segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O problema que dá mijar


Calma, caro leitor! Sei que encerrar o ano com esse verbo é estranho. Talvez até um pouco chulo. Eu poderia ter usado outro menos mundano, como urinar, ou mais infantil, como fazer xixi, ou, até mesmo, mais simbólico, como fazer o número-um. O fato é que “mijar” dá o tom certo à problemática que será apresentada e rima bem com o resto do título.

Mas, pensando bem, qual o problema com mijar? Mijar é uma coisa ótima. Talvez uma das melhores coisas que já inventaram. Comparando com o número-dois, uma boa mijada provoca o mesmo alívio, é rápida, não cheira (ou cheira menos) e, principalmente, não mela. Ao mijar, purificamos nosso corpo, pois colocamos para fora tudo que não nos serve mais ou nos serve mal. Mijar é diversão. Quantas vezes, nós homens, já fizemos desenhos na terra com nossos jatos, ao pé de uma árvore protetora ou, até mesmo, na areia da praia. Não sei se alguém já pensou nisso, mas acho que, no limite, mijar pode ser até arte. Já imaginaram uma sinfonia de mijos? Cada integrante com sua contribuição. Uns mais rápidos e graves. Outros mais longos e agudos. Claro, para tocar a Nona Sinfonia de Beethoven precisar-se-iam de umas trezentas pessoas com bexigas bem cheias.

Depois de tantos elogios rasgados – ou mijados – para nosso querido número-um, preciso retomar ao assunto, pois esse post não é de coisas boas e sim dos problemas que uma mijada dá. Acho que não é paranoia minha, pois há notícias de graves problemas desse ato que se repete, em média, seis vezes ao dia por pessoa. E, antes que comecem a me chamar de neurótico ou frustrado, devo registrar, logo de largada, que se o mundo tem em torno de 7 bilhões de pessoas, são, em média, 42 bilhões de mijadas diárias. Volumetricamente, são aproximadamente 17 bilhões de litros de mijo sendo despejados todos os dias. Pois é! Se há tanta mijada e mijo, deve haver muitos problemas relacionados a eles. A seguir, coleciono alguns problemas bem pitorescos que quero compartilhar com você, meu leitor mijador, a partir de duas perspectivas: a pública e a privada.

Do mais amplo ao mais restrito, começo com o problema do mijo na sua dimensão mais pública. Mijar em público ou mijar a torto e a direito pode causar estranheza aos desavisados. Nesse caso, falar de mijo público é, ao fim do dia, falar de Salvador. É público e notório que os pilares dos viadutos de Salvador estão comprometido por anos e anos de irrigação dos baianos da capital. O soteropolitano, por natureza, é um povo sem grandes preocupações de retenção urinária. Ao menor sinal de aperto na bexiga, lá estão eles se aliviando em qualquer esquina, poste, pilar, árvore ou ponto de ônibus. Durante o carnaval de Salvador, não sobra nenhuma parede imaculada. E aquela música que diz “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu” deveria ser “atrás do trio elétrico só não vai quem sabe o que é aquele líquido que não para de escorrer do carro de apoio”. Alguns dos meus amigos ficavam horrorizados ao passarem por pontos de ônibus e se depararem com suspeitos de arma na mão e cara de alívio, fato corriqueiro no traslado diário. Até no campo de futebol, não há aperto. Lembro que meu pai ficava impressionado com a paixão dos torcedores do Bahia e do Vitória ao jogarem copos cheios de cerveja durante a partida. Ele ficava reclamando: “como o povo daqui gosta de jogar dinheiro fora, fica atirando cerveja lá embaixo!”. Coitados dos que estavam na arquibancada inferior, invariavelmente a cerveja chegava quente e sem espuma. Mas, mijar em público não é só coisa de soteropolitano ou de homem. Quem se lembra daquele jogo onde Ronaldinho se agachou peto da bola, ficou um instante parado, deu um sorriso maroto e depois levantou o dedo indicador? Relatoras me informaram que é incrível a quantidade de pipi que as banhistas fazem nas cadeiras de praia pelo Brasil afora. Assim como, andar pelas ruas do Rio de Janeiro sem molhar o pé em uma poça suspeita é quase impossível. Apesar de tudo isso, talvez o pior problema relacionado ao mijo público está justamente nos locais onde ele deveria ser mais sossegado e regrado: os banheiros públicos. De norte a sul, de uma forma geral, os banheiros públicos são um desafio a qualquer apertado, mesmo que seja apenas para o alívio do número-um. Todos nós temos lembranças ruins de banheiros que mal dava para entrar, mas tivemos que usá-los para nos aliviar. Nesse sentido, a pior das minhas experiências ocorreu num banheiro de uma casa de show em Campina Grande, durante o São João. Já sabe, não é? Casa de show lotada, muita bebida e, para completar, o banheiro masculino entupido. O resultado não poderia ser mais catastrófico: para entrar no banheiro – e todos entravam, pois não havia outro lugar – tinha que encarar uma lâmina de água “amarelada” de uns 4 dedos. E, como desgraça pouca é bobagem, ainda tinha um zelador que tentava esvaziar o banheiro com um rodo. Toda vez que ele passava o rodo, gritava: Olha a onda!!! Ai, quem estivesse lá dentro tinha que dá um pulo para não ser atingido pelo tsunami de mijo. Eca! O que a bebida nos proporciona, não é?

