domingo, 8 de março de 2009

Macaco és tu

Neste ano, comemoramos 200 (duzentos) anos do nascimento do naturalista inglês Darwin.

Três anos atrás, quando fui batizar Letícia, tive a impressão de que para boa parte da população a mulher saiu da costela de Adão e que Darwin é um ilustre desconhecido. Para realizar o batizado, eu e minha esposa tivemos que fazer um curso para pais e padrinhos. A mensagem do curso eu posso resumir em uma linha: eduque seu filho(a) ou afilhado(a) para ser católico(a). Pronto. Simples assim. Mas, passamos quase três horas ouvindo um “besteirol” insuportável. Resolvemos sair da aula quando o instrutor começou a explicar a origem da vida. Primeiro ele descreveu o Jardim do Éden. Depois falou da criação de Eva. Descreveu a maldade da serpente e, finalmente, da mordida na maçã. Na sala, todos faziam cara de entendidos. Assim como eles, também entendemos tudo, concordamos com tudo, assinamos o documento e caímos fora.

Charles Robert Darwin nasceu em Shrewsbury (Inglaterra), em 12 de Fevereiro de 1809 e morreu em 19 de abril de 1882. Viveu, portanto, um bom bocado. Ficou famoso por assombrar o mundo religioso (ocidental) ao lançar o livro Origem das Espécies, em 1859, apresentando, neste livro, a sua teoria sobre ancestrais comuns e evolução das espécies por meio da seleção natural. A história de Darwin é uma lição de pesquisa por meio do método hipotético indutivo, fato que abordarei em outras postagens. Nesta, gostaria de falar sobre o “rebucetê” que deu essa teoria, há época, e como, em alguns contextos, como nos cursos de batizados, isso ainda é um tabu ou sacrilégio.


Aos 22 anos de idade, em 27 de dezembro de 1831, Darwin saiu à bordo do HMS Beagle, comandado pelo capitão Robert FitzRoy, para uma expedição de dois anos na costa da América do Sul, com o propósito de realizar um levantamento cartográfico. A expedição durou quatro anos e nove meses e passou, além da costa da América do Sul, pela ilha Galápagos, Taiti, Nova Zelândia Austrália, ilhas Cocos, África do Sul e Açores. O Beagle retornou à Inglaterra em 2 de outubro de 1836, como muitas espécies coletadas e um Darwin transformado.

Charles, no transcorrer da viagem e, principalmente, em Galápagos, uniu pontos que geram um novo conhecimento. Ao observar a diversidade dos bichos e das plantas, ele concluiu que eles tinham se adaptados às condições locais do meio ambiente em que viviam. Assim, um passarinho da mesma espécie poderia ter bico menores (para capturar insetos) ou maiores (para quebrar nozes), a depender do tipo de alimento predominante na região. Da mesma fora, as tartarugas tinham pescoço maiores ou menores, para facilitar a coleta de alimentos no chão ou em arbustos.

O que Charles tinha concluído era que os animais, plantas e todos os seres vivos não tinham sido criados de uma só vez, como pregavam e pregam os criacionistas de praticamente todas as religiões. Pelo contrário, elas vinham de um ancestral comum e, por milhares de anos, haviam evoluído e diversificado para formar uma gama de milhões de espécies vivas atualmente.

Na época, Darwin – de família católica – ficou muito preocupado com a sua descoberta. Pois, tratava-se de contradizer a explicação bíblica. Ele permaneceu por muitos anos colecionando fatos para provar sua teoria. Depois de 23 anos de estudos, por força de concorrência com outros cientistas que estavam no mesmo percurso dele, Darwin resolveu publicar “Origem da Espécie” e revolucionar o pensamento em vigor. Teve, com isso, que suportar muitas críticas. Entretanto, depois de quase dois séculos, é mais que provado que ele estava correto.

Mas, a fé é algo que se tem sem se ver ou provar. É, portanto, muito poderosa e não se deixa derrotar facilmente. Um exemplo disso é a polêmica entre o arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, e os envolvidos na interrupção da gravidez de gêmeos de uma menina de 9 anos estuprada pelo padrasto. Não quero entrar nesse assunto deprimente. Quero falar do conflito entre a fé a ciência e, talvez, a ignorância. Quero falar do caso de Teté.

