sábado, 6 de dezembro de 2008

Entre Laranjeiras e Estrela

Como uma de minhas atividades laborais é ficar analisando dados estatístico com a intenção de descobrir oportunidades de negócios, estava eu, nessa semana, debruçado em variáveis (população, PIB, IDEB e outras) para descobrir municípios ou estados que precisam de apoio em diversas áreas da gestão pública, quando bati o olho nesses dois municípios: Estrela (Rio Grande do Sul) e Laranjeiras (Sergipe).
Esses dois singelos municípios têm em comum algumas características e uma enorme diferença. Coincidem no tamanho da população, pois são pequenos (Laranjeiras com 26452 habitantes e Estrela com 29234) e na riqueza, pois ambos estão entre os 10% mais ricos municípios do país (PIB per capta – IBGE 2005).
Laranjeiras é um município com rica história, que começa em 1530 com a devastação das nações indígenas pelas tropas de Cristóvão de Barros. Passou por influências holandesas no séc. XVII e pelos jesuítas no séc. XVIII. Por conta da pujante economia agrária e pela produção de açúcar, no séc. XIX passou a ser a sede de comarca e responsável pela alfândega sergipana. Por muito tempo, Laranjeiras foi o centro cultural de Sergipe, abrigando, ainda hoje, dezenas de prédios históricos. A decisão de tornar o povoado de Aracaju na capital do estado, pôs um fim às disputas políticas entre Laranjeiras e São Cristóvão.
Estrela é bem mais recente que Laranjeiras. Teve sua colonização iniciada por imigrantes alemães a partir de 1856. O que caracteriza o município é sua condição de entroncamento rodo-hidro-ferroviário (um porto no Rio Taquari, as rodovias BR 386 e RST 453 e uma conexão com a Ferrovia do Trigo) e o fantástico Festival do Chucrute, considerado o mais tradicional do Rio Grande do Sul.
O que distingue esses municípios, além da geografia e da história, são o presente e o futuro que estão promovendo para as suas crianças.
Estrela é rica e sabe utilizar sua riqueza para a promoção da igualdade, justiça e eqüidade. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) era de 0,829 no ano de 2000, enquanto o do Brasil estava em 0,696. Neste mesmo ano, a renda média era de R$ 1.102,95. A mortalidade infantil estava em 16 crianças por mil nascidas em 1998. Na educação, Estrela está entre os 10% melhores municípios, de acordo com o IDEB de 2007 – índice que mede a qualidade na educação. O abandono escolar não passa de 5,6% no ensino médio e 57,5% dos professores das primeiras séries do ensino fundamental têm formação superior.

Você diz
Que me dá casa e comida
Boa vida e dinheiro pra gastar
O que é que há minha gente
O que é que há
Tanta bondade
Que me faz desconfiar


Laranja madura
Na beira da estrada
Tá bichada, Zé
Ou tem marimbondo no pé

Santo que vê muita esmola
Na sua sacola
Desconfia
E não faz milagres, não
Gosto da Maria Rosa
Quem me dá prosa
É Rosa Maria
Vejam só que confusão


Como cantava Ataulfo Alves, em Laranja Madura, apesar de rica, Laranjeiras tá bichada e tem muito marimbondo no seu pé. O seu Índice de Desenvolvimento Humano é de 0,642. A renda média R$ 381,86. A mortalidade infantil estava em 80 crianças por mil nascidas em 1998. O município também é extremamente ruim na qualidade da educação que oferece a sua população. Laranjeiras está entre dos 10% piores municípios, de acordo com o IDEB de 2007. O abandono escolar chega a 17% no ensino médio e apenas 12,5% dos professores das primeiras séries do ensino fundamental têm formação superior.
O que faz Estrela ser eficaz nos gastos públicos e coerente com o nível de desenvolvimento em que se encontra, assim como o que faz Laranjeiras ser uma negação disto é fonte de inspiração de inúmeras pesquisas. Mas, eu tenho uma pista: muito roubo e descaso das autoridades laranjeirenses e ignorância da sua população. Deveríamos prender os últimos 20 prefeitos vivos de Laranjeiras – incluindo o atual.
Entre Laranjeiras e Estrela estão 3267 km e muitos outros municípios que também não conseguem justificar a sua ineficácia social. Entre eles cito Camaçari na Bahia e Cabedelo na Paraíba. Tem muito mais. Entretanto, a lista completa fica para outra oportunidade.

Olho nos gatunos e que a Estrela nos ilumine nos próximos 4 anos de gestão municipal.

3 comentários:

Jorge Amaral disse...

Penso que o que separa o sucesso do fracasso é como percebemos isso, e o que fazemos a respeito é o que faz a diferença. Por que pessoas, cidades e nações conseguem resultados e outras não conseguem? O sucesso deixa vestígios e aqueles que conseguem resultados notáveis fazem coisas específicas para criar esses resultados. Por vezes, tudo que muitas pessoas fazem para ter sucesso é encontrar alguma coisa que foi bem-sucedida em determinado lugar e fazer a mesma coisa em algum outro lugar. Tudo que têm a fazer é pegar um sistema provado e duplicá-lo, e talvez até melhorá-lo. Pessoas que fazem isso estão de fato garantindo sucesso. A vida é como um rio em permanente movimento e podemos estar à mercê do rio, se não tomarmos medidas deliberadas e conscientes para nos mantermos na direção que queremos estar.

Alice Senna disse...

Ou, ampliando o que Jorge diz, ter boa vontade política...isto é, se acercar de pessoas que querem fazer algo de útil para aquela localidade e utilizar os recursos de forma responsável, fazendo cumprir suas promessas de campanha. As experiências de sucesso com educação revelam o quanto é possível contribuir para a formação de cidadãos capazes de atuar adequadamente em sociedade, utilizando plenamente suas potencialidade. Precisamos lembrar que "o poder é para servir". Bjs

Alice Senna disse...

ops..potencialidadessss...rs

Postagens populares