um sapato, com a camisa desensaca e completamente molhada de suor, emitindo um leve cheiro de gambá, mas com plena dignidade.

Ao chegar à mesa, uma surpresa:
- Chefe? O que o Sr. faz aqui?
- Perguntei aonde vocês iriam e resolvi passar para agradecer a auditora. Mas, vejo que minha visita foi providencial. Você está horrível!
- Tive alguns problemas.
- Bem, Juarez. Agradeço a atenção que você deu para nossa querida auditora, mas agora eu assumo o compromisso de levá-la ao hotel. Obrigado e vá prá casa tomar um banho.

O chefe de Juarez saiu do Solar do Unhão levando a bela morena e deixando a conta para Juarez pagar. Sentado à mesa, Juarez olha para os dois que saem à porta, nota algo estranho em seu chefe e pensa em voz alta:
- Cadê a aliança dele?

sábado, 15 de maio de 2010

EAD - Trevas ou Oportundiade?

Algumas coisas nos surpreendem pela força com que elas conseguem quebrar nossas convicções há tempos arraigadas. Foi assim quando escolhi mudar o objeto de estudo do meu doutorado. Por motivos profissionais, acabei transformando o meu doutorado numa oportunidade de estudar mais profundamente os assuntos relacionados ao meu trabalho: educação superior a distância.

Confesso que eu era extremamente cético em relação à educação a distância (EAD). Não acreditava mesmo! Como é que pode um aluno ser formado sem assistir aulas, sem freqüentar fisicamente uma faculdade? Se é comum, entre os professores, a reclamação da queda na qualidade dos alunos presenciais, imaginem em relação aos alunos EAD?

Como achamos feio tudo que não é espelho, quebrar um preconceito só mediante muita aproximação. Foi isso que aconteceu comigo. Trabalhando com EAD e estudando essa modalidade de ensino ao longo do meu doutorado, pude entender melhor suas ferramentas, seus métodos e o processo de ensino-aprendizagem que o suportam. Não é que encontrei a luz, mas hoje não vejo na EAD as trevas que me assustavam outrora.

Nesta semana, meu projeto de doutorado – denominado “Fatores de qualidade da Educação superior a Distância” – foi qualificado. Na banca de qualificação estavam três doutores: um economista (meu orientador), outro da educação pura e um terceiro da área da computação (convidado externo). Todos fizeram suas críticas construtivas para o enriquecimento da pesquisa, mas o que me chamou mais atenção foi o ceticismo do doutor em educação. Vi no ceticismo dele o meu antigo ceticismo sobre o assunto. Logo no início de sua fala, ele confessou o seu preconceito em relação à respectiva modalidade de educação. No final, ele declarou que o texto que lera o ajudara a ver o assunto a partir de outros ângulos, enxergando oportunidades e um largo campo de estudos e desenvolvimento.

A partir da discussão travada na banca de qualificação, fiquei motivado em expor aqui no BLOG partes da tese, para que, lentamente, outros céticos também enxerguem mais que trevas nessa rica modalidade de educação. Neste sentido, o primeiro texto trata do que é a educação a distância e o que a distingue da educação presencial.

O que é EAD?

Processos de ensino e aprendizagem ensejam, pelo lado do ensino, a comunicação de conhecimentos, informações e estímulos para o desenvolvimento de competências e, pelo lado da aprendizagem, a necessidade de apropriação por parte dos sujeitos desses conhecimentos, informações e estímulos para formação de suas competências.

Uma boa definição para educação a distância (EAD) é dada pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED). Para a ABED, “EAD é a modalidade de educação em que as atividades de ensino-aprendizagem são desenvolvidas majoritariamente ou exclusivamente sem que alunos e professores estejam presentes no mesmo lugar à mesma hora” (ABED, 2010).

Moran (1994) nos adverte que hoje temos três modalidades de educação: presencial, semi-presencial e a distância. Para o autor, a educação presencial é aquela do ensino convencional e secular, onde os alunos e os professores se encontram regularmente/diariamente, sempre num local físico chamado sala de aula. A educação semi-presencial acontece em parte na sala de aula e noutra parte a distância, através de tecnologias, preponderando a primeira parte. Na educação a distância, fundamentalmente os professores e alunos estão separados fisicamente no espaço e ou no tempo, podendo ter ou não momentos presenciais, interagindo através de tecnologias de comunicação.