Entretanto, os problemas relacionados ao mijo não são só públicos. Cada um de nós tem ou teve um problema particular para recordar. Para alguns, a tarefa de mijar é quase uma tortura fisiológica ou psicológica. E nisso, há situações realmente constrangedoras, do tipo: você está se concentrando para dar uma boa mijada e chega um cara ao seu lado e começa a mijar e emitir sons de gazes inoportunos, seguidos por odores venenosamente sufocantes. Claro que não dá para ficar impassível diante de uma ameaça dessa. Trava-se tudo. Outra situação chata é quando o parceiro ao lado não se contenta em ficar concentrado com o seu instrumento e começa a checar a performance dos outros. Eita coisa desagradável, não é? Igualmente constrangedor é quando quem chega ao seu lado não tem o mínimo de modos e a primeira coisa que faz é dar uma bela cusparada antes de urinar. Nojento demais!!! Mas, a pior situação é quando o seu vizinho não tem boa pontaria e você sente gotículas respingando em seu pé. Dá vontade de contra-atacar, mas os bons modos nos impedem. Há situações também cômicas, quando o pobre coitado não consegue mijar direito e fica fazendo esforço para lançar jatos intermitentes ou então, quando você desafia o oponente na duração e no volume: é uma competição com estratégias certas para vencer e sempre vence quem fica por último. No meu ponto de vista, o pior problema particular é quando, por alguma causa, que só Freud explica, o jato teima em não sair, por mais apertado que você esteja. São situações que ocorrem sem aviso, quando, por exemplo, tem uma fila interminável para usar o banheiro de um bar e, justamente na sua vez, o xixi não sai. Você fica se concentrando, concentrando, concentrando... e nada! Ai tenta diversas técnicas de respiração... e nada! Sempre tem um impaciente na fila que logo reclama e, nesse momento, você apela para o desespero e o suplício: inspira a maior quantidade de ar possível em seus pulmões e coloca toda força no diafragma... e nada! Não tem jeito, você desiste e sai do banheiro para desocupar a moita, vai aguentando a bexiga cheia até outra tentativa mais tarde. Isso pode ocorrer em qualquer lugar e comigo ocorreu no avião. O voo estava para decolar e eu, morrendo de vontade de mijar, pois havia tomado algumas cervejas a mais. Quando o piloto avisou que iria demorar mais 5 minutos para decolar, eu pensei: ótimo, dá tempo! Levantei e, diante dos olhares de desaprovação das aeromoças e da curiosidade da plateia de passageiros, fui direto ao banheiro. Tentei, tentei, tentei... e nada! Naquele momento o que passava em minha cabeça era: paguei o maior mico para fazer esse xixi... e nada! Revoltado e apertado voltei à poltrona. Assim que o avião decolou e estabilizou, tranquilamente me aliviei. São situações incômodas mesmo para uns. Para outros, nada muito complicado. Uma amiga me relatou que, em uma viagem para participar de um congresso, em um país estrangeiro, estava muito frio e nevava bastante. Ela estava hospedada em um hotel sem banheiro no quarto e, como havia tomado vinho e água durante a festa de boas vindas, estava com muita vontade de ir ao banheiro. O frio, a preguiça e o álcool a fizeram ter uma solução inusitada: ela fez xixi num recipiente qualquer que tinha no quarto (nem me pergunte qual foi!) e jogou o líquido pela janela. Tranquila e aliviadamente foi dormir. Pela manhã, ao sai para o congresso, ela olhou para a sua janela pelo lado de fora e viu uma lista amarela que tingia a neve branca do telhado. Ainda bem que, no frio, os odores não são percebidos.

Entre coisas boas e ruins, portanto, caro leitor, apenas posso desejar que em 2013 você dê boas mijadas.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Lapa de Noel


Foi andando pela Lapa que encontrei Noel. Ele estava meio bêbado, mas me reconheceu. Andamos conversando, entrando e saído de botequins até pousar em um de esquina, bem em frente aos arcos. Sem titubear, ele acendeu seu décimo quinto cigarro desde nosso esbarrão, pediu uma cerveja e começou a cantar e tocar um sambinha em uma caixinha de fósforo. Noel é assim: não usa isqueiro. Cerveja vai, cerveja vem. Falamos de tudo. Noite de lua. Lua bela, grande, que dá para ver de longe. Passamos um tempão falando da Lua. Como ela combina com tudo e, ao mesmo tempo, contrasta. Ela revala o que está oculto e, ao mesmo, tempo esconde as cicatrizes do dia. Mas, com Noel não tem apenas um papo. Têm mil! E naquela noite o papo só foi de reclamação. Noel está velho. É de detestar o que estão fazendo com a Lapa. Isso é uma invasão estrangeira! Resmunga Noel. Veja só. Quantos turistas têm ao redor? Só se houve falar em outras línguas. Noel não tem cerimônia, não faz salinha, vai direto ao assunto. Essa Lapa está morta! Quero minha Lapa de volta. A Lapa dos sambistas, das prostitutas e dos vagabundos! Reclama Noel. Repare, até pichação tem um ar de politicamente correto. Veja essa. Ele pega minha cabeça e a gira para um talude de uma construção. Lá estava escrito: Não se vende o que se tem de melhor para dar! Isso é loucura! Isso é loucura! Reclama mais uma vez Noel. Ninguém dá o que tem de melhor! Como as prostitutas vão dar o que tem de melhor? Se derem, vão morrer de fome! Não só elas, mas todos os cafetões também! É todo um sistema de produção que entra em colapso por causa de uma pichação irresponsável dessas. Noel tem razão, mas a conversa muda de figura numa velocidade maior que dos transeuntes para lá e para cá. A Lapa está invadida! E que porra é essa que estamos escutando agora? Noel me pede silêncio, como se eu é quem estivesse falando. Dá para escutar um ritmo diferente. Maracatu certamente! É isso... Agora aqui virou uma salada. Qualquer coisa vem tocar aqui. Indo mais adiante tem um bar que só entra de preto. Um que só toca rock? Perguntei. É aquela porra mesmo, confirmou Noel. Isso aqui está uma salada. Ninguém é de ninguém. Aliás, todo mundo é deles. Noel apontou para os policiais que montavam guarda ao lado do Circo Voador. O que têm eles, Noel? Não tem nada! É esse o problema, com eles não se tem nada nessa Lapa! A Lapa está sem graça! Tá todo mundo comportadinho. Veja. Ele gira minha cabeça novamente, agora em direção à Praça Cardeal. Lá estavam artistas projetando imagens psicodélicas nas paredes brancas do Arco. Estão pensando que a Lapa é o Woodstok? Ou será que estão querendo fazer da Lapa uma palco para Jean Michel Jarre? Cadê o samba? E aquelas meninas ali? O que tem elas Noel? São mais bonitas que as verdadeiras! Dá para se confundir! Ronaldinho que o diga. Noel é assim: mudou de assunto novamente. Pegou a caixinha e, percebendo que o garçom não lhe dava atenção, cantou: Seu garçom faça o favor de me trazer depressa, uma boa Brahma que não esteja esquentada, um salame fatiado com queijo à bessa, um guardanapo e um copo d’água bem gelado... Bebemos mais algumas e saímos, à luz da Lua – que a Lua é a única de que Noel não reclamou naquela noite –, à procura da Lapa de Noel.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Muita calma nessa hora...


