domingo, 23 de agosto de 2009

Eficácia escolar 1

Houve um tempo em que a escola era vista como uma caixa preta, daquelas onde não se vê o que acontece dentro. Sabia-se que entravam alunos, que lá se dava o processo de ensino-aprendizagem e que, de lá, saiam os profissionais e cidadãos formados em sua plena capacidade. Era verdade que algumas escolas eram melhores e mais tradicionais que outras; que algumas alcançavam certos resultados e outras não. Mas, isso não chegava a ser uma preocupação, pois a escola era para poucos e que, de forma hermeticamente fechada, não permitia intromissões externas. Dava-se graças a Deus por poder estudar e, com isso, diferenciar-se do resto da população que não tinha acesso a qualquer escola: boa ou ruim.

Só que a escola era um bem muito precioso, que não podia ficar nas mãos de uns poucos abastados. O desenvolvimento das sociedades exigiu que mais pessoas estudassem. Um tal de Theodore Schultz, com sua Teoria do Capital Humano, explicou que a educação era um investimento como qualquer outro. Daí para diante, a atenção para a expansão do ensino se tornou preocupações dos governos e das sociedades. Muito dinheiro foi depositado na ampliação da rede escolar para a inclusão da população. Entretanto, a escola continuava sendo uma caixa preta.

A diferença, agora, era que enquanto investimento, a escola não poderia continuar hermeticamente fechada. Quem investe quer maximizar seus lucros e, para isso, tem que compreender o negócio. Dessa maneira, para desvendar a alocação eficiente de recursos na educação, muitos pesquisadores se lançaram na empreitada de desvendar as características das escolas eficazes. Ou seja, começou-se a querer saber a composição de uma escola que realmente faz com que o aluno aprenda.

As primeiras conclusões, mais fundamentadas, não foram nada animadoras. Coleman em 1966 e, mais tarde, Jenk e Smith em 1972 estremeceram o mundo (escolar) com a notícia de que a escola fazia pouca ou nenhuma diferença no desenvolvimento do aluno, dentro da escola, e, mais tarde, na vida profissional. O que fazia enorme influência, para os autores, eram os fatores socioeconômicos que cercavam os alunos.

Depois dessa visão inicial e pessimista da escola, outros pesquisadores (Rutter, Mortimore, Reynolds, Creemers, Firestone…), principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos lançaram-se na tentativa de neutralizar os efeitos do contexto socioeconômico da origem do aluno em seu desempenho e detectar fatores que estivessem potencialmente ligados às escolas eficazes. Além disso, também tentavam identificar aqueles fatores que poderiam melhorar o desempenho de escolas consideradas ineficazes. Heyneman e Loxley, no início dos anos 80, por exemplo, concluíam que, em oposição aos achados nas nações ricas, nas nações de menor renda os fatores escolares contribuíam mais para explicar a variação do desempenho entre os alunos que as diferenças socioeconômicas.

No final dos anos 80, ficou claro aos pesquisadores que as escolas e os professores fazem diferença no desempenho educacional; que a eficiência das políticas depende largamente da maneira como os recursos são empregados; e que fatores de eficácia escolar dependem do contexto escolar, inexistindo soluções universais.

Neste artigo e em alguns outros, que postarei mais adiante, trarei ao nosso debate esse tema: as características da eficácia escolar. Considero de enorme importância o esclarecimento da caixa preta da escola para que maior gerência e controle se possam ter dos recursos que são destinados à educação e dos resultados que recebemos em troca. Trata-se não apenas de saber o que tem uma escola eficaz, mas também como recuperar uma escola deficiente e como deixar o sistema de ensino mais equânime para alunos oriundos de diferentes contextos socioeconômicos.

Antes de encerrar essa primeira postagem gostaria deixar clara a complexidade do assunto. O próprio termo “escola eficaz” não goza de consenso conceitual. O que é uma escola eficaz para uma sociedade pode não ser para outra. Uma escola pode ser eficaz de diversas maneiras: metodologicamente, socialmente, higienicamente, fisicamente, cognitivamente etc. Hitler, por exemplo, implementou inúmeras escolas eficazes (na concepção dele) para a juventude nazista.Para não abrir um debate filosófico sem fim, considero escola eficaz aquela que, em primeiro lugar, consegue agregar competências a todos os seus alunos, independentemente do nível em que ingressaram nela. Exemplificando e explicitando: na escola eficaz o aluno sai com mais (de preferência muito mais) competências do que quando entrou. Em segundo lugar, as escolas mais eficazes ainda, além de agregar competências aos alunos, conseguem eliminar ou amenizar fatores negativos provenientes da inequidade socioeconômica da origem de seus alunos. Exemplificando e explicitando: na escola mais eficaz ainda, além de agregarem competência, a diferença de competências dos alunos tende a diminuir ou zerar, independentemente da origem socioeconômica. Por último, as escolas super-eficazes são aquelas que agregam competência ao aluno, reduzem ou eliminam diferenças e fazem isso com menos recursos.

Um comentário:

Alice Senna disse...

Olá! Mais um bom tema você nos apresenta. Convergente com o conceito defendido por Nigel Brooke e Francisco Soares a respeito da escola eficaz, seu texto é bastante elucidativo. Estarei atenta aos próximos. Mas, vale ressaltar que nessa mudança de perspectiva, os dirigentes escolares passaram a assumir uma grande responsabilidade: assegurar meios para que a escola, de fato, cumprisse com a sua finalidade social. E as secretarias, elas revisaram a sua forma de funcoinamento, sendo ágeis e eficientes em seu apoio às escolas para que os resultados pudessem, de fato, ser alcançados? Se a escola é complexa, imagina o sistema. Bjss

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