No que compete ao perfil do aluno, em 1996 se acreditava que a educação a distância era ideal para jovens e adultos que não tiveram acesso ou não puderam completar estudos no ensino regular, em todos os níveis; crianças e adolescentes submetidos a procedimentos obsoletos de ensino-aprendizagem nas periferias das cidades e no meio rural; e indivíduos carentes de uma requalificação profissional (SOUZA, 1996). Atualmente, consultado os dados do CensoEad.BR (ABED, 2010) ou simplesmente acessando páginas na internet de algumas das mais conceituadas instituições de ensino (e.g. Fundação Getúlio Vargas, Harvard Business School e Universidade de São Paulo) se pode ampliar o público da educação a distância, incluindo: profissionais que buscam ou que são incentivados pelas organizações em que trabalham a buscar uma especialização na sua área de atuação; pessoas que querem adquirir competência não necessariamente relacionadas ao labor; profissionais que almejam ampliar suas qualificações; e aqueles que objetivam possuir maior competitividade no mercado de trabalho.

Na perspectiva da relação aluno-professor, O MEC (2003) lembra que apesar do aluno a distância não contar com a ajuda em tempo integral da aula de um professor, como ocorre no ensino presencial, ele conta com a mediação de professores (orientadores ou tutores), atuando ora a distância, ora em presença física, em encontros previamente organizados. Esses professores, orientadores e tutores, são responsáveis pela organização e entrega dos conteúdos do currículo e acompanhamento, assíncrono ou síncrono, da realização das atividades e do desenvolvimento cognitivo do aluno.

No que se refere ao quesito instrumental-tecnológico, o MEC (2003) relaciona a educação ao uso de sistemas de gestão e operacionalização específicos, assim como ao uso de materiais didáticos intencionalmente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados através dos diversos meios de comunicação. Esses meios de comunicação podem ser desde uma simples correspondência impressa, até recursos mais sofisticados como transmissão televisiva ou por rádio, videotapes, videoconferências, softwares educativos, internet etc. (U.S., 2009).
Especificamente em relação à internet, enquanto mídia tecnológico de entrega da educação, ela está presente em 72% dos cursos pesquisados pelo CensoEad.BR (ABED, 2010), ficando ligeiramente atrás do material impresso, uma vez que esse também faz parte dos cursos oferecidos pela internet.

Do ponto de vista legal, para a legislação brasileira a educação a distância “é a modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos” (BRASIL, 2005). Desta maneira, reforçam-se as características apresentadas anteriormente.

A EAD possui no Brasil uma legislação específica estabelecida a partir do Decreto n.º 5.622. Esse Decreto, dentre outros definições, no seu Art. 3º, estabelece que:
§ 1º Os cursos e programas a distância deverão ser projetados com a mesma duração definida para os respectivos cursos na modalidade presencial.
§ 2º Os cursos e programas a distância poderão aceitar transferência e aproveitar estudos realizados pelos estudantes em cursos e programas presenciais, da mesma forma que as certificações totais ou parciais obtidas nos cursos e programas a distância poderão ser aceitas em outros cursos e programas a distância e em cursos e programas presenciais, conforme a legislação em vigor. (BRASIL, 2005).

Os diplomas e certificados de cursos e programas a distância, de acordo com o Art. 5º do mesmo Decreto n.º 5.622, expedidos por instituições credenciadas e registrados na forma da lei, terão validade nacional. Desta forma, para a legislação brasileira, excetuando a forma como o processo de ensino-aprendizagem é realizado, o diploma do aluno egresso de um curso realizado na modalidade educação a distância tem a mesma validade que de um curso realizado presencialmente.

Na percepção da população acerca da qualidade do ensino talvez resida uma das principais diferenças entre a EAD e a educação presencial, supostamente de melhor qualidade. Apesar de não haver uma pesquisa que comprove essa percepção, é comum encontrar depoimentos céticos em relação à qualidade e seriedade dos cursos EAD. Carlini e Ramos (2009) atribuem a má fama da EAD a um senso comum formado em função de experiência equivocadas e que geraram a expressão popular “fez por correspondência” para classificar uma aprendizagem de baixa qualidade, mesmo sendo realizada presencialmente. Maia e Mattar (2007) acreditam que a falta reflexões e de pesquisas em torno do tema EAD, assim como de experiências malsucedidas, seriam, provavelmente, as causas da difamação da imagem da EAD e de sua associação a uma educação de “segunda classe”. Para esses autores, o senso comum e o preconceito formado acerca da EAD em nada têm relação com a sua realidade atual.