No início desse mês, a Folha de São Paulo divulgou em seu site (http://ruf.folha.uol.com.br/) o Ranking Universitário Folha (RUF). Trata-se de uma tentativa de qualificar e classificar as universidades brasileiras, assim como ocorre em outros países. A metodologia utilizada, baseada em iniciativas internacionais, prevê a pontuação das instituições em quatro critérios: qualidade de pesquisa; qualidade de ensino; avaliação do mercado; e indicador de inovação.

É de se parabenizar a iniciativa da Folha. Colocar a “cara” à tapa em um tema tão espinhoso é para os fortes. Entretanto, é oportuno fazer algumas críticas ao RUF:

1º) É muita pretensão divulgar que as 10 mais bem classificadas universidades pelo RUF são as 10 melhores universidades do país. Ser a mais bem classificada universidade no RUF pode não significar ser a melhor universidade do país. Aliás, qual o critério legítimo para eleger a melhor universidade do país? São muitas as possibilidades para isso, não acham? Quanto mais tentamos dizer o que é uma boa instituição de ensino superior (IES), mais achamos possibilidades e mais temos que fazer recortes e emendas. Uma boa IES pode assumir diversas formas e essas formas podem variar em diversos contextos. Uma boa IES pode ser aquela que simplesmente dá acesso; aquela que consegue produzir bons resultados acadêmicos; aquela que emprega mais seus egressos; ou aquela que melhor satisfaz as políticas públicas. Dessa forma, quem deu o poder à Folha para dizer que o seu critério ranqueia as “melhores” universidades do país? O melhor seria ser menos pretensioso com as manchetes do RUF.

2º) É muita prepotência da metodologia do RUF ignorar os indicadores de qualidade e produtividade produzidos pelo Ministério da Educação sobre o ensino superior. Nesse sentido, é importante se lembrar do trabalho produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), responsável pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Há algum tempo, tal sistema avalia as instituições superiores em três critérios bastante estudados e criticados pela academia: avaliação das instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes. A partir de diversas fontes indubitavelmente mais fidedignas e válidas que as utilizadas pelo RUF, tais critérios produzem indicadores como o Conceito Preliminar do Curso (CPC) e o Índice Geral de Cursos (IGC), os quais servem para a tomada de decisão por parte das próprias instituições avaliadas, da sociedade e do governo. Todo esse arcabouço teórico, metodológico e histórico do Sinaes não serve ao RUF? O melhor seria ser menos prepotente na metodologia empregada pelo ranking da Folha.

3º) O fato de não utilizar indicadores já amplamente divulgados e institucionalizados, como os do Sineaes, é uma escolha. No meu ponto de vista, incorreta, mas é uma escolha. Entretanto, entre os critérios escolhidos pelo RUF (qualidade de pesquisa; qualidade de ensino; avaliação do mercado; e indicador de inovação), parecem-me apresentar, ao menos, dois erros graves. O primeiro é o cuidado ao estabelecer critérios mutuamente excludentes e isso aparentemente os utilizados no RUF não os são. As razões são muitas, mas, por exemplo, dá para imaginar que exista uma forte correlação entre avaliação do mercado e qualidade de ensino. Nesse sentido, bastaria uma instituição ser boa em um critério para ser boa nos outros critérios do ranking. O outro erro é o peso atribuído entre os critérios. Não me parece ser bem justificado o fato da qualidade da pesquisa ter 55% do peso, a qualidade de ensino e a avaliação do mercado 20% (cada) e o indicador de inovação apenas 5%. Quer dizer que produtores (e reprodutores) de artigos são a prioridade do RUF? É por ali que se deve andar a educação superior para a Folha? Produzindo artigo? A inovação merece parcos 5%? Acredito que o sonhado equilíbrio entre ensino, pesquisa e extensão não esteja bem refletido nos pesos atribuídos aos critérios do RUF.

