sábado, 25 de abril de 2009

Existe alternativa ao capitalismo? (3 de 3)

Nova crise mundial: a crise da marolinha

O mundo e, principalmente, o Brasil, ainda não tinham esquecidos os efeitos da crise fiscal dos anos 80 e 90 quando mergulharam numa nova crise.


Essa nova crise, que se originou no centro do capitalismo mundial, teve como estopim o calote de empréstimos imobiliários (subprime) nos Estados Unidos. No início dessa década, havia enorme oferta de crédito e pequenas taxas de juros nos EUA, o que levou muitos estadunidenses a tomarem empréstimo para comprar a casa própria. Com o aumento da demanda por casas e imóveis, surgiu uma bolha especulativa nos preços desses bens. Os novos compradores começaram a financiar a compra de suas casas a preços cada vez mais elevados. Esse ritmo crescente nos preços levou muita gente a vender o imóvel financiado e se endividar em outro, ficando com um troco nessa transação.


Essa farra acabou quando, em agosto de 2007, muitos tomadores de empréstimo não honram com o pagamento de seus financiamentos, pois haviam usado o troco na compra bens de consumo. Os proprietários de casas financiadas viram o valor de seus imóveis despencar, o que não aconteceu com o valor da dívida pelo financiamento destes imóveis. O nível de endividamento cresceu estratosfericamente e a capacidade de honrá-lo não. O resultado foi a queda no valor dos títulos imobiliários e o conseqüente abalo nas contas dos bancos. O momento mais dramático aconteceu em setembro de 2008, com a quebra do Banco Lehman Brothers (até então 4º maior banco de investimento dos Estados Unidos).


A FIEB (2009) entende que essa crise financeira internacional tem como real origem os desequilíbrios macroeconômicos da economia mundial, associados ao modelo de financiamento do enorme déficit em conta corrente do balanço de pagamentos dos Estados Unidos (através de recursos oriundos de petrodólares e das reservas oficiais de países asiáticos) e resume assim as suas principais características:


1) escassez de crédito tanto para os bancos quanto para as empresas, em decorrência da maior aversão global ao risco;
2) aumento dos spreads e encarecimento, de maneira rápida e abrupta, da tomada de recursos de curto e médio prazos nos mercados interbancários;
3) forte queda e maior volatilidade dos mercados acionários de todo o mundo;
4) depreciação das principais moedas do planeta; e
5) queda dos preços das commodities (com destaque para o petróleo, que, em julho de 2008, quase alcançou US$ 150/barril, mas terminou o ano em torno de US$ 40/barril).


Isto impactou diretamente na economia real e na vida de pessoas em todo o mundo, atingindo diretamente o investimento, a produção, o consumo, a renda e o emprego. Pela grande capacitada ociosa, a FIEB entende que setor automobilístico mundial foi um dos mais atingidos, mas que o prejuízo se alastrou indiscriminadamente por todos os setores: Ford (prejuízo de US$ 14,6 bilhões), Citigroup (prejuízo de US$ 18,7 bilhões), NEC (prejuízo de U$ 3,2 bilhões) e Hitachi (prejuízo de US$ 8 bilhões).

No Brasil, empresas gigantes e de escala mundial, como a Vale, teve seu valor reduzido em mais da metade do que era antes da crise. Algumas empresas valiam mais enquanto parque industrial (peças, equipamentos, imóveis e terrenos) do que enquanto papel vendido na Bolsa de Valores de São Paulo.


O gráfico a seguir demonstra essa depreciação dos ativos no setor bancário mundial.

A crise atingiu fortemente o emprego. Só aqui no Brasil, aonde a crise real chegou com alguns meses de atraso, foram perdidos mais de 700 mil postos de trabalho com carteira assinada entre os meses de dezembro de 2008 e janeiro de 2009. A perda foi do tamanho de uma cidade como Aracaju ou João Pessoa. A maior precariedade no emprego teve impacto no processo de migração das classes menos favorecidas para as mais favorecidas, que estava acontecendo nos últimos anos. A classe C, que é a locomotora do país, parou de crescer e teve seu peso relativo reduzido de 52,81% para 52,64%. Consequentemente, o índice GINI, que mede a desigualdade social, que estava suavizando, voltou a se agravar.


Para não afundar ainda mais o nível de emprego e renda do país, o Governo Federal iniciou uma redução, ainda que tímida, da taxa de juros. Além disto, reduziu o IPI na produção de automóveis e em alguns itens de linha branca (geladeiras e fogões). Os efeitos foram imediatos na sustentação do nível de demanda desses produtos. Entretanto, de maneira geral, há uma forte redução do PIB projetado e real. Ainda não há consenso sobre quanto crescerão o Brasil e o Mundo neste ano, mas se sabe que será negativo ou próximo de zero.


Para o Estado, a crise o atinge justam no nível de arrecadação (impostos). Desta maneira, pode-se concluir que é uma nova crise fiscal. O Estado, que passou ou não por um processo de enxugamento nas décadas passadas e que viveu um momento de expansão, nos últimos anos, volta ao centro da questão. Precisa-se de novas reformas que dêem ao Estado um aumento de eficiência sem a elevação de gastos. Na verdade, precisa-se de redução de gastos e, ao mesmo tempo, aumento de investimento para aquecer a economia. Não será fácil.


Os momentos de crise, paradoxalmente, são os melhores momentos para se criticar e os piores momentos para se fazer reformas ou revoluções. Em momentos de crise, não se pensa bem e não se tem muitas escolhas. A hegemonia do capitalismo, neste sentido, é alfinetada, mas, não se tem muita escolha. A pergunta que ainda continua sem resposta é: qual é a alternativa viável fora do capitalismo?


Para Boaventura de Souza Santos, uma das tarefas urgentes consiste em formular alternativas econômicas concretas que sejam ao mesmo tempo emancipatórias e viáveis. Essas alternativas, que não podem ser radicais e que devem conviver com o capitalismo para serem viáveis, devem superar o modelo hegemônico no que ele tem de pior: a produção de desigualdades de recursos e de poder (sejam entre classes sociais, entre etnias, entre gêneros etc.); a alienação da população, precarização das relações pessoais ou sociabilidade empobrecida e meramente baseada em benefícios pessoais e imediatos; e o esgotamento dos recursos naturais.

Fontes:
G1
FIEB
Boaventura de Souza Santos

Um comentário:

Diogo da Luz disse...

Existe a economia solidária, que, como foi dito, consegue ser um período de transição não-radical.

www.diogodaluz.blogspot.com

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