Em novembro e 2009, a revista Nova Escola publicou uma reportagem especial sobre a educação a distância. O título da reportagem foi “Vale a pena entrar nessa?” e teve como objetivo de eliminar o preconceito por trás do diploma da EAD, revelando alguns “mitos” e “verdades” (MARTIS; MOÇO, 2009). A seguir, encontram-se as principais conclusões da revista:

É verdade que:
o Os cursos não são adequados aos mais jovens. Necessita-se maturidade e disciplina no estudo.
o Pessoas dispersas (pouco comprometida ou autônoma) apresentam mais dificuldade em acompanhar o curso e obter bom desempenho.
o É preciso ter um bom computador e uma boa conexão de internet.
o As instituições investem mais em tecnologia do que em conteúdo.
o Os professores tutores (que têm contato direto com os alunos) são menos qualificados que os professores presenciais.
o A turma é maior na EAD que na educação presencial.
o É mais difícil conseguir emprego.

É mito que:
o EAD é ideal para quem tem pouco dinheiro. O valor da mensalidade não é o único a ser investido.
o O diploma é fácil. A maior causa de evasão é a falta de tempo para se dedicar aos estudos.
o As avaliações não são difíceis. O nível de exigência das provas é o mesmo das aplicadas nos cursos presenciais.
o A evasão é maior. De acordo com os dados do INEP, a proporção de evadidos da graduação e pós-graduação é 17% na EAD contra 21% na presencial.
o É possível estudar quando quiser. Para acompanhar as discussões é preciso traçar uma rotina diária de estudo.
o O aluno fica isolado e não interage com os colegas. Em quase 95% dos cursos credenciados é possível debater conteúdos e trocar idéias com os colegas.
o A dedicação exigida é menor. Alunos a distância lêem, em média, 3 mil páginas por ano de conteúdo básico estruturado.
o Não é preciso sair de casa. A presença não é obrigatória, mas existem diversas atividades que não são realizadas na frente do computador: avaliações, trabalho em grupo, aulas de laboratório, pesquisas, conferências via satélite etc.
o Os alunos aprendem menos do que no curso presencial. Os resultados do Enade de 2006 não indicam isso. O curso de Pedagogia, por exemplo, obteve melhor resultado na EAD que na modalidade presencial.

A partir do que foi visto, pode-se resumir as seguintes características da educação a distância:
• Separação física da relação professor-aluno e aluno-aluno.
• Tempo e espaço adequados às necessidades e possibilidades de cada sujeito.
• Utilização de mídias diversas como ferramenta instrucional.
• Crescente e preponderante utilização da internet como ambiente de aprendizagem.
• Igualdade à educação presencial no tratamento legal.

O ponto de discussão acerca da qualidade da educação a distância em relação à educação presencial talvez seja um dos mais intrigantes e polêmicos. Em si, o conceito de qualidade é relativo e o julgamento do que seria uma educação de qualidade uma atividade extremamente complicada. Futuramente abordarei o tema da qualidade na educação superior e, especificamente, na educação a distância, pretendendo ajudar na compreensão do seu conceito.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Qual a motivação?


Uma das coisas que aprendi nos últimos tempos é que blogar é inversamente proporcional a estudar, que no meu caso é produzir uma tese. Nos últimos meses, estou me dedicando mais ao doutorado e, com isso, toda linha que escrevo tem de ser extremamente chata. Ou seja: deixei de lado meu blog para cumprir a etapa de qualificação da tese. Entretanto, quanto mais eu escrevo para a tese, mais faço referência nela e mais tenho certeza que ninguém vai lê-la. No blog é o contrário, pelo menos tenho dois ou três fiéis leitores que já estão reclamando da falta de novidades.

Bem... deixando um pouco de lado a tese, não consegui resistir à uma inquietação que me acometeu essa semana e resolvi filosofar um pouco aqui. Eu estava indo costumeiramente ao trabalho, cedo da manhã, quando o semáforo fechou quase que deliberadamente. Assustando, parei o carro com os sonolentos reflexos da manhã, pois meus pensamentos ainda estavam no travesseiro. Fiquei olhando para ver se alguém tivera notado a minha desatenção e parada meio que abrupta, quando notei algo de errado. Tratava-se de algo relativamente comum, corriqueiro, mas que não estava combinando. Algo que não poderia estar andando junto.

Passavam, pela frente do meu carro, um homem e dois cachorros. Até aí tudo bem! Homens passeiam com cachorro desde que homem é homem e cachorro é cachorro. Mas aquele homem que passou pela frente do meu carro não poderia passear com aqueles cachorros. Descreverei os cachorros, depois os homens e, em seguida, a teoria.