4º) Uma crítica especial se deve ao método empregado no RUF, em três elementos básicos: amostra, instrumento de coleta de dados e escala de pontuação. A amostra variou de critério para critério sendo empregados indicadores qualitativos e quantitativos para a formação de uma escala de pontuação. Como uma escala de pontuação se alimenta de informações quantitativas (ex. publicação por doutor) e qualitativas (ex. percepção pessoal sobre a melhor instituição)? Como garantir uma amostra representativa com 1212 empresários para um número de 237 instituições de ensino superior espalhadas pelo país? Qual o erro? O que significa uma universidade que logrou nota zero em qualidade de ensino, como a Universidade Federal da Paraíba (e muitas outras)? Quer dizer que nessa universidade não há ensino? Quer dizer que o aluno nela não aprendeu nada? O interessante que essa citada universidade é nota 4 (de 1 a 5) no IGC do INEP (de 2010), que leva em consideração, entre outros aspectos, a contribuição da instituição no desenvolvimento cognitivo do aluno. Há muito que melhorar no método do RUF.

5º) Apesar do alarde provocado pela ampla divulgação em um dos maiores jornais do país, o RUF não é suficiente. De que adianta ranquear apenas 237 (aproximadamente 10%) instituições de ensino superior? O que fazer com as outras (90%) instituições? As que ficaram de fora não são merecedoras de comparação? Estão abaixo das ranqueadas ou acima? Os alunos matriculados nelas devem ficar preocupados ou aliviados?

Claro que essa é a primeira rodado do Ranking Universitário Folha. Claro que se deve louvar essa iniciativa, pois, ao fim e ao cabo, é mais um diagnóstico para melhorar a educação brasileira. E, claro que muitas dessas críticas já são previstas e antecipadas por Rogério Meneghini, coordenador do RUF. Mas, se você está pensando em tomar alguma decisão com base nesse ranking... É melhor ter muita calma nessa hora!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Lucro Brasil


Vivemos um período no mínimo estranho. Estamos sendo bombardeados por notícias governamentais e para-governamentais anunciando uma nova era para o Brasil. Uma era de prosperidade “nunca antes vivida” na história – ou será estória? – desse país. Apesar desse otimismo patrocinado, desse orgulho despropositado e desse gigantismo – uma vez que já somos a 6º maior economia do planeta – sem lastro, há um sentimento de falácia pairando no ar.
Exemplos disso podem ser verificados em cada esquina de nossas cidades. Há prédios sendo erguidos em todos os cantos, mas não há mais ruas para se transitar. A inflação oficial apresenta números comportados, mas os preços no caixa do supermercado não param de subir. Há propagandas de que estamos evoluindo nos indicadores sociais, mas os professores estão em greve há quase um semestre. Há anúncio que estamos no pleno emprego, mas me canso de dizer não aos flanelinhas e vendedores ambulantes nos sinais da cidade. Construímos palácios e obras faraônicas – como os estádios de futebol e a transposição do rio São Francisco – para sermos o centro da atenção mundial nos próximos anos (Rio + 20; Copa do Mundo; Olimpíadas), mas ainda pisamos no esgoto quando saímos de casa. Sem dúvida, vivemos numa era de contradições.
Sem ater às questões contraditórias da política – que não são poucas – abordarei nesse post um exemplo dessas contradições: o Lucro Brasil. As pessoas estão consumindo feito umas loucas, sem parar para analisar as consequências para as suas vidas e, principalmente, o real valor dos bens que estão adquirindo. Mais uma vez, estamos deixando para que outros resolvam nossas questões, enquanto nos iludimos com a falácia da nova era brasileira. Um desses exemplos é o do automóvel, mas se aplica a quase tudo.
O Brasil alcança níveis de produção, diversidade e vendas de veículos nunca antes alcançados em sua história. Somos a quarta maior frota de veículos do planeta. Mas, estamos pagando caro demais pelos carros que compramos por aqui. Por quê? Tentando compreender essa contradição, convidei um amigo (Fábio Lourencetti), entendedor do assunto, para participar desse post. Ele respondeu às seguintes perguntas:
Há um movimento no Facebook voltado para que o brasileiro não compre carro em 2012. Do que se trata esse movimento?
O movimento existente é, na verdade, para não realizar a compra de carros zero Quilômetro. Esse movimento está sendo realizado por toda a internet, o Facebook é simplesmente mais um canal para acesso as massas de forma rápida e constante, por intermédio do “Abaixo ao Lucro Brasil”.
O que é o “Lucro Brasil”?
O Lucro Brasil é a margem exorbitante aplicada pelas montadoras em nosso mercado.
Pensa só: o Brasil é o quarto maior mercado consumidor de automóveis do mundo e o quinto produtor, mas não possuímos uma indústria automobilística nacional. A China possui. A Índia e a Rússia também. Isso pensando nos BRIC. Sem indústria própria e com alto consumo, temos então o fato de sermos o primeiro da lista em preços. Um mercado para ganhar dinheiro!
Muitos pensam que o culpado são os impostos, porém a realidade não é bem essa. Vejam que interessante: carros produzidos aqui, em nosso país, e exportados para nossos parceiros comerciais, a Argentina e o México, são vendidos muito mais baratos por lá. Como exemplo se pode citar o City da fabricante Honda. Fabricado em Sumaré interior de São Paulo, é vendido por R$ 31.470,00 no México enquanto no Brasil custa R$ 54.580,00 (versão LX, pois a DX nem é oferecida no mercado mexicano por ser simples demais). Se retirarmos os impostos, que somam aproximadamente 30% do valor brasileiro, teremos um custo de R$ 38.206,00, ou seja, cerca de 21% a mais que no país estrangeiro. Lembrando que o carro é produzido aqui e possui custo de transporte para as revendas de lá. Não retirei a margem da revenda, pois no México a margem também deve existir!
Obs.: O dado do percentual de imposto foi retirado da seguinte reportagem: http://www.youtube.com/watch?v=8AwRr9qM50U 
Os valores dos respectivos veículos foram retirados dos sites da montadora Honda Mexicana e Brasileira.
O que podemos perguntar em seguida é o porquê da diferença, correto?
Pois bem, vamos analisar o mercado presente. Temos cerca de 76% do mercado concentrado em 4 montadoras: Fiat, Volkswagen, Chevrolet e Ford. As quais são denominadas como “as 4 Grandes”, ou seja, essas empresas com produtos desatualizados e precários são os que mais vendem no mercado, o que fez com que montadoras novatas (entrantes) no mercado conseguissem colocar seus produtos classe C posicionados em um patamar de classe A, como o Honda Civic, Toyota Corolla, dentre outros. No México 76% está em 12 montadoras, ou seja, maior concorrência.
Temos também um fato cultural em nosso país, onde é visto normal parcelar um carro em 60 vezes de R$ 700,00. A contradição disso está em acharmos absurdo pagar o mesmo valor por um curso em uma faculdade de engenharia, durante 5 anos, ou seja, os mesmos 60 meses. Comprar carro tudo bem, mas financiar a educação superior, para o brasileiro, é um absurdo!
Podemos citar também a sombra da inflação, a qual assolou nosso país por muitos anos e imobilizar recursos em um automóvel era visto como uma forma de investimento, o que ainda permanece na mente de muitos brasileiros e é o principal argumento para não se abandonar as 4 grandes clássicas de nosso mercado. Ou seja, no Brasil ainda se compra carro pensando na revenda.
Observando a tabela abaixo, onde fora comparada a desvalorização por 3 anos de veículos praticamente de mesma categoria, incluindo duas das 4 grandes, a Nissan e a Renault (duas consideradas de grande risco de desvalorização).
Fonte: http://www.noticiasautomotivas.com.br/confira-a-tabela-comparativa-com-a-desvalorizacao-dos-principais-sedas-do-mercado/

