segunda-feira, 19 de julho de 2010

Necessitamos de mais qualificação profissional


Certo dia, quando eu ainda trabalhava em uma cervejaria e era um dos responsáveis pelo setor de compras, aconteceu um fato que contribui para ilustrar o desafio que teremos de enfrentar para alcançar um ritmo de crescimento econômico sustentável: a qualificação profissional de nossa mão-de-obra e de nossos empresários.

Na ocasião citada, precisávamos comprar um painel de identificação para a entrada da cervejaria. O painel deveria cobrir toda a entrada por onde passavam caminhões, assim como teria de ser instalado a uma altura suficientemente alta para que os veículos carregados deixassem a fábrica sem nenhum problema. Após termos consultados vários fornecedores, um dos escolhidos para fazer um orçamento nos surpreendeu pelo despreparo com o serviço, com o cliente e, principalmente, com os seus funcionários.

Primeiro, apresentou-se inadequadamente na reunião, tentando estabelecer uma relação informa e permissiva. Qualquer comprador tecnicamente habilitado e ético sabe que o formalismo, o rigor às regras e a impessoalidade são as opções desejadas, principalmente por organizações sérias. Segundo, demonstrou total desprezo à organização e à higiene. Há quinze anos, quando eu era estagiário de uma companhia de petróleo, um de meus instrutores fazia questão em dizer que o banheiro de um posto de gasolina deveria ser impecavelmente limpo. Higiene significa saúde e satisfação dos clientes. No caso de nosso fornecedor de painel, no caminho entre o escritório e a entrada da cervejaria, onde deveríamos medir o tamanho do painel, ele jogou no chão da calçada um copo de água que acabara de usar. Abaixamos para pegar o copo e o colocamos no lixo. Nesse momento, observando o seu vacilo, ele comentou:

- Fornecedor: É! Aqui vocês têm essas frescuras de preservação do meio ambiente, né?

Terceiro, ignorou qualquer conhecimento acerca do serviço, das condutas de segurança, das relações humanas e da gestão das pessoas de sua empresa. Ao chegar ao local de instalação do painel, o fornecedor pediu a um de seus empregados que subisse numa escada para mediar a área de do painel. A escada que ele levara não estava em boas condições e o funcionário trajava roupas comuns e vestia uma chinela tipo havaianas. Ao começar a mediar a área, lá em cima, o funcionário ameaçou cair por duas vezes, pois a escada balançava muito e ele se esticava para alcançar os pontos de media. Ao ver a situação, informamos ao fornecedor de nossa preocupação com a segurança de seu funcionário. A resposta que obtivemos não fugiu à expectativa.

- Nós: Não parece perigoso? O seu funcionário pode cair.
- Fornecedor: Antes ele que eu!

A tragédia não aconteceu. Como também não aconteceu a contratação desse fornecedor. Infelizmente não são poucos os fornecedores e os prestadores de serviços que, desqualificadamente, propõe-se a competir no mercado. Quando a economia está desaquecida, há, de certa forma, uma seleção natural e os piores fornecedores são eliminados. Entretanto, quando a economia se aquece e permanece aquecida por algum tempo, esse tipo de fornecedor consegue sobreviver.

Estamos em um período de economia aquecida e de falta de mão-de-obra qualificada, seja ela do dono da empresa ou de seus funcionários. Recentemente envolvido em uma obra de um novo empreendimento, estou surpreendido com a quantidade de pessoas desqualificadas que estão no mercado ou que querem, a qualquer custo, entrar no mercado. Nessa recente experiência, acredito ter me relacionado com mais de 30 fornecedores diferentes. Destes, estimo que apenas dois corresponderam ao esperado: cumpriram ou entregaram o que venderam, sem qualquer efeito colateral. Todos os demais faltaram à expectativa: orçaram errado, entregaram errado, entregaram com defeito, demoraram para entregar, montaram errado, quebraram ou sujaram outras coisas para montar e por aí vai...

Solução? Educação e qualificação profissional. Não é por menos que o tema está em todos os programas dos principais concorrentes à presidência.

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