Os cachorros eram lindos. Lindos demais! Acredito que eram poodles, mas não sou especialista em raças para confirmar isso. Só sei que os dois tinham lacinhos nas orelhas, correntes coloridas com os nomes gravados em plaquinhas, pêlos impecavelmente bem cortados e extremamente brancos, assim como guias estampadas e bem alegres.

O homem era tenebroso. Não porque era feio. Bonito também não era. Mas, estava com uma cara de ressaca terrível. Ele lembrava bem o biótipo dos homens da minha família: barriga grande, braço fino e cara inchada. Aparentava uns 56 anos bem bebidos. Carregava, na mão esquerda, as guias dos cachorros, no sovaco direito, o jornal do dia, na mão direita, um cigarro aceso e, no pé, um chinelo meia vida.

Aquilo estava errado. Imediatamente me lembrei do filme Matrix, onde os seres humanos são controlados por um programa que, de vez em quando, alguma coisa dá errada e a vida sai do comum. No filme Matrix, um gato passou duas vezes pelo mesmo lugar, da mesma forma, como acontece numa cena cortada e mal emendada. Na minha cena matutina, a combinação homem-cachorros estava também errada. Terá sido um erro de programa?
Quando o sinal abriu, fiquei com a cena na minha cabeça até chegar ao trabalho. Aquilo me inquietava. O que motivava aquele cinqüentão ressacado passear com dois cachorrinhos logo cedo da manhã? A explicação estaria em sua motivação.

Motivação é algo que todos querem saber, justamente porque é extremamente difícil de explicar. O que motiva o comportamento humano? O que fez aquele homem sair, àquela hora, com dois cachorrinhos. Algumas hipóteses surgiram.

Considerando que a motivação é um impulso que nos leva a tentar alcançar determinados objetivos, que ela está intimamente relacionada com a necessidade e que necessidade é a falta ou carência de algum elemento básico para a sobrevivência e vida das pessoas, imaginei que o homem passeava com os cachorrinhos porque tivera que comprar o jornal matutino.

Jornal, não! Nenhum jornal é capaz de gerar necessidade suficiente para motivar um homem a sair pela rua com cachorrinhos para adquiri-lo. Foi o cigarro! Cigarro, sim, é capaz disso.

Mas, o cigarro não explica tudo. Pois, o homem poderia simplesmente deixar os cachorrinhos presos em casa ou no apartamento, sem precisar passar por esse mico. Então, qual seria o verdadeiro fator motivacional daquele homem?
Mulher! Isso! Mulher é a resposta. Mas, como?

Uma explicação plausível seria a de que aqueles cachorros não seriam dele e sim da mulher ou namorada dele. Mas, essa explicação não se sustenta por muito tempo, pois o comportamento humano, que é influenciado pela motivação e pela necessidade, não se adequaria a essa hipótese. Homem nenhum teria esse tipo de comportamento: passear com o cachorrinho da mulher ou namorada. Já que isso não é possível, surge uma segunda explicação, mais plausível e mais forte: o homem não teria mulher, tampouco namorada, e sim uma paquera.

Paquera sim seria uma fonte de motivação suficientemente forte para influenciar o comportamento daquele homem. Na verdade, ele deveria estar paquerando alguma garota, mais nova que ele, que adora cachorros. Para impressioná-la decisivamente, ele decidiu comprar e suportar dois poodles. Não serviriam pitbulls. Apenas poodles teriam o poder de retirar qualquer dúvida da possível pretendente em relação ao estima homem-animal. Fascinada com o trato devotado aos animais, a pretendente daquele homem sucumbiria aos seus encantos e talentos.

Entretanto, também temos que considerar uma derradeira possibilidade: a da compensação. O ser humano adota determinado comportamento por causa de uma necessidade. Seu comportamento é modificado para suprir essa necessidade. Entretanto, quando a necessidade não é satisfeita, ocorre a frustração. Neste sentido, temos uma derradeira alternativa para nossa cena inimaginável: os cachorrinhos seriam, na verdade, formas alternativas de compensar uma frustração.

Bingo!

Uma vez que ele não conseguiu conquistar a pretendente, como compensação, sobraram os cachorros. Isso explicaria a dedicação matutina de passear com aquelas fofuras.

Mas, pensando melhor, fica mais fácil imaginar que, simplesmente, homens de ressaca, vestindo chinelo meia boca e carregando jornal no sovaco e cigarro na mão também podem adorar poodles.

Quer saber de uma coisa: abaixo o preconceito e viva a diversidade!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Emelho


Acabei de ler e não resisti. Tive que postar.

"
QUEM NUM TEM EMELHO, XIMBA!

Aí galera, Esse emelho é de Craudinei, mas aqui é Jonilso que tá falano.