Ou seja, no médio e longo prazo não vemos relativa diferença, porém a revenda é um modelo mental enraizado na mente do brasileiro.
Você não comprará carro Zero?
Em minha visão não precisamos ser extremistas e deixar de comprar carros Zero.  Devemos destruir esses paradigmas que mistificam os impostos como os únicos responsáveis pelo alto preço dos carros. Outro vilão está na concentração do mercado e no consequente Lucro Brasil.
O exemplo da CAOA, que investiu na fábrica da Hyundai, trazendo Know-How ao país e agora com projeto de investir em uma fábrica nacional, nos dá uma esperança de maior concorrência no futuro. (http://www.snn.com.br/noticia/110813/6/caoa-confirma-fabrica-automobilistica-na-paraiba.html).
Ainda não entendo muitas contradições de nosso tempo e de nosso país, mas uma coisa é certa: a origem delas está em nossa passividade perante a realidade que teima em nos desafiar, passando em nossa “cara” o quanto estamos errados nas prioridades que escolhemos.

Imagem: http://devaneios-loucos-de-eliene-almeida.blogspot.com.br/2010/07/eu-sou-como-um-palhaco-triste-que.html


quinta-feira, 10 de maio de 2012

Marketing de Vácuo


Três anos atrás, eu escrevi um post intitulado Estratégia Circense. A ideia central daquele post era relatar como um circo ruim, no caso o Circo Europeu, poderia prosperar do vácuo de outro circo bom, no caso o Cirque du Soleil. Interessantemente, nesse ano o grande circo canadense voltou às terras baianas e, mais uma vez, o fenômeno se repetiu. Entretanto, dessa vez o Circo Europeu deu espaço a dois outros circos: o Tihane e o Portugal. Ou seja, aparentemente a estratégia utilizada pelo Circo Europeu foi tão boa que dois outros circos a seguiram.
Sabendo que o Cirque du Soleil tem uma programação elaborada com bastante antecedência e publicada aos ventos, o que faz concorrentes com menor envergadura, neste caso os circos Tihane e Europeu, competir na mesma cidade e no mesmo momento? Seria mais pausível que nenhum outro circo quisesse se apresentar conjuntamente ao Cirque du Soleil, não? No post Estratégia Circense a minha preocupação estava no relato do evento em si. Nesse novo post, a minha preocupação será a da explicação desse fenômeno, tentando defender a hipótese contrária: para um circo ruim, é interessante se apresentar juntamente a um circo bom. Nesse sentido, apresentarei a seguir duas abordagens bastante utilizadas no marketing.
A primeira abordagem vem da psicologia e trabalha a motivação humana. Há diversas teorias que abordam isso, mas o que nos interessará aqui são os seguintes conceitos: atenção seletiva; distorção seletiva; e retenção seletiva. Atenção seletiva diz respeito a capacidade humana de selecionar aquilo que nos interessa. Diariamente, somos bombardeados de anúncios e propaganda de todos os tipos. Se fossemos prestar atenção a tudo, provavelmente piraríamos. Dessa forma, prestamos atenção apenas àquilo que nos interessa. Isso é atenção seletiva.
A forma como entendemos o mundo tem muito a ver com toda nossa bagagem cultural, emocional, educacional e social. Vemos o mundo através de filtros. Um simples sorvete pode nos traduzir divergentes emoções a depender de nossas experiências. Um sorvete da Häagen-Dazs pode parecer muito mais gostoso do que realmente é, enquanto que um “Capelinha” – em Salvador – ou um “Caicó” – em Maceió – podem parece menos saborosos para os que os veem pela primeira vez. Para essa distorção, que naturalmente fazemos sem perceber, dar-se o nome de distorção seletiva.
Por fim, retemos em nossa memória de longo prazo apenas o que realmente nos marca ou que nos é repetido de forma massacrante. Por isso sabemos a malvada da tabuada, o insuportável jingle do político que está se candidatando a algo e o igualmente horripilante refrão “ai se te pego” do Michel Teló. Entretanto, lembramos para sempre daquele delicioso beijo, do doce de leite da vovó e daquela propaganda da Gelol que marcou nossos corações: não basta ser pai, tem de participar (http://www.youtube.com/watch?v=3ztB1BT6u-Q). Isso é retenção seletiva.