Teté é um pedreiro de família de pedreiros. Se aqui fosse a Índia, diríamos que Teté pertenceria a uma casta de pedreiros. Seu pai foi pedreiro, ele é pedreiro e os irmãos também. Provavelmente, se não tiverem estudo, os filhos de Teté também serão pedreiros. Quando ele prestava (ainda presta) serviços a nossa família sempre brincávamos muito com ele. Quando o assunto era futebol, sempre ridicularizávamos o time dele (Campinense), pois não ganha nada. Quando o assunto era música, ele nos dos dava um show de criatividade ao inventar letras inusitadas. Quando era mulher o assunto, todos mentiam. Mas, quando o assunto era religião, ele sempre se posicionava firme e crédulo. Insistíamos em diversos argumentos para quebrar suas crenças, mas ele sempre as sustentava. Numa dessas conversas chegamos ao argumento de que o homem tinha vindo do macaco, extrapolando a explicação de Darwin. Ele nos olhou firmemente e nos disse: vocês podem ter vindo, mas eu não vim não.

Ciência e religião vão se enfrentar por muito tempo. Os dois são importantes, mas antagônicos. Quando há ignorância (pode-se entender como falta de oportunidade de estudo ou falta de conhecimento científico sobre os fenômenos naturais), prevalece a fé, pois sempre precisamos de uma explicação. No contrário, prevalece a ciência. A conclusão que tiro disso tudo é que ainda temos muito a compreender. Mas, naquilo que já sabemos, não dá para aceitar velhas crenças e dogmas. Neste sentido, a religião deve se atualizar e acompanhar a ciência.

Veja onde Darwin nasceu: http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&tab=wl&q=Shrewsbury


Curiosidade: pena que Bush não tivesse nascido na época de Darwin, pois seria muito mais fácil provar a sua teoria.


3 comentários:

Jorge Amaral disse...

Amigo Arturo, penso que esse distanciamento histórico entre Ciência e Religião começa a se modificar. O Dr. Bruce Lipton renomado cientista americano contemporâneo, na sua obra “A Biologia da Crença” anunciou pesquisas tão profundas que alcançam a sutil relação de nossas células com a dimensão quântico-espiritual, aliando Ciência e Espiritualidade na mesma sintonia.

Alice Senna disse...

Concordo com quase tudo do que vc fala. Torço muito para que eu ainda possa ver, nesta vida, ciência e religião deixando de ser antagônicos porque o homem compreendeu, finalmente, que a mente não esgota o homem. O paradigma cientifico precisa de revisão e os dogmas da igreja católica (já que é ela que está em questão em seu texto) idem. A inteireza do homem está além da ciência atual e dos dogmas da igreja. Ficarei muito feliz no dia em que a medicina, por exemplo, olhar para o sintoma e buscar compreendê-lo e tratá-lo dentro do contexto daquela pessoa, a partir de uma visão sistêmica e não tão fragmentada como acontece hoje. Seguindo essa lógica ainda somos muito ignorantes, não é? E mais feliz ainda fico quando, por exemplo, encontro homens da ciência, cheio de mestrados e doutorados e pós-doutorados, escrevendo e defendendo que a lógica cartesiana é reducionista e se coloca à serviço apenas do controle e da manipulação do homem sobre algo que ele, ainda, compreende muito pouco - a natureza em sua dimensão mais ampla. E, adoro, quando leio que o nosso sol é um sol de 5a. grandeza, o que significa que é sol de subúrbio. Imagina quando a ciência oficial (rs) se deparar, como vem acontecendo, com questões que esse paradigma não mais explica. Vai continuar virando as costas e dizendo que não é ciência? ou vai assumir que algo em suas bases está equivocado? Bjs

Fernanda Costa disse...

Olá Arturo! Não podia deixar de escrever algumas palavras sobre o assunto,pois defendo que prevalece a fé e acredito não haver ignorância e até mesmo falta de conhecimento cientifico, não que eu seja uma experta no assunto, mas no meu ponto de vista tanto a religião como a ciência buscam a verdade.Acredito que Deus é criador do universo e cada descoberta feita pela ciência é uma forma de apreciar a obra criada por Ele. A religião terá sempre função divina de nos guiar no mundo. Dá mesma forma que a ciência busca a verdade a religião também busca a mesma verdade a respeito da mesma realidade. Acredito que a ciência não seja a única forma de obter informações verdadeiras.
Se o universo teve um começo, o que aconteceu antes dele? Porque o universo existe? Será que a ciência já respondeu isso?
Concordo com muita coisa que vc falou, mas será que quando prevalece a ciência, não é por falta de conhecimento religioso?
Abraço. Fernanda (Marcelinho).

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