É porque eu num tenho emelho, aí ele me liberôpra escrevê no dele. E eu quero falá é sobre isso mermo: emelho. A parada é a seguinte: ôto dia eu tava percurano um serviço no jornal aí eu vi lá uma vaga na loja de computadô. Aí eu fui lá vê colé a de mermo. Botei uma rôpa sacanage que eu tenho, joguei meu Mizuno e fui lá, a porra. Aí eu cheguei lá, fiz a ficha que a mulé me deu e fiquei lá esperano. Nêgo de gravata e as porra, eu só "nada... tô cumeno nada!". Aí, eu tô lá sentado, pá, aí a mulé me chama pa entrevista, lá na sala dela. Mulé boa da porra! Entrei na sala dela, sentei, pá, aí ela começô: a mulé perguntano coisa como a porra, se eu sabia fazê coisa como a porra e eu só "sim sinhora, que eu já trabalhei nisso e naquilo", jogano 171 da porra na mulé e ela cumeno legal, a porra!

Aí ela parô assim, olhô pra ficha e mim perguntô mermo assim: "você mora aí, é?", aí eu disse "é". Só que eu nun sô minino, botei o endereço de um camarado meu e o telefone, que eu já tinha dado a idéa pra ele que se ela ligasse pá ele, ele dizê que eu sô irmão dele e que eu tinha saído, pra ela deixá recado, que aí era o tempo dele ligá pro orelhão do bar lá da rua e falá comigo ou deixá o recado que a galera lá dá. Eu nun vô dá meu endereço que eu moro ni uma bocada da porra! Aí a mulé vai pensá o que? Vai pensá que eu sô vagabundo tomém, né pai... Nada! Aí, tá. A mulé só perguntano e eu jogando um "h" da porra na mulé, e ela gostano vú... se abrindo toda... mulé boa da porra! Aí ela mim disse mermo assim: "ói, mim dê seu emelho que aí quando fô pra lhe chamá... - a mulé já ía me chamá já - ... quando fô pra lhe chamá, eu lhe mando um emelho". Aí eu digo "porra... e agora?". Aí eu disse a ela mermo assim "ói, eu vou lhe dá o emelho de um vizinho meu pra sinhora, que ele tem computadô, aí ele mim avisa". Mintira da porra, que o cara mora longe como a porra e o computadô é lá do trabalho dele, aí ele ía tê que mim avisá pelo telefone lá da rua.

Aí, depois quando eu disse isso, a mulé empenô. Sem mintira niua, ela me disse mermo assim: "aí, não! como é que você qué trabalhá na loja de computadô e não tem emelho?". Aí ela bateu no meu ombro assim e disse "Ói, hoje em dia, quem num tem emelho ximba!". Falô mermo assim, véi, a miserave da mulé. Miserave! Mas aí, eu ía fazê o que, véi?

Aí uns dias depois eu acabei conseguindo um seviço de ajudante de predero: um pau da porra! Eu pego 7 hora da manhã e leva direto, a porra, de 7 a 7, aí meio dia para pra almuçá, comida fêa da porra, e acabô o almoço nun discansa não, volta pro seviço. É pau, vú véi... é pau viola mermo. É por isso que eu digo, é como a mulé disse: "quem nun tem emelho ximba, véi!". É isso aí. Os cara que nun recebero esse emelho vai ximbá, na moral, dá um pau da porra, quando chegá fim de mês, recebê uma merreca. Agora pra você que recebeu esse emelho, eu vô lhe dá a idéa, ói, vá lá na loja que ainda tem a vaga! Já fui!

Esse emelho é de Craudinei, mas aqui é Jonilso que tá falando.

Valeu!

Jonilso
"
Fonte: http://zamorim.com/textos/emelho.html

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Tem prá todos


Neste Carnaval de 2010, a Prefeitura Municipal de Salvador não está medindo esforços para comunicar os serviços e a quantidade de pessoas que irão trabalhar na maior folia do mundo. Segundo dados da Prefeitura serão: 1 prefeito, 1 vice-prefeito, 34 secretários municipais, 3 mil agentes de combate a endemias, 5 mil motoristas de ônibus, 7 mil bombeiros, 10 mil taxista, 15 mil garis, 18,5 mil vendedores ambulante, 23 mil fiscais sanitários, 32 mil guardas municipais, 39 mil motoristas de trio elétrico, 47 mil baianas de acarajé, 72 mil meninos que vendem cigarro, 103 mil flanelinhas e guardadores de carro, 134 mil cordeiros de bloco de carnaval, 203 mil guias turísticos e por aí vai. Tudo isso para atende a quase 2 milhões de turistas que chegam à cidade. É tanta gente trabalhando que há quem diga que o Carnaval é o momento onde o baiano trabalha mais.