Saindo da psicologia, vamos à economia e dela focaremos o caso da demanda. Acho que já falei sobre demanda aqui no Blog, mas, enfim... O que é demanda? Demanda pode ser definida pela capacidade e vontade para comprar algo. O conceito de vontade tem tudo a ver com o de desejo e necessidade. Necessidade é ontológico. Temos necessidade de várias coisas: reprodução, segurança, alimentação, diversão etc. Há quem advogue que as necessidades não são criadas, elas existem e pronto. Entretanto, o desejo pode ser criado. Desejo é uma necessidade saciada por algo específico. Dessa forma, podemos entender que o desejo é uma necessidade trabalhada. A sofisticação da necessidade gera o desejo. Desejo, necessidade e vontade, portanto, são objetos de estudo do marketing e da publicidade.
Para haver demanda não basta ter apenas vontade. Tem de haver também capacidade. Capacidade significa “condição para”. O primeiro elemento da “condição para” é o dinheiro. As pessoas precisam tem recursos financeiros para comprar os seus objetos de desejo, senão não há demanda. Além do dinheiro, têm uma infinidade de outras “condições para” como o tempo, a disposição, o acesso, a permissão etc. Apesar de ter muitas “condições para”, a mais importante é o dinheiro e nele resumiremos aqui a capacidade das pessoas para gerar demanda.
Dessa forma, para se computar a demanda, precisa-se verificar quantos indivíduos possuem vontade e têm condição (dinheiro) de possuir ou adquirir algo. Ter apenas vontade não é suficiente para criar a demanda, como já vimos. Nesse caso, se aplica o rótulo de demanda potencial para as pessoas que têm vontade, mas não têm “condições para”. Também existe o inverso quando as pessoas têm a “condição para”, mas não possuem o desejo. Neste caso também não há demanda e o melhor rótulo é o da demanda inexistente. Pergunto: como se cria demanda – caso haja uma situação de demanda inexistente – ou como se cria mais demanda – casa haja uma situação de demanda potencial? Resposta: aumentando o desejo ou reduzindo as “condições para”. Os exemplos estão aí. O Iphone é um exemplo de um trabalho bem feito no desejo. A Insinuante, as Casas Bahia ou a Ricardo Eletro são exemplos de bons trabalhos feitos na redução das “condições para”.
Quando o Cirque du Soleil vai a uma cidade geralmente ele começa o trabalho publicitário bem antes de sua estreia. O objetivo do Cirque é romper a barreira da atenção seletiva das pessoas e despertar o máximo de desejo possível. Claro que o Cirque conta com sua favorável boa imagem e reputação para isso, pois já retemos seletivamente o seu significado. Não é qualquer circo, trata-se do Soleil! Ele rompe a barreira da atenção seletiva facilmente e gera muito desejo. Aliás, ele gera desejo de sobra. Tanto desejo que não consegue atender a todos. Na verdade, o Cirque du Soleil geral uma enorme demanda potencial.
Essa demanda potencial se traduz em pessoas que ficam maravilhadas com a magia do espetáculo e com a publicidade do Soleil, mas não tem “condição para” comprar o seu ingresso. Os seus orçamentos são apertados. Ir ao Soleil significa abandonar certos compromissos ou deixar de atender necessidades mais nobres e isso não é admissível para essas pessoas. Resumindo: elas querem, mas não podem!
Nesse momento, entram os outros circos de segunda e terceira categorias. A barreira da atenção seletiva já foi rompida pelo Soleil e a distorção seletiva faz com que os consumidores vejam no Circo Portugal ou no Circo Tihane o Cirque du Soleil em pessoa. Circo é circo, afinal! Como os preços desses circos são mais populares, altera-se a curva da demanda por circo na cidade, transformando a demanda potencial do Soleil em demanda verdadeira do Tihane e Portugal. Mais pessoas vão ao circo, não importando qual.
Faço uma última pergunta: o que aconteceria se o Tihane ou o Portugal aparecessem na cidade sem o Soleil? Provavelmente eles não conseguiriam romper facilmente a barreira da atenção seletiva, gerariam pouco desejo e deixariam muitas pessoas na zona de demanda inexistente.
Parece que a magia do circo está sendo revelada, não?!!

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Coisas para fazer em Salvador


Meus novos colegas de trabalho terão a ótima missão de passar os próximos três meses aqui em Salvador. Como bom anfitrião, resolvi lhes ajudar com dicas de coisas para fazer durante esse período. Dessa forma, aventurei-me a escrever e classificar os principais locais que “eu” acho que eles deveriam conhecer.

Muitos soteropolitanos ou baianos podem não concordar ou ter outras ideias de lugares e fazeres. Isso é bom! Quem estiver lendo esse post pode complementar ou comentar as dicas que postei aqui.

Vamos lá...

