quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Promessas ao Santo Shultz

Após a festa do Ano Novo, mas especificamente nesta semana, 5564 prefeitos eleitos assumem seus cargos nos municípios brasileiros. Com eles, 52 mil vereadores também integram às câmaras de vereadores. O mote das discussões, sem sombra de dúvida, são promessas feitas durante a campanha e que devem tomar vez (corpo, peso e conteúdo) nas prioridades de cada município.

Promessa é algo que fazemos no presente, em virtude de um benefício, para ser cumprido ou pago no futuro. A promessa consiste em, primeiro, um juramento (semelhante a um contrato), depois, um benefício (a graça a ser alcançada), e, por último, um sacrifício (a ser realizado em função da graça alcançada). Por exemplo, é bastante comum fazer promessa a um santo em ajuda a um parente necessitado. Uma vez recuperado o parente, quem fez a promessa tem de cumprí-la. Quem não se lembra de Zé do Burro, em “O Pagador de Promessas”, de Dias Gomes? Quem vai à Juazeiro do Norte (Ceará) fica encantado e impressionado com a quantidade de objetos deixados nas dependências da estátua do padre Cícero, em virtude do cumprimento de uma promessa. O mesmo acontece na gruta de Bom Jesus da Lapa (Bahia) e em todos os outros lugares de grande romaria.

O contrário também pode acontecer. Primeiro o sacrifício para, depois, o benefício. Esta ordem é mais comum em promessas cujos pressupostos não são religiosos. Diria que até, aquelas promessas que, no fundo, têm fundamento econômico. Os exemplos são muitos. Um casal se promete curtir férias na Europa e, para isso, tem que poupar uma determinada quantia por mês. As férias em si, já é o benefício futuro de um ano de trabalho. Se não quisermos fazer promessas para padre Cícero, podemos pagar um plano de saúde com a promessa de que, se ficarmos doentes, teremos um bom atendimento médico-hospitalar.

Dentro do exemplo de “sacrifício primeiro, benefício depois” temos toda uma teoria econômica, da qual chamarei a atenção à Teoria do Capital Humano, desenvolvida por Theodore Schultz. Essa teoria nada mais é do que atribuir uma função econômica à educação. Pessoas melhor educadas ganham mais é o refrão dessa teoria. Na mesma proporção, um país, um estado ou um município com população melhor educada é um país, estado ou município mais rico e desenvolvido. Na Teoria do Capital Humano, a educação é um sacrifício na medida em que os recursos (professores, prédio, cadernos, transporte, livros etc) empregados para a sua realização poderiam ter outro fim alternativo. Além disto, os alunos sacrificam seu tempo indo às aulas, uma vez que poderiam alternativamente estarem trabalhando para incrementar a renda familiar.

O fato de sacrificarem recursos e renda alternativa dos alunos, em promessa a um benefício futuro, dá à educação um carater de investimento que deve ser medido economicamente. A educação apenas é economicamente interessante se trouxer ganhos futuros maiores que os sacrifícios imediatos. Inúmeras pesquisas comprovam o efeito do capital humano na renda das pessoas e dos países, apontando como um excelente investimento público e privado. Corroborando com essas teorias, o exemplo da Coréia do Sul está disponível para todos. Parece óbvia, mas só na metade do século passado é que a Teoria do Capital Humano começou a ser ecomicamente aceita e empregada.

Fora o benefício direto que a educação provoca na renda dos indivíduos e na da sociedade, muitos outros também são creditados a esse sacrifício. Pessoas melhor educadas estão associadas e melhores níveis de criminalidade, adoecem menos, educam melhor seus filhos, ficam menos tempo desempregadas, fazem poupança e são mais prudentes ao dirigirem seus carros.

No final deste ano, teremos nova rodada de avaliação para a composição do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e, com isso, saberemos se os prefeitos e vereadores eleitos estão cumprindo o juramento das promessas de campanha relacionadas com a educação ou se estão deixando nas costas de
São Tomas de Aquino a responsabilidade da formação de nossos estudantes.

Conheça o IDEB de seu município neste site:
http://ideb.inep.gov.br/Site/

2 comentários:

Jorge Amaral disse...

... Já que você refletiu no campo da religiosidade e como os seres humanos se especializaram na arte de falhar com os compromissos assumidos - diante de promessas declaradas é prudente reafirmar o dito bíblico: “nem mesmo os príncipes são confiáveis” (Sl 118:9)...

Alice Senna disse...

Mas, vale lembrar que o IDEB revelará os investimentos da gestão anterior... contudo, os re-eleitos precisam mostrar que algo fizeram. Bjs meninos

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