Entretanto, a Prefeitura – não sei o porquê – se esqueceu de contabilizar a maior das categorias profissionais presente no Carnaval: os/as 324 mil acompanhantes. Porque no Carnaval é assim: não dá para não pegar ninguém. Vir para o Carnaval da Bahia e voltar sem uma grande história de amor é um fracasso.

Certamente, quando você estiver de volta ao trabalho, na quinta-feira, alguém vai te perguntar:

- E ai Paulo? Pegou quantas(os) lá na Bahia?

Já pensou a sua resposta ser: Ninguém! Frustrante, não?

Por isso existem os acompanhantes. São profissionais extremamente preocupados com esse tipo de situação. Eles não vão te deixar na mão.

Tem acompanhante para tudo que é gosto, tipo, classe social ou necessidade. Vejam alguns dos destaques dos Classificados do maior jornal da cidade:

Para os/as que procuram agitação:
Priscila endiabrada. Corpinho perfeito, 24 aninhos, olhos claros. Totalmente eletrizante. R$ 200.

Para as/os incrustadas:
Ronaldo detonador. Negão 100% da Bahia. Você não vai se arrepender. R$ a combinar.

Para os/as gulosos:
Aninha gordinha. Arrepios do início ao fim. R$ 55. Promoção.

Para os/as atletas:
Daniele. 18 aninhos. Atleta do amor. Coxa grossa. R$ 75.

Para os/as aventureiros:
Kate e Ken. Encaramos tudo com descrição. R$ 250.

Para os/as solitários:
Bia, Nanda e Lêca. Overdose de brincadeiras. Lindas. R$ 300.

Para os/as indecisos:
Fernando. Moreno bi. Músculos e emoção. R$ 65.

Para os/as que acham que o dos outros é melhor:
Manuela. Gauchinha. 23 anos. Loira e linda. R$ 150.

Para os/as que querem um papo cabeça:
Natália. Bom nível. Universitária. R$ 250.

Para os/as duros:
Meninas da Dora. As melhores da Bahia. Todos os tipos a partir de R$ 20.

Para os/as amostrados:
Bete. Totalmente demais. Capa de revista. R$ 450.

Para as/os fantasioso:
Tadeu o bombeiro. Também com outras fantasias. R$ 120.

Para os/as românticos:
Silvia. Anjinho 29. Beijinhos e carinho. R$ 100.

Para os/as atrevidos:
Raquel e seus brinquedos. R$ 75.

Para os/as saudosistas:
Carla. Coroa enxuta. 45 anos. R$ 60.

Para o fim da festa:
Yuki. Massagem oriental. Levanta seu astral. R$ 130.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Comida de Muquifo


Eu e mais dois amigos estamos criando um blog saborosamente interessante: Comida de Muquifo. Segue o texto introdutório.