1º) Pensar em Salvador é pensar em Pelourinho. O Pelourinho dispensa apresentação, mas merece explicação. Tem muita coisa para ser vista: casarões, igrejas, praças, ruas, escadarias, conventos, fundações, restaurantes e bares. Vale a pena se informar antes do que pode ser feito, visto, comido, dançado, comprado etc. Se tiver oportunidade de ver o Balé Folclórico da Bahia, não perca a chance! (http://www.youtube.com/watch?v=ADkQ_xUjhyY&feature=related). Se der, na terça, também vá ao ensaio do Olodum (http://www.viajenaviagem.com/2011/01/fotoblog-com-video-terca-da-bencao-no-pelourinho/). O Pelourinho tem muitas dimensões, ruas, ruelas, becos, praças, escadas. É fácil se perder e isso é o máximo! Quando for anoitecendo, tome um cravinho (Bar do Reggae) para entrar no clima. Atenção: o Pelourinho não é museu, estará muito vivo!

2º) Perto do Pelourinho tem o Elevador Lacerda. Pegue esse elevador, curta a paisagem e vá ao Mercado Modelo. Compre todas as bugigangas que os seus parentes pediram, inclusive o berimbau. Aproveite para apreciar um pouco de historia, visitando o Forte de São Marcelo, que fica em frente, mas tem de ir de barco (http://ibahia.globo.com/salvador459anos/interna/default.asp?modulo=3298&codigo=172430).

3º) Os soteropolitanos dizem que não há sorvete igual ao da sorveteria da praia da Ribeira (http://www.sorveteriadaribeira.com.br/?page_id=508). Então, vá à Ribeira em um dia de bom sol e peça um sorvete de tapioca por mim. Aproveite que está por lá e visite a Igreja do Bonfim. Compre as fitinhas do Senhor do Bonfim dos moleques que te cercarão e volte mais protegido para o curso. Atenção: só uma baiana original é que pode amarrar a fita em seu braço, senão dá azar!!! E, já que você está pela cidade baixa, visite a Ponta de Humaitá (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=264730). Para os mais aventureiros e famintos, podem esticar o passeio até o subúrbio ferroviário e comer no famoso restaurante Boca de Galinha (http://www.youtube.com/watch?v=3SDnk0kxy1w).

4º) No outro extremo de Salvador, tem a famosa Itapuã, a qual posso falar com propriedade. Da música de Tarde em Itapuã (http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes/80508/) não sobrou muito. Mas, vir a Salvador e não passar por Itapuã é um pecado. Vá, passe uma tarde lá, beba uma água de coco, coma um acarajé no Largo da Mariquita e contemple o Farol. Estique seu passeio e visite a Lagoa do Abaeté (provavelmente quando você voltar a Salvador ela não existirá mais). Esse passeio pode ser feito na volta das praias (Flamengo, Aleluia e Stella Maris).

5º) Praticamente todas as praias de Salvador são bem poluídas. As exceções são a praia do Porto da Barra (que eu não gosto muito) e as mais afastadas como das de Stella Maris, Aleluia e Flamengo, que são realmente boas. Uma boa pedida é ficar na barraca do Lôro (http://www.obaoba.com.br/salvador/bar/bar/barraca-do-loro-aleluia), em Aleluia. Aproveite para experimentar uma lambreta. O programa de praia do soteropolitano não estará completo sem um “fim de praia”. Isso significa esticar o dia comendo um caranguejo e tomando a última cerveja antes de ver o Fantástico. Tem diversos bares que servem o “caranga” ao longo da orla e, em alguns deles, tem um axé, forró ou pagode rolando – o que pode ser interessante a depender o seu grau etílico.

6º) Já que estamos falando em esticar o dia, que tal uma balada? Salvador é uma cidade muito eclética. Aqui tem axé, pagode, axé, pagode, axé, pagode e, de vez em quando, forró. Garimpar algo diferente disso é difícil. Apesar de ser a terra de Raul, o roque é esquecido. De vez em quando você encontra uma MPB no Castro Alves. Talvez no bairro do Rio Vermelho você encontre algo diferente: lambada, merengue por exemplo. Nesse celeiro cultural que é Salvador, uma boa pedida é ver o show de Magary Lord – revelação do último carnaval (http://www.youtube.com/watch?v=yf4aZKVc1hM). Bom mesmo!

7º) Se você não se contentar ou se identificar com esse tipo de programa (praia, caranguejo e axé), faça algo mais CULT. Minha dica é visitar o Teatro Castro Alves (http://www.tca.ba.gov.br/) e o Teatro Vila Velha (http://www.teatrovilavelha.com.br/), que tem uma vista fantástica para a Baia de Todos os Santos e Itaparica. Você também pode visitar o Museu de Artes Modernas (MAM), que fica no Solar do Unhão (http://ibahia.globo.com/sosevenabahia/solar.asp). Lá tem um restaurante e um barzinho. Ver o por do sol lá do Solar, com a ilha de Itaparica ao fundo, é para poucos. Outra programação CULT interessante é frequentar o circuito Sala de Arte (http://www.saladearte.art.br/).

8º) Itaparica inspira muito Salvador (http://letras.terra.com.br/ivete-sangalo/157032/). Pra mim, para quem não tem casa em Itaparica, a melhor forma de ir à Ilha é de escuna. Então, reserve um passeio de escuna com a turma e curta um dia inteiro de muita beleza. Lembre-se que tem de fazer sol, senão nada feito!

9º) A Barra é um bairro bem interessante para se passear. Tem bons restaurantes por perto e uma vista linda. Vá ao Cristo e tire uma foto. Vá ao Farol da Barra e tire outra foto. Fique pensando alguns instantes nessa avenida (do Farol ao Cristo) entupida de gente cantando (http://www.youtube.com/watch?v=9DdhjaFT-Fw). Como é que cabe, né? Bem... Depois da reflexão, entre no museu da marinha que fica nas dependências do Farol da Barra. Por fim, caminhe até o Porto da Barra e, se tiver com muito calor, tome um banho de mar.

