terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Lição de Gaza

Nesta semana, a Faixa de Gaza, que é uma tripinha de território encravado entre o Egito e Israel, voltou às cenas pela violência. De um lado, o Hamas, partido sunita do Movimento de Resistência Islâmica, que assumiu o poder em 2006, após ter vencido as eleições parlamentares e que vem disputando, com o Fatah, o poder na Palestina. Do outro, Israel, país formado majoritariamente por judeus e que declarou independência em 1947, derrotando, de uma só vez o Egito, a Síria, a Jordânia e o Líbano.

Até o término desse artigo, o saldo dos confrontos entre o Hamas e Israel estava em 366 mortos. Sendo 364 palestinos e 2 israelitas. Não contando os feridos, esse saldo impressiona pela desproporção e impacta o mundo (menos os Estados Unidos) pela violência aplicada por Israel, após o rompimento da trégua pelos palestinos do Hamas.

Como todos sabem, Israel, apesar de pequeno, é uma potência militar. Além de armas nucleares, o país conta com um sofisticado sistema de defesa e, também, de ataque baseado, sobretudo, no poderio aéreo. Foi a partir da superioridade aérea que Israel derrotou o Egito e a Síria em 1967 e, novamente, em 1973, configurando o seu território no que conhecemos hoje em dia.

Quanto aos palestinos, além de brigarem internamente pelo controle do poder, são militarmente debilitados. Ficam jogando foguetinhos para o outro lado da fronteira na esperança de fazer algum estrago. A estratégia antiga de se explodir num ataque terrorista suicida aparentemente não está sendo empregada ou possível de ser empregada, uma vez que Israel eficazmente bloqueia a entrada de qualquer suspeito. Além do mais, a palestina está quase que totalmente cercada por Israel, reduzindo a possibilidade de ressuprimento de armas.

Mas, o que isso tudo tem a ver conosco, brasileiros? Além da defesa da paz e interesse de nossos conterrâneos com origem palestina ou israelita – pois as suas colônias no Brasil não são pequenas – e da inevitável tendência de querer tomar as dores do mais fraco (os palestinos), podemos aprender muito com esse conflito que, aparentemente, nunca vai acabar.

A lição que tiro é nunca se acostumar com a ocupação/invasão do outro. Lá por volta do séc. III, os judeus foram expulsos da Terra Santa pelos romanos, vagarosamente retornaram, ocuparam terras, guerrearam e nunca desistiram de brigar por aquele solo árido (ainda bem que não descobriram a caatinga). Os palestinos e, de certa forma, os mulçumanos também. Foram invadidos pelos romanos e sofreram diversas cruzadas, resistindo a tudo isso. Ocupavam reinados, eram derrotados, iam e vinham. Mas, nunca desistiram. Uma hora um está por cima, noutra outro.

Não defendo aqui uma posição xenófoba. Não é isso. A não ocupação pelo outro é uma condição de não aceitar o que está errado, guerrear contra o que lhe ofende. Em nossa sociedade já estamos bastante acostumados a aceitar o que nos faz mal. É só olhar para as grades das casas, para as cercas elétricas, para as contas do plano de saúde e da escola privados. Se há roubo, assalto e seqüestro, nos acostumamos a isso. Se há má educação, péssimo saneamento e muita dengue, nos acostumamos a isso. Nossa solução nunca é a luta, nunca é a guerra. Nossa solução é alternativa, contemplatória, pacífica.

Uma maluca-beleza de 24 aninhos picha o muro da Bienal de São Paulo e, numa das poucas lições que vai receber na vida, passa dois meses em cana. A imprensa nacional cai de pau no Governo Paulista, como se Serra pudesse mandar soltá-la. Nossos intelectuais pregavam em alto e bom som que a maluquete só queria se expressar e o muro da Bienal, branco, era um convite. Sabe-se muito bem que pichação não é certo. Existem estudos comprovando que cidades pichadas têm maior nível de sujeira nas ruas e roubos. Quer se expressar, compre um quadro branco e piche ou fique nu na praça central, como fazem os ingleses. Pronto. Ter pena da pichadora e aceitar a sua arte é, mais uma vez, acostumar-se com o invasor. Lembro-me bem do americano (dos Estados Unidos) que pichou alguns muros lá em Pequim e, como punição, levou 100 chibatadas de bambu. Alguém teve outra notícia de pichação em Pequim depois disso?

Acostumamos-nos a pagar 14º salário para parlamentar que não trabalha; a aceitar que promotores e jornalistas matem e saiam impunes; a banqueiros que são condenados e não são presos; a juizes lalaus; a traficante que manda bala de cima para baixo; a policiais que fuzilam todo mundo; a pedinte de rua quando há Bolsa Família; a invasão de sem terras em terras produtivas; a calote de nossos vizinhos internacionais; a prédios que caem e navios que afundam sem nenhum culpado. A tantas coisas nós nos acostumamos sempre com a falsa impressão que não é conosco. Só que um dia, a casa cai.

No condomínio onde moro, tenho que conviver com a idéia de que já houve um seqüestro seguido de morte e a suspeita de tráfico de drogas por alguns marginalzinhos, filhos de alguns vizinhos. Os assassinos do seqüestrado estão, até o momento, presos. Quanto ao tráfico, colocamos câmeras de vídeo para não enfrenta um conflito direto com nossos condôminos, que também não enfrentam seus filhos.

Até quando nossa guerra será evitável?

Sites pesquisados:
www.g1.com.br
www.estadao.com.br
www.nytimes.com

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