Comida de Muquifo é um blog dedicado a um tipo de culinária muito especial, culturalmente enriquecida e cheia de interpretações apimentadas. Como qualquer boa receita, para entender o propósito desse blog se deve começar pelo significado da principal palavra. No nosso caso: Muquifo. E isso não é fácil! Aurélio, por exemplo, não tem uma definição para muquifo e sim para o sinônimo moquiço. Para você ter uma idéia de como é complicado: a ordem das palavras altera profundamente o que se quer dizer com muquifo. “Comida de Muquifo” é bastante diferente de “Muquifo de Comida” ou, pior ainda, de “Comida no Muquifo” (esta última com duplo significado).
Muquifo, ao pé-da-letra, significa uma casa pequena, simples, humilde, desarrumada, mal conservada e com aparência de velha. Muquifo não é um cortiço, tampouco uma maloca. Eu posso morar numa boa casa e o meu quarto ser considerado um muquifo. Muitas vezes um muquifo é melhor identificado por quem vem de fora do que por quem lá reside.
Para os propósitos desse Blog, Muquifo é um restaurante e não uma casa. Ou melhor: um estabelecimento comercial com pretensão de se tornar um restaurante. Pela etimologia da palavra, o Muquifo seria um pseudo-restaurante, desarrumando, acanhado, humilde etc. Geralmente localizado em um bairro popular e populoso, assim como perto de alguma empresa ou entroncamento com muito movimento de pessoas que buscam algum lugar para se alimentar, principalmente na hora do almoço.
O Muquifo surge quando, Dona Francisca ou Seu Tomázio resolvem incrementar a renda familiar oferecendo na varanda de sua casa, no quintal de sua casa ou dentro de sua própria casa o melhor prato da família: aquela feijoada, o incrível sarapatel, a estupenda maniçoba, a maravilhosa galinha caipira, o enfeitiçado caruru, a nutriente moqueca etc. Esse local (quintal, varanda ou sala de estar) começa a ganhar fama e todos que moram ou trabalham por perto passam a freqüentar.
Além do sabor da comida, outras duas características do Muquifo são a fartura dos pratos e o preço atraente. Dona Francisca e Seu Tomázio cozinham os pratos como se fossem para eles próprios. Por isso, geralmente, o Muquifo ganha fama de comida boa, barata e abundante. Essa fama, que no início ficava no entorno do estabelecimento, com o passar do tempo percorre toda cidade. Não é difícil encontrar no Muquifo, pessoas que atravessaram a cidade só para comprovar se a fama é justa ou não. Certamente a fama é justa e essas pessoas voltam e trazem mais outras pessoas (colegas de trabalho, amigos, familiares etc.), os quais, por sua vez, espalham a notícia e o Muquifo, finalmente, se torna uma unanimidade na cidade.
Nessa publicidade aleatória, de boca-em-boca, fica difícil resistir à seguinte provocação: você ainda não conhece o Bar-do-Chicão? Não sabe o que tá perdendo!
Nesse ponto surge mais uma característica do Muquifo: a improvisação. Muquifo que é Muquifo tem de ser improvisado, não importa se já tem sucesso ou não. Quando o Muquifo deixa de ser improvisado e começa a se sofisticar (organizar), perde a graça e vira um restaurante ordinário. A improvisação do Muquifo está em tudo: o cardápio está escrito na parede; os talheres são de cores variadas; a cerâmica que foi comprada para o piso não foi suficiente e o dono teve que completar com outra, mais barata; as mesas não são uniformes; o pessoal que trabalha é da família; o atendimento é sempre informal e pessoal; não há garantida entre porções dos pratos; o papel higiênico dá prá lixar a parede, que, aliás, não tem reboco; e a conta vem escrita num pedaço de papel (geralmente de um caderno escolar) com os garranchos do proprietário(a). Nos Muquifos mais radicais não há onde estacionar o carro; existem animais (geralmente cachorro, gato, papagaio e/ou criança) debaixo das mesas; o avental que a chefe da cozinha usa é o mesmo que enxuga os pratos; a rua é esburacada e com lama; e o banheiro fica lá no fundo.
Os Muquifos cumprem um papel social muito importante. Além de (bem) alimentar uma enorme parcela da população, geram emprego aos membros da família do proprietário que, sem o Muquifo, não teriam o que fazer; movimentam o bairro com o trânsito de pessoas de outras localidades; movimentam a economia local na compra de produtos de fornecedores e nos subprodutos dos Muquifos – entre eles o pagamento pelo serviço de vigiar o carro. Entretanto, a maior importância dos Muquifos – ao menos para esse Blog – é a preservação e criação de uma cultura culinária própria e extremamente rica.
A partir de uma boa refeição realizada num Muquifo a pessoa passa a ver o seu mundo de outro ângulo; a apreciar sabores, cores e histórias incríveis; a valorar os comportamentos e atitudes não considerados anteriormente; a herdar e a contribuir com o verdadeiro DNA de seu povo. Por isso, nos melhores Muquifos, podemos ver pessoas de todas as classes e origens sociais convivendo e apreciando o mesmo alimento: que é acessível à grande maioria. Muquifo verdadeiro não segrega, inclui. O barato é chegar ao Muquifo e ver ao lado da mesa de um secretário de estado outra mesa com operários de uma obra ao lado. Essa troca, essa miscigenação de gente de origens diferentes reunidas por um só propósito, gera a cultura do Muquifo.
A cultura de um Muquifo está em na história, na sua criação, nos seus personagens diários, na paisagem bucólica, nas lendas em torno do principal prato, no cardápio do dia e no melhor dia para se ir lá, assim como nas receitas secretas que fazem sucessos e nos seus mitos e causos. Conhecer essa cultura, saber onde estão os melhores Muquifos da cidade, como se chega lá, conhecer suas lendas, os melhores pratos e o melhor dia para se visitar é o objetivo desse Blog.

