sábado, 13 de junho de 2009

Feriados produtivos

Nesta última quinta-feira (11 de junho) se comemorou o Corpus Christi, uma festa da Igreja Católica que celebra a presença real e substancial de Cristo na Eucaristia. Entendeu? Também não.

Segundo o site wikipédia, a Eucaristia é uma celebração em memória da morte sacrificial e ressurreição de Jesus Cristo. Também é denominada "comunhão", "ceia do Senhor", "primeira comunhão", "santa ceia", "refeição noturna do Senhor”. É um dos sete sacramentos, juntamente com o batismo, a confirmação do batismo (ou crisma), a confissão (ou penitência), a ordem (sacerdotal), o matrimônio e a unção dos enfermos.

Sacramentos são sinais sensíveis e eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, mediante os quais nos é concedida a vida e graça divinas. A Eucaristia é o próprio sacrifício do Corpo e do Sangue do Senhor Jesus, que Ele instituiu para perpetuar o sacrifício da cruz no decorrer dos séculos até ao seu regresso, confiando assim à sua Igreja o memorial da sua Morte e Ressurreição.

O Corpus Christi é realizada na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade que, por sua vez, acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes. É uma festa de 'preceito', isto é, para os católicos é de comparecimento obrigatório participar da Missa neste dia, na forma estabelecida pela Conferência Episcopal do país respectivo. O ritual é simples e foi descrito por Lucas: “E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da Nova Aliança [ou Novo Pacto] no meu sangue derramado em favor de vós." (Lucas 22:19-20). Traduzindo: nas igrejas, o cristão recebe o pão e o vinho, repetindo o que Cristo fez na sua Última Ceia. "Tomai todos e comei, isto é o meu corpo que será entregue (...) Tomai todos e bebei, isto é o meu sangue (...) Fazei isto em memória de mim". (Mateus 26;26-29, Marcos 14:22-25, Lucas 22:19-20, I Coríntios 11:23-26)

Entendido o que é Corpus Christi, pergunto: justifica-se dedicar um feriado nacional a todos os brasileiros, mesmo não sendo todos cristãos? Poderíamos argumentar que a maioria dos brasileiros o é e, portanto, o feriado é assim justificado. Neste caso, cabe a pergunta: sendo a maioria dos brasileiros cristã, essa maioria dedicou o feriado de Corpus Christi às tradições e rituais da Eucaristia? Essa é uma pergunta mal formulada, pois não há como saber. Farei outra: a maioria dos brasileiros sabe o que significa Corpus Christi e porque celebramos esse dia? Provavelmente não. Afirmo isto empiricamente, com base em depoimentos e pesquisas jornalísticas. Faça um teste você mesmo e chegará a conclusão que poucos sabem o significado e o ritual desse feriado.

Deixando o Corpus Christi em paz e ampliando o debate a outros feriados, também sinto dificuldade conceitual e emocional na comemoração de muitos de nossos feriados municipais, estaduais e federais. Por que ainda comemorar o 7 de Setembro? Há alguma ameaça à soberania nacional pelos portugueses, holandeses ou franceses? Por que comemorar o 21 de abril? O 15 de novembro? Se eu fosse de outra religião, por que comemoraria os feriados católicos?

Com a mudança demográfica e cultural que vivenciamos, assim como com o acirramento da globalização, que nos impõe contato direto com inúmeras culturas questiono a necessidade de feriados da maneira tradicional. O feriado está sendo banalmente comemorado como uma folga ao trabalho ao invés de uma oportunidade de se exercer uma atividade cultural, religiosa, folclórica, social etc. Defendo a institucionalização de feriados produtivos.

Feriados produtivos são aqueles dias que você pode dedicar ao que quiser. Todo brasileiro terá não mais e não menos que 5 feriados ao longo do ano. 5 dias úteis quaisquer que podem ser transformados em feriados. Sejam 2 de janeiro, 7 de julho, 23 de agosto, 18 de novembro ou 13 de dezembro. Quem decide o feriado é o próprio cidadão. Quem decide o que fazer com o feriado também é o cidadão.

Grupos religiosos iriam convencer seus fieis a utilizarem seus feriados para comemorar suas datas significativas. Outros grupos da sociedade civil iriam convencer pessoas a dedicarem os seus feriados a alguma causa social, como: alfabetizar pessoas, fazer passeatas de protesto, ajudar em algum projeto social. Clubes de futebol assediariam os torcedores nas comemorações de títulos. Esportistas utilizariam seus feriados para alguma competição. A maioria dos brasileiros continuaria utilizando o feriado para o que já faz hoje, alguma atividade particular sem relação com o resto da sociedade. Os feriadões seriam intencionais e não ocasionais. Uma pessoa poderia perfeitamente gastar todos dos dias do feriado consecutivamente, de segunda à sexta, fazendo um feriadão particular e legalizado. Acabaríamos com as malditas compensações de horas e com o faz-de-conta dos dias imprensados.

A relação de todos com o feriado seria bem mais honesta, democrática e produtiva.

2 comentários:

Alice Senna disse...

Tirando o aspecto politico e econômico da sua postagem, tem algo estrutrante nas sociedades que são os ritos, mitos, tradições. O mundo virou um mercado global, mas o homem ainda sente necessidade do ócio produtivo, quer seja descansar, estar mais com a família, fazer o que deseja sem a preocupação com a produção formal que o trabalho impõe. A vida não é só trabalho.. graças a Deus!! Bjs para vc.

Jorge Amaral disse...

Concordo com você amigo Arturo, qualquer lógica (ainda que paradoxalmente subjetiva) é melhor do que escolher viver no "faz de conta"...

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