10º) Para não ficar só em Salvador. Nos fins de semana e feriadões você pode conhecer as belezas da redondeza. Recomendo: Morro de São Paulo; Praia do Forte; Cachoeira. Um pouco mais longe: Ilhéus e Itacaré; Chapada Diamantina; Mangue Seco.




sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Conversas de paciente em sala de espera (pós-carnaval)

Como normalmente ocorre, após o carnaval as clínicas e os hospitais lotam de foliões averiguando as consequências dos dias de loucura carnavalesca. Há de tudo: homem querendo se recuperar da ressaca, mulher querendo “a todo custo” saber se está grávida e outras mazelas piores, de que não pretendo me prolongar. No meio disso tudo, ainda tem os pacientes corriqueiros que nada têm a ver com a folia. Entre eles, eu, que, “não sei o porquê”, resolvi enfrentar uma dessas salas de espera superlotadas para aproveitar minha estada em Salvador e fazer um check-up.

Quando cheguei à clinica, de cara vi que a coisa iria demorar. Corri para pegar uma senha, mas o número não me animou em nada: 289 de 130 chamadas. Pensei em desistir, porém, como tinha um laptop, resolvi procurar uma cadeira, sentar e tentar trabalhar. Acomodei-me justamente ao lado de um homem que aparentava se bem mais velho que eu (uns 15 anos a mais) e denunciava certo nervosismo. Mal consegui ligar o laptop, o homem puxou conversa.

Homem: olha ai. Tá todo mundo lenhado! Brincaram o carnaval, perderam a cabeça e agora estão todos aqui.
Eu: como?
Homem: é o carnaval, rei! Todo mundo “fode“ sem camisinha e agora vem aqui querer saber se está grávida, se tem AIDS, herpes, sífilis, chagas e o diabo a quatro...
Eu: agora sei por que está cheio isso aqui!
Homem: é rei! O carnaval é “foda”! A galera fica louca! Sai beijando e comendo tudo que encontra.
Eu: loucura, né?
Homem: loucura? Abra a boca dessa galera ai. Tá tudo estourado! Vejo que você não é daqui.
Eu: mais ou menos... sou da Paraíba, mas já moro aqui há tempos.
Homem: Pois você já devia saber da bagaceira que é o carnaval. É tiro. É facada. É roubo. É estupro. É droga...
Eu: mas isso é em todo canto...
Homem: mais aqui é pior! Aqui é coisa é obscena. Vá ao HGE prá ver!
Eu: estou fora! Odeio hospitais.
Homem: Ouvi hoje no José Simão. Você conhece José Simão, né?
Eu: Sim, claro! O Macaco Simão!
Homem: pois. Ele hoje falou que a amiga dele “deu” tanto no carnaval que ficou rouca!
Eu: (risos)
Homem: você pensa que é brincadeira? É não rei! Tá assim no carnaval.
Eu: e você? Não curte isso não?
Homem: curtia... curtia... muito tempo atrás. Quando era solteiro, quando não tinha filhos, quando não tinha essa bagunça toda...
Eu: então faz muito tempo, heim? (sacaneando)
Homem: é rei! Tenho que admitir que a minha época já passou e até que sinto um tanto de inveja deles. Enquanto eles estão querendo verificar da desgraça que fizeram se divertindo, eu estou parecendo um velho precisando de ajuda para mijar.
Eu: não entendi!
Homem: já ouviu falar de incontinência urinária?
Eu: sei...
Homem: pois é. Toda vez que faço xixi, minha bexiga não consegue expelir toda a urina e sempre sobra um teço do volume. Toda hora tenho vontade de mijar. É um saco!
Eu: é por isso você está aqui, hoje?
Homem: Sim. É que, de vez em quando, tenho que fazer uma lavagem da bexiga, pois sempre há o perigo de infecção urinária e formação de pedra. Você já mijou uma pedra rei?
Eu: ainda não.
Homem: nem queira! Para não dar essas tranqueiras eu tenho que me submeter a essa lavagem. Toda vez que venho aqui eles colocam um sonda na minha uretra e injetam soro fisiológico até limpar tudo.
Eu: imagino que deva doer isso...
Homem: doer? Dói muito! Mas é bom...
Eu: Bom?
Homem: Sabe como é.... as enfermeiras que fazem isso aqui são gatinhas. Eu poderia fazer essa lavagem lá na Pituba, mas prefiro as enfermeiras daqui da Garibaldi. Minha esposa pensa que eu venho aqui por outro motivo... (risos).
Eu: é o seu vale night?
Homem: É o que posso fazer rei, para um pouquinho de diversão. Primeiro elas tem de higienizar toda a área do “bilau”, passam uma xilocaína e depois ficam massageando a entrada da uretra.
Eu: massageando?
Homem: é rei! Eu fico pensando em Hitler, na guerra atômica, na derrota do Baêa... em tudo para o “pau” não levantar, pois a coisa vai ficando boa. E o pior é que as safadinhas sabem que o bicho quer acordar e ficam falando baixinho uma para outra, dando risadinhas.
Eu: hahahah... é “foda” mesmo!
Homem: “foda”? Quando a coisa vai ficando boa, quando você desiste de pensar em Hitler... ai ela pega a sonda e enfia com tudo no teu “pau”! Ai é que é “foda”, rei!!!
Eu: Putz!
Homem: É meu camarada... a conversa está boa, mas já estão me chamado. Depois te conto como é o exame de próstata... (risos)
Eu: ok. Mas, ainda vai demorar um pouco. Pense em Hitler, heim!

Depois que ele saiu, finalmente consegui ligar o laptop. Mas, confesso que o resto da espera foi um tanto quanto tediosa e pensativa. Tenho que repensar os meus carnavais, enquanto não ainda preciso de sondas... 

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