sábado, 11 de julho de 2009

Problematizando a avaliação

Fico espantando como o tema avaliação perpassa inúmeras áreas da atividade humana. Geralmente associamos avaliação ao campo educacional. É fato que esse campo estuda esse tema com mais interesse, mas o assunto está longe de ser de sua exclusiva curiosidade científica e epistemológica. Apenas citarei um exemplo para deixar mais claro esse argumento.


O exemplo que explorarei pertence ao campo do direto, mais especificamente ao direito do trabalho. Pois bem, três ex-funcionários de uma organização sem fins lucrativos entraram com processo no Ministério do Trabalho alegando determinadas situações laborais exploratórias e exigindo reparação monetária. Os três ex-funcionários alegaram e exigiam a mesma coisa, tinham a mesma experiência na empresa e utilizaram o mesmo advogado. A única coisa que mudava no processo de cada um dos três ex-funcionários era o nome do reclamante. Do outro lado, da acusada, os processos foram respondidos por três peças de defesa também idênticas, porém, uma para cada processo. Os processos, com a acusação e a defesa, foram julgados por três juízes diferentes. O primeiro sentenciou a invalidade da reclamação. O segundo sentenciou o pagamento de alguns reais, nada muito oneroso para a reclamada. O terceiro e último juiz condenou a reclamada a pagar uma multa no valor de um apartamento de 3 quartos em área nobre de Salvador. O que houve de diferente nos três processos para gerar três diferentes sentenças, além do nome do reclamante e do nome do juiz?

Apresentarei uma série de questões sobre avaliação, fruto de minhas discussões no doutorado, que servirão como elemento de aprofundamento conceitual e ponto para troca de idéias sobre a avaliação no campo educacional, mas que servem também para outras áreas. Hoje debaterei sobre “o que é avaliação’. Nos próximos artigos, falarei sobre “porque avaliar”, “o que avaliar” e “como avaliar”.

O que é avaliação

A avaliação é um substantivo feminino que significa o ato ou o efeito de avaliar (avaliar-se), ou seja, de determinar a valia ou o valor de alguém ou alguma coisa. Significa também apreciar ou estimar o merecimento, ajuizar; calcular, computar, fazer idéia, supor; reconhecer a grandeza, a intensidade e a força; reputar-se, considerar-se. A avaliação, nesses sentidos, transita direta e indiretamente em várias atividades humanas.


Avaliamos a qualidade dos bens que compramos e dos alimentos que consumimos e, para eles, estipulamos um valor de troca. Estimamos nossas possibilidades atuais e projetos de futuro. Apreciamos as manifestações culturais, artísticas e esportivas. Fazemos idéias de nossos problemas e supomos alternativas para solucioná-los. Reconhecemos a grandeza das realizações humanas, a força e a intensidade na natureza. Julgamos nossos atos e os atos de outros, reputando-nos e nos posicionando no mundo em que vivemos.

Apesar de ser aparentemente fácil entender o conceito de avaliação e suas aplicações, analisando com um pouco mais de cuidado ela se configura uma questão mais complexa do que normalmente se imagina. Luckesi, por exemplo, entende “avaliação como um juízo de qualidade sobre dados relevantes, tendo em vista uma tomada de decisão”. O juízo de qualidade é produzido por um processo comparativo entre o objeto que está sendo ajuizado e o padrão ideal de julgamento. Sordi, por outro lado, entende que a prática de avaliação é um ato dinâmico onde o professor e o aluno assumem os seus papéis, de modo co-participativo, através da implementação do diálogo e da interação respeitosa, comprometendo-se com a construção do conhecimento e a formação de um profissional competente. Para ela, avaliação é um ato essencialmente político, expressando concepções de Homem-Mundo-Educação.

Ristoff confronta dois outros pensadores para demonstrar a complexidade de conceituar avaliação. O primeiro é David Nevo que entende que a avaliação deve ser definida como a investigação sistemática do valor e do mérito de um objeto. Nevo ainda defende que a neutralidade é uma fantasia e que expressar os juízos é uma obrigação de quem conhece melhor o objeto avaliado. O outro é Cronbach que entende que o avaliador é antes de tudo um educador cujo sucesso se mede pelo que os outros aprendem. Neste sentido, o avaliador não é um juiz de futebol contratado para decidir quem está certo ou errado. Avaliar significa simplesmente conduzir um estudo sistemático do objeto avaliado e em conseqüência deles.

O próprio Ristoff define avaliar como uma atividade de pesquisa sistemática e não uma mera expressão de opiniões e palpites de iluminados, sendo, para ele, uma tarefa orientada para a identificação de valor e mérito. O autor apresenta algumas das várias definições que têm historicamente sido expressas pelos que pensam a avaliação:

Avaliação é um processo para determinar até que ponto os objetivos educacionais foram realmente alcançados (Ralph Tyler, 1950).

Avaliação é a coleta de informações com vista à tomada de decisões (Cronbach, 1963).

Avaliação é a descoberta da natureza e do valor de alguma coisa (Stake, 1969).
A investigação sistemática do valor e do mérito de algum objeto (Joint Committee on Standarts for Evaluation, 1981).

Avaliação educacional é o estudo concebido e conduzido para ajudar o público a julgar e a aperfeiçoar o valor de algum objeto educacional (Daniel Stufflebeam, 1983).

Avaliação é o processo de organização de informações e argumentos que permitam aos indivíduos ou grupos participarem do debate crítico sobre programas específicos (1986).

Avaliação é o processo através do qual se determina o mérito, o valor de mercado e o valor das coisas (Michael Scriven, 1991).

Avaliação institucional é um empreendimento sistemático que busca a compreensão global da universidade, pelo reconhecimento e pela integração de suas diversas dimensões (José Dias Sobrinho, 1995).

Apesar de existirem diversas definições de avaliação, Worthen, Sanders e Fitzpatrick argumentam que a maioria prefere a proposta por Scriven, que definiu avaliação como “julgar o valor ou mérito de alguma coisa”.

Para esses autores, uma definição mais extensa diria que avaliação é identificação, esclarecimento e aplicação de critérios defensáveis para determinar o valor ou mérito, a qualidade, a utilidade, a eficácia ou a importância do objeto avaliado em relação a esses critérios. A avaliação, desta maneira, usa métodos de pesquisa e julgamento, implicando em: 1) determinação de padrões (relativos ou absolutos) para julgar; 2) coleta de informações relevantes; 3) aplicação dos padrões para determinar valor, qualidade, utilidade, eficácia ou importância, objetivando a otimização do objeto em relação a seus propósitos futuros.

Os autores encerram de maneira singular, universal e utilitarista a discussão sobre o conceito de avaliação ao afirmarem que a maneira pela qual uma pessoa define avaliação deriva daquilo que entende por seu propósito básico.

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