Acesse o Comida de Muquifo em: www.comidademuquifo.blogspot.com

sábado, 16 de janeiro de 2010

O paradoxo do serviço

Reza a lenda que um bom serviço envolve algumas dimensões, tais como: confiabilidade no atendimento; responsabilidade e compromisso com a entrega do resultado; segurança do processo, dos dados e das pessoas; adequação e qualidade das instalações físicas e dos equipamentos; boa aparência e empatia dos atendentes. Todas essas dimensões, nós podemos observar diariamente nos serviços prestados à população.

Capitaneada pela angústia e pela fúria de perder cinco dias, entre telefonemas e filas de espera, tentando solucionar um aparente problema de bloqueio de cartão de crédito de uma rede de lojas de eletrodomésticos, Cleudenice, uma senhora de cinqüenta e tantos anos, mãe de três filhos e avó de dois pirralhos, aos prantos, desabafa:

- Minha filha, essa é a décima vez que eu digo a vocês: eu paguei essa conta! Veja aqui o recibo do banco.

Cleudenice mostra o recibo do caixa do banco à atendente. Esta, uma jovem de uns vinte e poucos anos, bonita, sem filhos, com ensino superior incompleto e estudante de cursinho para concursos, pacientemente, responde:

- Eu sei Senhora. A Senhora já me mostrou. O problema é que a Senhora só poderá utilizar novamente seu cartão quando o nosso sistema reconhecer o pagamento.

- Não acredito nisso! Retruca Cleudenice. Com quantas pessoas vou ter que falar para provar que já paguei a conta? Cleudenice toma fôlego e continua:

- Olha, minha filha: eu já fui ao setor de crediário. Depois fui ao setor de pagamentos atrasados, que me mandaram falar com o gerente “sei-lá-das-quantas”. Ele me disse que era uma questão do departamento financeiro. Fui ao departamento financeiro e falei com um tal Valderli, que me disse que se tratava de inadimplência e que só se resolveria com uma empresa de recuperação de crédito. Pois bem, fui a tal empresa e falei com Silvânia, que me passou para Marisvalda. Marisvalda teve que sair para o almoço e me transferiu para você.

Cleudenice tomou outro fôlego e prosseguiu:

- Só com você, minha filha, eu já estou a mais de meia hora e você ainda não vai resolver o problema que vocês criaram para mim. O que vocês estão fazendo comigo é desumano!

- Não se trata disso senhora. Falou a atendente, com uma voz de filhinha falando para a mamãe.

- Então, se trata de quê minha filha?

- É que nosso sistema tem que reconhecer o pagamento para liberar o serviço para a Senhora.

- Mas, tem mais de 15 dias que eu paguei a conta. Aliás, paguei na data correta! Veja.

Cleudenice tenta mostrar novamente o comprovante de pagamento, quando a atendente repete:

- Não adianta Senhora, só após o sistema acusar o pagamento que liberaremos o seu cartão.

- Olha, minha filha. O dinheiro saiu da minha conta e foi para a de vocês. Não foi?

- Não adianta Senhora, só pós o sistema acusar.

- Isso é um absurdo! Quem vai acusar vocês sou eu! Cleudenice grita, perdendo a paciência e chamando a atenção das outras pessoas que estão sendo atendidas e na fila de espera.

A atendente se assusta com a reação de Cleudenice e chama o gerente de atendimento. O gerente – um rapaz alvo, de braços finos e um bucho saliente – chega ao local e, depois de escutar tudo de novo de Cleudenice, conclui:

- Infelizmente, a Senhora terá que voltar aqui amanhã para regularizar sua situação. Pode ser que, daqui prá lá, na virada de um dia para outro, o sistema atualize seus dados e resolva o problema. Sem isso, não podemos fazer nada pela Senhora. Só aguardar.

Cleudenice, exausta e derrotada, sai da sala de atendimento com seu recibo na mão. O gerente, com olhar galanteador, mira a atendente e comenta:

- Tá vendo como acalmar o cliente e evitar tumulto?

A atendente, sabendo bem o joguinho do setor de atendimento, lançando um charme ao gerente, responde baixinho, só para ele escutar:

- Por isso que você é meu ídolo. Você é foda! Agora vou indo, que meu horário já passou e muito.

Na saída do prédio, a atendente encontra o namorado - um rapaz moreno, forte e tatuado - e sua moto. Sobe na garupa, coloca o capacete e comenta:

- Que dia de merda! Uma coroa me ficou chateando o tempo todo por causa de um pagamento que fez e que não está sendo reconhecido. Deu um escândalo lá na frente de todo mundo. E eu ainda tive que ficar ouvindo as babaquices daquele gerente bundão. Aliás, cadê o seu carro?

- Ainda tá na revisão.

- Putz! O serviço daqueles caras tá cada vez pior. Não sei por que você ainda insiste neles?

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